domingo, 19 de abril de 2020

Nelson Teich e a saúde da economia capitalista

     Com a entrada de Nelson Teich no lugar de Mandetta no Ministério da Saúde, uma nova política relativa à epidemia de Coronavírus já começa a ser ensaiada.
     Tal política, já idealizada por Bolsonaro, foi reforçada pela fala do novo ministro de que a sua política de saúde seria alinhada à do presidente.
     Esse alinhamento pode ser ideológico, ao ponto do pragmatismo: o novo ministro e o chefe se direcionam em salvar a economia de mercado.
     O novo ministro vem sendo criticado como alguém que desconhece a saúde pública - um perfil que Bolsonaro considera adequado para as suas pretensões. 
     Nelson Luiz Speerle Teich é carioca. Formou-se em Medicina na UERJ, se especializou em Oncologia no INCA. Fez MBA em Administração em Saúde na COPPEAD/UFRJ e MBA em Gestão de Negócios no IBMEC.
     COPPEAD é o Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da UFRJ. Já o IBMEC é o Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais. O CV do sujeito mostra a formação bem talhada para um perfil totalmente empresarial.
     Teich fundou o Grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI), que foi comprado em 2015 pela UHG/Amil, e é presidente de honra da ONG ligada ao COI, que presta pesquisas clínicas em oncologia. Foi presidente do COI até 2018.
     Consultor em saúde na campanha de Bolsonaro, foi convidado por este para ser ministro, mas preferiu assessorar a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do MS. É possível que tenha influenciado nas oscilações do ex-ministro...
     Daí ter sentido as críticas do público opositor sobre a escolha de Teich assumir o MS, que se volta especialmente ao SUS, ainda que o setor privado siga regras de saúde determinadas pelo Ministério.
     Mas, entre os apoiadores, a visão é a de que a formação dele subsidie a gestão da política de saúde pública, a partir de seus conhecimentos. Como Bolsonaro diz, "um técnico".
     Porém, os apoiadores parecem não saber que a atuação do ministro é também política, na nossa cultura. Via de regra, os ministros são nomeados pelo presidente conforme as afinidades políticas. Foi assim com Mandetta. E agora com o próprio Teich.
     Sobre respiradores, Teich deu a entender que faltam recursos, e que deveriam ser usados apenas em casos específicos e graves. Deveria saber que, no cotidiano médico é difícil, se não impossível, mensurar com tanta precisão os casos específicos no Covid-19.
     É interessante que, em relação à pandemia, ele fosse favorável ao isolamento horizontal antes de ser ministro. Agora virou a casaca: isolamento só para idosos, e os mais jovens "ao trabalho, para salvar a economia". Sem mais critérios.
     Ora, como médico, ele sabe que não há regra rigorosa de idade para haver doenças crônicas ou graves, que formam em seus portadores um grupo de risco importante para o Corona.
     Que o diga crianças, adolescentes e adultos jovens que passaram ou passam por eventos de câncer, cardiovasculopatias congênitas ou não, insuficiências específicas como a renal crônica. Não há uma regra em absoluto.
     Um verdadeiro susto na comunidade médica internacional, na qual Teich é conhecido por suas pesquisas numa categoria patológica grave. Como um estudioso desses ignora os riscos inerentes à pandemia, e adota uma postura dessas por mera convicção ideológica?
     Como foi dito acima, um ministro adota um papel político mesmo não sendo político de cargo. A nomeação foi muito conveniente a Bolsonaro e Teich, cuja afinidade aporta novo papel ao Ministério: o da Saúde da Economia Capitalista.
     
     
     

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