segunda-feira, 27 de abril de 2020

Subnotificações e indústria da morte

     Todos os dias mídias como a Globo News cobrem estatísticas diárias de confirmações de Covid-19 em infectados e mortos. População segue, alguns indiferentes, muitos chocados e outros tantos desconfiados.
     Enquanto a curva ascende aguda, prefeitos recebem uma carta do Exército perguntando da capacidade de seus cemitérios. Em seguida se noticiam construções de covas e gavetas por coveiros, pedreiros e retroescavadeiras.
     Em Manaus, o prefeito Arthur Virgílio chora com a frieza de Bolsonaro com quem dá o seu máximo para oferecer o último adeus às vítimas com o mínimo de dignidade. 
     O Amazonas é o 4º estado no ranking de vítimas da epidemia de Corona, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.
     Diferente de Mandetta, as atuais autoridades do Ministério da Saúde se limitam em divulgar atualizações das confirmações de Corona. De 20 a 27/04, os mortos saltaram de 2.575 para 4.543, segundo o próprio ministério. Quase o dobro.
     Enquanto isso, em lives, pronunciamentos e ao vivo nas aglomerações populares, Bolsonaro fala da sua santa cloroquina enquanto minimiza o perigo da doença.
     A fala de Bolsonaro só acalma os bolsominions: os muitos relatos de famílias das vítimas sem diagnóstico, hospitais lotados e profissionais de saúde sem EPIs adequados geram forte descrédito popular na instituição.
     Interessante que tudo isso ocorre logo após o soturno empresário Nelson Teich, o popular dr. Morte ou dr. Zumbi, assumir o MS, sem a mínima experiência em saúde pública e tutelado por um general escalado pelo presidente para também maquiar os números.
     É cada vez mais difícil as mídias e as autoridades fecharem os olhos para uma realidade sinistra: a das subnotificações. No Globo de 15/04, entre outras mídias, especialistas admitem que os números reais são muito maiores do que os oficiais.
     As mesmas mídias admitem que as subnotificações saem de cinturões periféricos pobres, onde o poder público é mais escasso e os moradores sofrem com a insuficiência de saneamento básico e com mau acesso a produtos e condições de higiene e moradia.
     A ideologia bolsonarista de desprezo à pandemia, os interesses funerários e de subestimar a realidade da epidemia, a agressividade neoliberal de Guedes e a teimosia de parte da população se convergem para um colapso de saúde pública, social e econômico.
     É no tema econômico, dos interesses do capital financeiro, que essa dança convergente se opera. Daí muitos empresários (alguns deles políticos) apoiarem Bolsonaro em afrouxar o isolamento social e que a população se vire em enfrentar sozinha o vírus.
     E o povo trabalhador, aceitando a ideia de temor da fome e nos cortes de salários, sem receber o coronavoucher, se aglomera em filas imensas à frente da Caixa e da Receita Federal, enfrentando sozinho o perigo invisível.
     Para essas autoridades, empresários e banqueiros o Corona surge como instrumento de uma ideologia fascista neoliberal necropolítica. É a indústria da morte, a serviço do grande capital.
      

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