quinta-feira, 26 de março de 2020

Minúsculo ser, grandes lições


     Como foi tratado no artigo anterior, a primeira consequência da pandemia de Covid-19 foi o pânico generalizado nos governantes com a economia, e nos povos, com a vida.  
     O presente artigo, por sua vez, pretende ser uma parte 2 do anterior, em reflexão a partir do que poderia ser aproveitado pela humanidade em caso de possível colapso geral pós-Corona.
     Reflexão filosófica que pode ser interessante, visto que poucos se atentam para além do processo econômico em si. A filosofia liga as questões naturais e humanas. Não é possível refletir dissociando os elementos.
     Nos países mais críticos, com medidas enérgicas da OMS, a curva cai. Dos mais pobres do mundo pouco se sabe; dos politicamente fechados, nada, e nos com governos autocráticos e caóticos se teme nova subida acelerada.
     Tem-se visto desvalorização do real e queda de bolsas no mundo, estimando-se em até U$ 3 trilhões ao fim da pandemia, com quebra de grandes empresas e instituições financeiras, e muita perda de vidas.
     Num sistema onde a vida dos seres humanos se amarrou ao capital, uma coisa acompanha a outra quase instintivamente. E, como alguém observando escondido à espreita, está o fator natural.
     Sim, a natureza. Enquanto se busca qual animal o chinês teia comido ao contrair o vírus, ela tem sido ignorada pela ênfase utilitarista do sistema econômico e sociopolítico vigente.
     A natureza não dá tréguas e já deu numerosas mostras disso, por mais que se tente domá-la. Ela é onipresente, onipotente, onisciente, impalpável mesmo parecendo o contrário.
     Mas, uma causa perfeitamente palpável explicaria o fenômeno Corona: o Homo sapiens virou uma praga - termo evitado publicamente pelos cientistas devido a valores religiosos e culturais no mundo.
     Esse fator explica um fato infeliz, o massacre de 800 mil pessoas (África, 1994). Por trás da crise política governo a luta de bantos pobres com contra os tutsis, grave degradação ambiental que gerou falta de alimentos e água.
     Cientistas descobriram que vírus de mais de 15 mil anos se revelam pelo derretimento das geleiras, e não conseguem ainda mensurar os efeitos do fenômeno e suas consequências.
     As epidemias e pandemias são frutos da degradação ambiental. Foram assim surtos como os de febres hemorrágicas graves na África sub-Saara e na América tropical, a MERS do Oriente Médio e a SARS no Sudeste asiático. O Corona é igual.
     Nesse sentido, os vírus são um dos instrumentos da natureza para controlar as populações via fatalidade pelas suas graves doenças, com o único fim de restaurar, a duras penas, o frágil equilíbrio da biosfera em todo o complexo.
     E o pós-pandemia? Na filosofia, o Corona é visto como instrumento do sistema sociopolítico e econômico neoliberal, que pode levar a uma das três diferentes visões.
     Na visão neoliberal, as pessoas ficarão mais independentes e consumirão mais. O capital não muda com os grandes eventos, pois sabe que alguns governantes o servirão bem com recursos públicos que poderiam salvar milhares de vidas.
     Spoiler necessário: O Banco Central brasileiro, sem pestanejar, mimou os bancos no valor de pouco mais de R$ 1, 2 trilhão. Isso mesmo: mais de R$ 1,2 trilhão. Servidores de baixo escalão e massa popular terão que cobrir o rombo.
     Segundo o marxista Zizek, as pessoas apelarão ao coletivismo para sobreviverem. Para o chinês Chul-Han, medidas sociais intensivas, solidárias e democráticas serão a solução para o caos. Otimismo demais? Acreditem: já ocorrem exemplos isolados.
     Ainda em plena pandemia, mesmo isolados em seus lares, as pessoas aplaudiram os que seguem tentando salvar vidas ou cantando para os mais tristes, na Europa e na China.
     Bem, pode ser. No interior de MG, famílias populares fazem escambo entre si conforme a necessidade, para estarem bem com as medidas profiláticas já tomadas pelas prefeituras. E mineiro é assim: quando decide é austero mesmo.
     É possível que, visando preparo para novas possibilidades epidêmicas, se invista mais em medidas educativas de proteção, de modo que as pessoas possam seguir sem pânico quando a nova epidemia chegar.
     Sim, tudo isso é muito possível, como também o contrário se os Estados priorizarem mimar o capital inútil do mercado financeiro em detrimento da própria vida humana. E sem vidas humanas o próprio capital não sobrevive.
     Ficam aí as grandes lições perfeitamente cabíveis promovidas pelo microscópico Corona.
     
     
     
     

      
     

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