Com 2019 prestes a fechar as cortinas, o presidente Jair Bolsonaro disse pretender fazer uma verdadeira revolução educacional.
Isso após antes rotular o patrono da Educação brasileira, Paulo Freire, de energúmeno.
Sabemos que tal notícia pode ter sido uma cortina de fumaça para encobrir notícias como as relativas ao seu possível impeachment, ou políticas que pretende impôr futuramente, mas é impossível escapar da análise a essa pérola.
Além das aberrações do ministro Weintraub, a nova proposta educativa de iniciativa do presidente, logo após se autoproclamar patrono da educação substituindo Freire, repousa em novo livro didático.
Em grotesca tentativa de alegar a sua consideração de que a pedagogia de Freire "deseduca", ele declarou que os livros atuais "têm um amontoado de muita coisa escrita". Redundante.
Claro que a declaração caiu na graça dos criadores de memes que se propagam como praga nas redes sociais. Os principais incluem exemplos de "livros do presidente" sem nada escrito.
Pode parecer bobagem escrever alguma análise nessas linhas, mas em verdade há sentido na situação, e alguns tópicos básicos podem explicar:
- O projeto Escola sem Partido, nome popular de uma proposta de lei que dispõe de inibir a iniciativa dos professores na abordagem de assuntos sobre política, "em respeito às convicções políticas e religiosas de cada aluno". Pela proposta, os alunos poderiam filmar os docentes para fins de denúncia.
A alegação para a proposta acima, cujas primeiras discussões no Congresso surgiram em 2017, foi a de que durante os governos petistas os professores fizeram "doutrinar" os alunos politicamente, o que não corresponde à verdade.
Os professores negaram tal conduta alegando não haver tradição de educação política e que, quando é possível abordar o tema, a intenção é o debate para fins de conhecimento.
Além disso, eles apontaram que o debate político, quando ocorre, não entra em tema de cunho religioso, que é pauta do Ensino Religioso, por sua vez uma disciplina facultativa, daí muitas escolas não a adotarem.
E por último, a proposta de filmagem, do ex-ministro Ricardo Vélez, incentivaria a afronta entre professor e aluno, além de promover perseguição política gratuita culminando em demissão dos professores da rede pública.
- Revisionismo em História: o ensino de história tem sido atacado por Bolsonaro em especial quanto à abordagem da ditadura militar, daí o mesmo ter insinuado tempos atrás sobre o "revisionismo" ou, se impossível este, omitir os aspectos negativos do período.
Como entre os professores de História há muitos especialistas na área, aponta-se não ter por que revisar a história do regime militar ou omitir-lhes os pontos negativos. Os fatos mostrados já são sobejamente conhecidos, com inúmeras provas. A omissão dos fatos negativos, por sua vez, representa censura, afrontando a política educativa democrática.
Aproveitando a onda, o deputado pastor Marco Feliciano propôs revisionismo em Ciências e em Biologia, de modo a inibir conteúdos sobre aparelho reprodutivo e contracepção, bem como impor o Criacionismo como teoria da origem da vida, confrontando a evolução darwiniana.
Professores dessas áreas se opuseram, claro, explicando que Criacionismo não é teoria científica e que está no escopo religioso. Sobre reprodução e contracepção, há relatos de livros com páginas grampeadas nessas para se omitir o tema no ensino. Uma ilegalidade.
Quanto à recente declaração de Bolsonaro sobre o suposto excesso de conteúdo, a alegação pode residir na falta do hábito de leitura dos estudantes. Apesar da veracidade do problema em si, a coisa pode mudar.
Pois, dada a impopularidade crescente do governante, é possível que a declaração surta exatamente o efeito contrário. Afinal, a declaração de Bolsonaro prova q ele não lê nadinha de nada de nada mesmo.
Segundo um provérbio popular, "cabeça vazia é oficina do diabo". Exatamente a cabeça do presidente.
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