sexta-feira, 10 de abril de 2020

Análise do (im)pronunciamento necropolítico


     Essa noite houve o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, centrado no assunto do momento que é a pandemia de Covid-19.
     O pronunciamento mal durou cinco minutos, e já foi suficiente para uma análise bastante peculiar. Como é de se esperar dele, mais pelos apontamentos negativos do que positivos.
     Foi a repetição clara de um discurso, em que o presidente agora parece reconhecer a pandemia, mas mal escondendo o que realmente considera sobre ela.
     Pandemia: o presidente parece agora reconhecer a gravidade do problema, que agora entra na sua fase mais grave de expansão no país - justamente quando ele resolve brigar com Mandetta, ministro da Saúde.
     Hidroxicloroquina (cloroquina): o presidente agiu como garoto-propaganda, garantindo ser a cura para o Covid-19. A atuação do antimalárico e imunomodulador sobre o vírus ainda está sendo estudada, portanto, a afirmação pública do presidente improcede.
     O fármaco tem graves contraindicações, como forte ação deletéria na função renal, daí ser muito perigoso em pacientes predispostos. Acima de 2 gramas pode matar um adulto, o que implica em preferir o uso hospitalar no Covid-19.
     Mas há uma razão forte para tamanha propaganda: o presidente Trump (EUA) também faz o mesmo no seu país, atual epicentro global da pandemia. Claro: ele é sócio da farmacêutica que fabrica o fármaco. Logo, a propaganda é muito interessante...
     Isolamento: Bolsonaro defendeu o isolamento vertical, aplicável somente para os idosos e grupos de risco. Perigoso, pois o Corona é para todos. Daí a OMS, Ministério da Saúde e toda a classe científica recomendarem a forma horizontal, aplicada a todos.
     O isolamento vertical já era defendido pelo presidente, que no rolê em Brasília deixou claro para os populares com quem tirou selfies. Junto ao desgaste com Mandetta, isso estimulou a população a voltar às ruas nos grandes centros urbanos brasileiros.
     Resultado: explosão no número de infectados (mais de 100%) e de mortos (217%) só nos últimos três dias. Em plena semana que a alegria do chocolate deu lugar prévio à dor e ao luto aos familiares das vítimas.
     Os números revelam a maior taxa de mortalidade por Covid-19 do planeta: 5%, contra os 2 a 2,5% da média global. Uma mostra de como a supervalorização da ignorância, em lugar de receber a recomendação médica, pode ser fatal.
     Na fala, o presidente prestou condolências ao povo dos EUA, que enfrenta, sim, uma grande tragédia. Às vítimas brasileiras, muitas delas seus apoiadores, entretanto, conduziu um solene, silencioso e total desprezo.
     O cultivo da ignorância anticientífica, anarcocapitalismo da aliança com Guedes e Trump e tendência genocida contra LGBTQs, camadas populares periféricas urbanas e rurais e povos originários e tradicionais são marcas típicas da necropolítica do bolsonarismo. 
     Portanto, o (im)pronunciamento em cadeia de rádio e TV não surpreende. Apenas reforça outro comportamento revelador da ideologia bolsonarista. Quem viver, verá.
     

Crédito da imagem: meme de isolamento, Google (cedida por r7.com.br)       

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