Alvim "nazista": ousadia ou revelação?
Nessa semana foi noticiada a demissão do secretário especial de Cultura Roberto Alvim. O motivo foi Alvim em vídeo, parafrasear um famoso dizer de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista.
A notícia foi largamente divulgada pelo telejornal vespertino Jornal Hoje em 17/1.
Bolsonaro alegou em público tê-lo demitido em função da apologia do nazismo, negada por Alvim, que disse ter achado a frase inspiradora para a visão do atual governo sobre a arte.
Mas, quem é Roberto Alvim? O que tornaria um nome aclamado na dramaturgia para ser bem visto por Jair Bolsonaro?
Roberto Alvim é nome artístico do carioca Roberto Rego Pinheiro, nascido em 1973 e formado dramaturgo pela Casa de Artes Laranjeiras (CAL), no bairro do mesmo nome.
Foi diretor do Teatro Ziembinski e co-fundador do Club Noir de São Paulo. Este clube foi fechado quando ele foi convidado por Bolsonaro para presidir a Funarte.
Ainda à frente do Club, contraiu um tumor intestinal, extirpado em cirurgia. Considerou a notícia de cura um milagre e se tornou terrivelmente cristão - perfil que atraiu Bolsonaro, que o convidou para presidir a Funarte e, depois, a Secretaria Especial da Cultura.
Nas duas direções não fez nada senão viralizar na internet com suas pérolas fatalistas sobre certos gêneros musicais e a fatal paráfrase. A proposta de arte nacionalista? Nem escreveu.
Assim como o colega atual da Funarte viralizou ao dizer que rock e funk são "satânicos" por "incitar ao sexo [...], ao aborto", com largo apoio de Marco Feliciano, Alvim viralizou com a paráfrase a Goebbels, única nota escrita sobre a tal arte nacionalista.
Quando a coisa bombou nas redes sociais, Alvim correu para justificar que não foi levado por simpatia ao nazismo, mas por inspiração "romântica" na frase.
Embora seja verdade o caráter fatal da paráfrase como gota d'água para a demissão, muita calma nessa hora: gota d'água não é a causa obrigatória. Complicado? Não.
Roberto Alvim já estava demissionário ainda quando da paráfrase. Foi divulgado pela mídia que ele sorria ao receber carta de demissão, levando à interpretação geral de ousadia do agora ex-secretário. Mas....
A despeito da mídia ter divulgado a nota governamental pela qual "não tolera extremismo de qualquer forma", é bom saber que Bolsonaro e Hitler partilham características em comum.
Racismo, LGBTQIfobia, porofobia (aversão aos pobres), cristocentrismo, cristofascismo, intolerância religiosa, anticomunismo extremo, pseudomoralismo, anticiência, políticas de extremos, ambição de guerra e autoglória são destaques.
Não é mera teoria: em numerosos momentos em 1 ano de governo, essas características se ressaltaram através de declarações do presidente, propostas aprovadas e práticas políticas em andamento.
Hitler se inflava em muitos discursos e gestos eufóricos levando multidões à catarse. Aqui, Bolsonaro faz o mesmo, insultando qualquer um diferente, recebendo aplausos fervorosos.
Hitler culpava os judeus, comunistas, intelectuais e LGBTQs pela estagnação da economia e da moral alemãs. Bolsonaro culpa os artistas, os das esquerdas e os LGBTQs pela mesma crise.
Os seguidores de Hitler praticavam violência gratuita contra quem fosse de qualquer dos grupos-alvo; os "bolsominions" fazem o mesmo, e ganham novos alvos: os músicos de rock e funk (incluindo aqui rap e hip-hop, "tudo funk").
Enfim, com tantos e outros apontamentos não postos aqui para não alongar demais o texto, a conclusão mais aceita será a de que a paráfrase de Alvim a Goebbels serviu para revelar qual é a personalidade do governo e do presidente e família.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
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