A esquerda realmente morreu?
Recentemente, em 2/02/2020 o renomado filósofo e influencer Vladimir Safatle fez uma afirmação em tom bem categórico: "a esquerda morreu", explicando em sua visão como isso ocorreu.
A afirmação é compreensível, haja visto a passividade, pelo menos aparente, dos grupos de esquerda face à dominância do bolsonarismo, que conta ainda com amplo apoio no Congresso e ainda entre a sua cota de populares fanáticos.
A oposição tem no PT, PCdoB e PSol os principais representantes no Legislativo. Soma-se a estes gatos pingados da Rede e, de certa forma, PDT. Porém, há ampla desvantagem numérica em relação à maioria liberal e pró-governo.
Todavia, alguns oposicionistas têm apresentado forte presença ativa em tribuna. Destacam-se Glauber Braga, Marcelo Freixo, Sâmia Bonfim e Davi Miranda (PSol), Jandira Feghali (PCdoB), Fabiano Cantarato e o senador Randolfe Rodrigues (Rede).
Vale lembrar dos psolistas veteranos, o senador Chico Alencar e o deputado Ivan Valente. No PT se insurgem os deputados Arthur Lira, Paulo Pimenta e Zeca Dirceu, e o bom senador Paulo Paim. Sob o manto de Lula, que arrasta multidões por onde vai.
De fato, a presença de espírito desses nomes parece fazer diferença, pois incomoda bastante o governo com seus discursos e acareações perturbadoras nas convocações para explicar as propostas e em CPIs.
Os parlamentares estendem a sua presença em postagens nas redes sociais e em eventos públicos de esquerda ou culturais, e palestras, sempre quando disponíveis. Às vezes, com a presença de Lula, claro.
Por fora, vale lembrar de outro nome, Guilherme Boulos, líder do MTST e ex-candidato do PSol à presidência, bem acompanhado da poderosa líder indígena Sonia Guajajara. Suas falas sensatas têm incomodado fortemente os pró-Bolsonaro.
Todavia, tudo parece inócuo, pois a direita bolsonarista massacrou em alguns estados nos votos em 2018. Desde então o regime necropolítico avança e, ao contrário dos chilenos, os brasileiros parecem ter ter se desanimado de protestar.
Mas a esquerda não morreu. Ela é mosaicada em muitos grupos, radicais ou não, que vivem a se discordar entre si e quase todos longe da base popular que originou a própria esquerda. A elite desta, por exemplo, se foca muito nas eleições.
O foco no voto é compreensível, afinal estamos em ano de eleição, por conta do forte lobby bolsonarista usado como marketing eleitoreiro pela maioria dos políticos de direita. Um desafio e tanto para a esquerda desunida.
O desafio é a soma de polarização intensa, fervor popular bolsonarista e a desconfiança de muitos simpáticos à esquerda com a possibilidade de atender aos temas mais sensíveis, como saúde, educação e cultura, infraestrutura, etc.
Mas é preciso enfrentar os reveses. É a oportunidade da esquerda que, mesmo tão dividida, mostrar sua política em comum e, com a cara e a coragem de mostrar, a cada voto, que está mais viva do que nunca.
Afinal, a esquerda tem um triunfo nas mãos e não sabe: ela existe, se alimenta por culpa da própria direita, dada a natural existência das divergências que fortalecem a democracia.
Boa sorte nessa empreitada!
Hasta la vista!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)
A GUERRA POVO X CONGRESSO A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...

-
Brasil, 1985 . As TVs mostravam, pela 1ª vez, cenas da crise na saúde pública. Acompanhado da mídia, o ex-ministro Alceni Guerra en...
-
Especial Saúde Pública Brasília, 2024 : enquanto o Ministério da Saúde comemorou os 34 anos da materialização do SUS e 36 a...
-
A breve era Collor é mais lembrada pelos fatos negativos. Porém, houve os positivos de peso. Um foi a Lei 8080/1990 , que cria o S...
-
Nísia sai, entra Padilha. E agora? Todos os governos passam por reforma ministerial anualmente e Lula 3 não é exceção. O destaqu...
-
Fakes midiáticos: STF dá o recado No mundo midiático, os falsetes sempre acompanhavam as divulgações de fatos históricos e co...
-
#Curiosidade: Microscópio e microscopia eletrônica Sexto artigo da categoria #Curiosidades , que aborda sobre um dos mais extraordinários in...
-
"E daí?" : o esgar genocida "E daí? Lamento, não posso fazer nada. Me chamo Messias, mas não faço milagre" . ...
-
Caso Mari Ferrer: patriarcalismo ou interesse? Há uma semana explodiu na internet matérias sobre a audiência online envolvendo por ação...
-
Anonymous: antifas virtuais? Na última semana, logo após a explosão de manifestações nos EUA por conta da morte do cidadão negro Ge...
-
Quando se fala em saúde pública, logo se pensa nas unidades municipais e estaduais. Normal: elas estão em mais de 5000 cidades do p...
Nenhum comentário:
Postar um comentário