terça-feira, 31 de março de 2020

Projeções Corona vs Bolsonaro

     Conforme narrado no artigo anterior, as relações entre Jair Bolsonaro e Henrique Mandetta estão bastante tensas, tendo a pandemia de Covid-19 como assunto. Mesmo assim o ministro, como médico, insiste em seguir a OMS.
     Enquanto isso, Bolsonaro fez um tour por Brasília e suas adjacências num encontro com populares, com muitos dos quais tirou fotos e teve contatos físicos. O evento foi acompanhado por jornalistas de várias mídias.
     O presidente minimizou o problema mais uma vez, insistiu na propaganda da cloroquina como o caminho da cura, e disse que "todos vamos morrer um dia".
     Enquanto isso também, outras equipes jornalísticas, como a da Globo News, divulgavam atualizações estatísticas do Ministério da Saúde sobre infectados, hospitalizados e mortos no Brasil e Estados.
     O exterior também estava de olho nas estatísticas brasileiras do Corona. Recentemente, saiu um estudo do Imperial College de Londres, estimando os números de mortos correlacionando com a medida adotada. A imagem acima se refere a este estudo.
     No isolamento intensivo, a estimativa média de 44 mil óbitos seria baixa em relação ao total da população do país. Se só idosos isolados, 529 mil estimados é muito maior. Se isolamento social leve, pouco mais. Mas, sem qualquer isolamento, 1,1 milhão de mortes.
     O estudo revela dois detalhes: o isolamento social não é milagre, mas inibe o surto; e o idoso isolado aponta que o maior problema não é a faixa etária, mas o grupo de risco por doenças crônicas prévias, neoplasia, gravidez e imunodepressão.
     O status brasileiro tem sido de isolamento leve, que agora se intensifica, após um boom dos números de infectados e mortos no Sudeste, admitido pelo MS. Mas são vários motivos que agravam a desconfiança aos números oficiais.
     A promiscuidade habitacional nos cinturões pobres crônicos (famílias grandes em espaços exíguos), de baixo acesso à higienização, e a exposição da crescente população sem-teto à desnutrição e patógenos perigosos.
     Resistência popular inicial às primeiras medidas dos governadores, recursos escassos de EPI para profissionais de saúde e restrição normativa de testagem sorológica a pacientes com sintomas sugestivos de Covid-19, contrária à OMS.
     E, como se não bastasse, a prioridade em mimar banqueiros, agora em vergonhosa cifra de R$ 1,2 trilhão, negação de recursos à saúde e a vergonhosa posição do presidente e de muitos da classe patronal brasileira, os únicos contrários no mundo à OMS.
     A mídia revela o mundo subnotificado, na dor das famílias com a perda de seus entes que morreram com sintomas gripais, sem testagem e, daí, sem diagnóstico, ficando de fora das estatísticas oficiais do MS.
     Alheio a tudo isso, isolado dos governadores, de boa parte do Legislativo e do mundo, Jair Bolsonaro se infla como líder eleito pelos 39% mais radicais da nação. Não ouve Mandetta, ao contrário das claques políticas citadas.
     Embora se sinta onipotente em desautorizar Mandetta e deteriorar institucionalmente o MS, Bolsonaro se sente um vírus a desafiar o Coronavírus - e ele tem sido, de fato, virulento nas suas ações necropolíticas.
     Mas, deveria estar ciente de que tudo tem um preço. O Corona parece quietinho. Só parece. Pois um dia ele vai deixar, para ele, família, asseclas e o próprio bolsonarismo, as suas lições. Sim, o invisível Corona vai dar seu recado diretamente aos líderes.
Crédito da imagem: Google Imagens
     

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