terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O bolsonarismo pós-Bolsonaro

     Enquanto o governo Bolsonaro avança em algumas políticas de desmonte do Estado visando aumentar privilégios centrais, as esquerdas vão se movimentando nesse ano de eleições nos municípios.
     Sem sombra de dúvidas, os anos eleitorais sempre geram novas possibilidades, com motivos que podem soar favoráveis, como o clamor popular por nomes novos capazes de buscar soluções práticas para os problemas sociais mais urgentes.
     Disso se aproveitou a direita, que em duas frentes conseguiu eleger nomes novos como os populistas bravateiros Bolsonaro e Witzel, e os de movimentos financiados por bilionários, como o MBL de Katiguiri e o Renova de Tábata Amaral e Felipe Rigoni.
     Que decepcionaram, na Câmara, ao votarem SIM à reforma da previdência, que praticamente impossibilita a aposentadoria da massa trabalhadora.
     Dividida em grupos que se discordam em detalhes mínimos ao invés de se unir em prol de políticas em comum, a esquerda parece se esquecer de se aproximar de quem a originou: a base popular, que clama por nomes que invistam no social.
     E pensar que, ironicamente, Lula foi eleito duas vezes usando as estratégias da direita. PT e a esquerda parecem ter se esquecido disso.
     A necropolítica de Bolsonaro, Witzel e Doria decepconou, mas não abalou o forte sentimento bolsonarista sustentado pelo fã-clube.
     Vinda de Bolsonaro, o bolsonarismo designa ideologia mista de extrema-direita, ultraneoliberalismo, moralismo de costumes, heteronormatividade, cristofascismo, anticiência e aversão a pobres, à mulher e às diversidades.
     Apesar de ministros bolsonaristas como Ernesto Araújo e Abraham Weintraub serem discípulos de Olavo de Carvalho, o olavismo será tratado em artigo posterior como tema.
     O bolsonarismo pode ser explicado, de um lado, na decepção com o fisiologismo político sustentado pelo tucano-petismo; por outro, pela construção histórico-cultural do povo brasileiro, com a dominação dos colonizadores.
     Nesse sentido, a decepção com o fisiologismo no petismo pode ter gerado a decisão pelo voto de protesto que elegeu Bolsonaro, que se rotulava de antipolítico, como explica o professor Nildo Ouriques, da UFSC.
     A primazia da fé cristã sobre as crenças tribais nativas e africanas, visão familiar patrilinear incluindo a provisão moral pelo homem, a intolerância à diversidade são bases históricas a servir de sustentáculo ao bolsonarismo.
     Dois ingredientes poderosos a impulsionar o bolsonarismo, que virou um modelo de comportamento marcado pela formação de grupos de supremacia cristã branca burguesa e aumento da intolerância contra minorias, pobres e mulheres.
     Ou seja, a caixa de Pandora protofascista do bolsonarismo está aberta, plena, o povo seguidor com liberdade maior para mostrar "quem manda no pedaço".
     É bom que as esquerdas considerem que, mesmo que o bolsonarismo recue nos municípios via voto, a caixa de Pandora não fechará tão cedo. Bolsonaro um dia se vai, mas o bolsonarismo ainda pode permanecer nas pessoas por muito tempo.
     E essa permanência pode ser outro grande, se não o mais penoso desafio a ser enfrentado pelos eleitores e eleitos de esquerda.
     
     
     
     
      
     

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