domingo, 29 de dezembro de 2019

Avaliação de um governo muito pessoal

     2019 vai chegando ao seu fim. É o momento da análise retrospectiva.
     Foi um ano peculiar no tema político, que após tanto tempo de pouco agito detonou o ápice da tempestade dialógica.
     Daí a riqueza de fatos políticos em retrospectiva, agrupados em estilo e personalidade.
     Na noite do dia de posse foi publicado o primeiro decreto de Bolsonaro, sem aviso prévio: revela-se um governo de estilo autocrático, via decretos e medidas provisórias.
     Para seus aliados e fãs, "é normal de militar". Para opositores, autoritarismo que afronta o Estado democrático de direito. Para analistas, um estilo avesso ao diálogo prévio.
     Em um ano, Bolsonaro foi o presidente que mais emitiu decretos e medidas provisórias, o que não significa, necessariamente, competência. Pode até revelar o contrário.
     Sem dúvidas, a grande qualidade tem sido a iniciativa - o que não faltou aos governantes anteriores.
     É um estilo conservador em costumes, valorizando a família heteronormativa cristã pura e de bens, em detrimento das demais, na agenda moralista pregada por instituições evangélicas de Malafaia, Macedo e outros dessa linha.
     Slogan frequente da direita, o "cidadão de bem" tem sido retratado como o vindo de família supradescrita. Tal exemplo é criticado pela oposição, que relativiza o sentido do conceito e aponta a grande massa popular que movimenta a economia e paga impostos.
     Numerosos conselhos populares foram extintos, fornecimento de medicamentos ao SUS quase zerados, políticas de direitos de LGBTQ+, mulheres e HIV-positivos ferradas.
     Resultado: aumento dos crimes de ódio a minorias étnicas, religiosas, sexuais e culturais.
     Na economia vale o agressivo liberalismo do ministro Paulo Guedes que transfere serviços públicos ao mercado. Não importam as consequências sociais.
     Resultado: piora dos já precários serviços públicos essenciais, perda de benefícios e direitos sociais, e maior concentração de renda com empobrecimento das camadas trabalhadoras.
     A segurança pública também sentiu alguns efeitos: a concentração do serviço para castas mais altas tornaram as massas populares mais vulneráveis à violência urbana.
     Tal vulnerabilidade aumenta com a reduzida possibilidade dos assalariados de terem uma arma lícita para se defenderem: só as castas mais abastadas o conseguem legalmente.
     Pelo conspiracionista Olavo de Carvalho, guru do governo, a anticiência ganha força. Os resultados: pesquisas científicas e tecnológicas, universidades e escolas básicas como um todo carenciadas por vários cortes financeiros, MCT do astronauta invisibilizado.
     Para quem não sabe: os ministros Ernesto Araújo e Abrahan Weintraub são olavistas.
     Tal estilo conservador cristocêntrico, ultraneoliberal e anticientífico revela traços pessoais do presidente: autoritário, intransigente, impulsivo, impositivo e avessa ao diálogo, que vê na oposição e na diversidade inimigas mortais.
     A intolerância se traduz na omissão à violência sobre populações indígenas, quilombolas, pobres, minorias religiosas e LGBTs. Com mulheres ele é prazerosamente grosseiro.
     Assustadora indiferença à morte de personalidades que marcaram a vida da nação. Porem, esboçou pesar com o suicídio de um rapper bolsonarista bombado em São Paulo após quase matar a amante grávida. Ou seja, manifesta-se quando lhe interessa.
     Enfim, esse foi um governo que se autodeclarou personalista, centrado na personalidade e nas vontades do seu governante. Às custas da nação.
     E que venha 2020.
Revisado e publicado em 29 de dezembro.
     

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