quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Bolsonaro, um presente de Natal

     O presidente Bolsonaro fez o tradicional pronunciamento de Natal em cadeia nacional de rádio e TV, acompanhado da esposa Michele.
     Se muitos desligaram suas TVs no momento, os mais ardorosos fãs viram no programa um ganho natalino. Apenas li notícias, que me proporcionaram analisar sobre alguns destaques  a serem dissertados aqui.
     Como a tese da suposta ausência de corrupção, segundo a qual não houve escândalos em seu governo "porque a esquerda não está mais no poder".
     Caso de raciocínio limitado (RL): Portugal é governado pela Geringonça, uma esquerda democrática. Ironicamente, morada de alguns "coxinhas" brasileiros.
     Os países escandinavos são internamente social-democratas com tendência socialista, e invejavelmente desenvolvidos.
     Não é que não haja corrupção nesses países, mas a forte punitividade e o controle popular dos gastos e serviços públicos a inibem ao máximo.
     Outro destaque é a tese da ausência de ideologia de seu governo. Eis uma explosão de doces sabores da ironia, em tópicos:
     - Aparelhamento das instituições públicas ocupando-as com uma horda de militares;
     - "Despetização" (demissão sumária de servidores com suposto perfil 'petista');
     - Investimento em escolas cívico-militares com militares ocupando cargos de gestão;
     - Policiamento ostensivo para controle (repressão) em escolas públicas de periferia;
     - Tentativas de intervenção em CEFETs havendo derrotas memoráveis no Rio;
     - Interferência em eleições para reitor impedindo o voto estudantil e nomeando o rejeitado pelos eleitores;
     - Proposta de intervenção militar em cargos de direção em hospitais federais;
     - Censura a certas propagandas de órgãos públicos que insinuassem ideias "de esquerda";
     - Censura a várias manifestações artísticas e culturais, rotulando-as de "esquerdistas";
     - Censura aos dados científicos do INPE sobre a destruição da Amazônia;
     - Incentivo, direto ou não, à destruição ambiental e genocídio de indígenas e quilombolas;
     - Na ONU: simpatia à política de restrição de direitos sexuais e reprodutivos da mulher;
     - Eventos na Hungria de promoção de políticas ultraconservadores de costumes;
     - Políticas contra os direitos sexuais e reprodutivos da mulher pelo ministério de Damares;
     - Proposta de promover a religião cristã evangélica como centro de políticas de Estado;
     - Apoio à repressão policial a movimentos sociais e controle em periferias pobres;
     - Cortes orçamentários em serviços públicos essenciais, não bastando a PEC 95 de Temer;
     - Congelamento prorrogado de salários de servidores do Executivo;
     - Recusa em dialogar com políticos de oposição como os governadores de alguns Estados nordestinos, senadores e deputados.
     As consequências já são vistas: aumento dos feminicídios e crimes de ódio contra minorias em geral e precarização crescente dos serviços públicos essenciais.
     Embora seja um reflexo de nossos valores distorcidos, Bolsonaro deve ser responsabilizado pelo aumento dos problemas em seu governo. Já está na mira do Tribunal de Haia.
     Mas vale um dado: Bolsonaro é esse presente de Natal político que temos.

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