sábado, 18 de abril de 2020

Sai Mandetta e entra Teich: a política da incerteza

     O dia 16/04/2020 entrará para os anais de História brasileira por dois motivos: a troca de ministros da saúde em plena explosão de Corona no país. Algo nunca visto antes.
     Transmitido por noticiosos de TV fechada como GloboNews, BandNews, BBC e outras, o discurso de despedida de Mandetta foi acompanhado pela população. Gritos bem entusiásticos de "MITO!!!" ecoaram em contraste com os adversários panelaços nas cidades.
     Se os bolsonaristas amaram o desfecho, os demais segmentos da patuleia tiveram mais nojo ainda. Como o fã-clube é bem menor que o total de eleitores de Bolsonaro, a impopularidade deste aumentou.
     Não dá para saber se o orgulho presidencial vai aguentar mais uma boa dose de rejeição. Só o tempo dirá. Enquanto isso, Mandetta sorri ante à momentânea popularidade.
     Parece um troco espírita: exatamente 4 anos após o SIM à deposição de Dilma Rousseff, ele é demitido por Bolsonaro. A decisão dada no MS, que o popularizou, enciumou o narcísico chefe que queria a direção oposta.
     A treta entre os dois já existia antes, devido às visões opostas sobre o isolamento social. A coisa explodiu porque o presidente não aguentou mais se morder de tantos ciúmes, tornando insuportável o clima para a permanência.
     Mas o detonador foi a entrevista concedida por Mandetta ao dominical global Fantástico, neste dia 12/4. Nele, o ex-ministro disse: "uma dubiedade [...] o povo não sabe se escuta o ministro ou ou se escuta o presidente". Um recado claríssimo e direto.
     Essa entrevista lhe soou como inoportuna, pois em seguida se sentiu ex-ministro, saindo quatro dias depois de meramente cumprir tabela. 
     Do DEM, partido de privatistas, Mandetta já fez apologia à privatização do SUS em sua passagem como deputado, e votou favoravelmente à PEC dos gastos, a popular PEC da Morte criada no governo Temer, em 2017.
     Durante todo o tempo, não houve novas contratações para cobrir o déficit de servidores na saúde pública devido a aposentadorias. A convocação de frente foi um disfarce grotesco para cobrir dispensas por infecção/morte por Covid-19.
     A sua popularidade se deveu por sua campanha pelo isolamento, enfrentando a posição contrária do presidente, que prioriza a economia num momento de preocupação em combater a pandemia: a economia se recupera depois, vidas não.
     E esse momento final pareceu a sua redenção enquanto médico e enquanto homem, numa nova visão, mais humana do SUS, se continuasse ministro. Mas Bolsonaro queria um à sua imagem e semelhança.
     Tomou posse, em seguida, Nelson Speerle Teich, sujeito de expressão e olhar sombrios, médico oncologista e empresário da saúde. Pareceu defender o isolamento horizontal, nem afirmou a suposta eficiência da cloroquina.
     Mas, como todo empresário em saúde, é apologista da privatização do SUS, e foi consultor em saúde na campanha de Bolsonaro na campanha eleitoral de 2018. foi convidado para ser ministro, mas se recusou.
     A recusa, porém, não o impediu de trabalhar como elemento da equipe de gestão Mandetta no MS. O que pode ter gerado subsídios para a oscilação do ex-ministro na questão da crise do Corona.
     Se antes enfatizava o valor do isolamento horizontal, agora não se sabe: durante o discurso de posse prometeu se alinhar com o presidente, prometendo participar dos tratamentos com a cloroquina do amado megaempresário Donald Trump.
     É interessante que justamente nesse momento que o Exército Brasileiro enviou comunicado aos municípios fluminenses sobre as capacidades dos cemitérios locais... exemplo que decerto se estenderá por todo o Brasil.
     Mas, tudo ainda são incertezas. Quem viver, verá o desfecho final.


     

     
     
     


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