terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Como a PM aborda: uma questão de classe

     A ação policial que matou 9 jovens por asfixia mecânica e trauma na coluna em Paraisópolis, na capital paulista, repercutiu tão mal no exterior quanto aqui no Brasil. 
     As críticas pesaram nos métodos adotados e pelo fato de ter ocorrido durante evento com alvará da prefeitura. E também contra a homenagem do governador João Doria à PM... pelo feito.
     De fato, nada mais evitável do que uma abordagem recheada de crueldade, por  motivo torpe (som alto em altas horas), e a homenagem péssima feita após as críticas à operação.
     E com certeza o reclame de som alto saiu do rico bairro Morumbi, que tem divisa com a citada comunidade.
     Quanto ao som alto como fator da pífia operação, e Paraisópolis faz divisa com o bairro Morumbi, é certo que o reclame tenha saído deste último.
     Ontem foi noticiado que o comandante da PM-SP declarou que a "abordagem num bairro de classe média-alta tem que ser diferente da ocorrente em locais pobres". Outra bomba crítica ao lado de alguns elogios.
     À primeira vista surpreende a fala do comandante logo após tão criticada ação. Só que não: é mais velha do que muitos imaginam.
     Não é de hoje que as forças militares operam de duas formas, a depender do status. Ronda de segurança em bairros abastados, operações repressivas em locais pobres. É a militarização.
     Há um século, a militarização serviu para reprimir o samba e cultos afro públicos. Hoje, alega-se o crime, em especial tráfico e porte de drogas. Na ditadura militar, para perseguir, prender, coagir, torturar e matar quem fosse contra o regime.
     A ditadura não criou a militarização, apenas a recrudesceu para satisfazer fins ideológicos e empresariais. E houve diferença: exílio da classe intelectual mais alta, e aos mais pobres, tortura e morte nas prisões.
     Mas, na era da informação, em que nova mentalidade sobre vários temas pode evoluir, não se esperaria mesmo ouvir tão escancarada fala, partindo de alguém a serviço da população toda, conforme a lei.
     Só que devemos nos lembrar de que há leis não escritas, e mais poderosas. Uma delas é a de como a polícia deve abordar, pois é tão apenas uma questão de classe.



     

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...