domingo, 19 de janeiro de 2020

Escola do Rio e livros: descarte ou descaso?

     O Jornal Extra on-line de 16/1/2020 publicou notícia sobre uma escola carioca localizada em Santa Tereza que havia descartado várias caixas de livros. O fato barulhento despertou a atenção da vizinhança.
     Jogadas de janela do terceiro andar do prédio, as caixas foram destruídas pelo impacto, no chão de um ginásio vazio, mostrando grande quantidade de conteúdo.
     A maior parte fora previamente picotada, mas havia um ou outro quase inteiro revelando, entre outros temas, clássicos de nossa literatura, como A Moreninha.
     Foi feito um vídeo de catadores de cooperativa de recicláveis recolhendo os restos. O vídeo foi enviado à imprensa.
     Indagada, a diretora alegou dois motivos do descarte: os livros estavam em péssimo estado, e a biblioteca foi desativada pelo risco de ser atingida por uma rocha no morro com as fortes chuvas.
     Tal alegação faz sentido, visto que esporos de mofo e ácaros podem causar alergia durante o manuseio, e eventuais danos estruturais no prédio poderiam causar uma tragédia.
     Ao ter ciência do fato, o secretário de Educação municipal estranhou o descarte se prévio relatório com lista de livros e os motivos a ser enviado à entidade, e prometeu sindicância.
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     A notícia resumida acima objetiva a reflexão no sentido de mostrar a educação como tema no cerne das discussões no atual contexto sociopolítico.
     Foi na diretiva educacional que surgiu o popular Escola sem Partido, na acusação de que os docentes seriam do PT e estariam "doutrinando" os alunos para "impor o comunismo". Sem provas, claro.
     Criado por um nome da bancada da bíblia, o projeto objetiva a proibição ao docente de falar sobre política, em suposto "respeito às convicções ideológicas e religiosas dos alunos". Assim, o docente "rebelde" seria punido ou demitido.
     Com o crescente número de apoiadores na população, o Escola sem Partido acabou caindo num debate da comissão de educação da Câmara dos Deputados, em 2017. Ficou nisso.
     Todavia, alguns prefeitos o adotaram para suas escolas, agradando àqueles que os elegeram. Em Vassouras (RJ), relata-se que professores de biologia e geografia teriam sido vetados de ministrar sobre evolução e política.
     No citado ano, uma importante parcela da sociedade apoiou o projeto. Era uma maioria de populares de fé evangélica e outra bem menor, mas abastada e dominante, não praticante dessa fé necessariamente.
     Foi essa parcela somada que elegeu Bolsonaro para presidente da República e a retomada do assunto no Congresso, gerando movimentos da oposição que acusavam de censura ao diálogo em sala de aula.
     Como o Rio de Janeiro foi um dos Estados que mais pesaram na eleição de Bolsonaro, não surpreendem os casos acima, mesmo sem confirmação.
     E não seria de se admirar se houver, hipoteticamente, a revelação de que o caso reportado acima tivesse sido movido de fato pela ideologia distorcida e cristocêntrica que quer implantar a mordaça na educação. Quem sabe.
   
     
     

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