segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Reflexão: o novo Bolsonaro e o PT

     O título acima e a montagem ao lado vieram por conta de uma reflexão que me vem ocorrendo no acompanhamentos do trânsito político recente, a partir das investigações determinadas pelo STF sobre os Bolsonaro e seus seguidores até os fatos mais frescos.
     Nos últimos dias, os brasileiros assistiram a uma novidade que vem despertando debates nas redes on-line: a mudança de Bolsonaro. Nesses diálogos intensos que valeram algumas análises importantes no jornalismo, bem como algumas contidas em canais mais sérios no Youtube. 
     Análises estas que inspirariam a reflexão neste artigo, numa junção dos informes acessados nestas plataformas. Parece complicado, mas no fundo não é. E o resultado da reflexão pode parecer desanimador, mas a intenção é alertar para o contrário.
     O Bolsonaro atual, apelidado de "paz e amor", tomou lugar do figurão bravateiro, grosso e preconceituoso que marcou mais de um ano de seu mandato e que pareceu ter contribuído para tornar sua situação mais delicada do que fortalecida, evidenciada nos mais de 50 pedidos de impeachment e seis denúncias ao TPI por genocídio.
     A popularidade do presidente se reduziu dos 37% iniciais a uns 20%. Segundo pesquisa do DataFolha, seu governo era reprovado por 54%. Evidências de ligações com milícias e seus crimes, rede de fake news, "rachadinhas", negócios ilícitos, etc., fizeram o STF mais na cola e aumentaram seu isolamento político.
     A repercussão desses fatos atingiu o exterior tanto quanto as questões socioambientais e o descaso com a saúde pública na pandemia de Covid, isolando-o perante o mundo e ameaçando a já delicada economia do país, tendo-se aí a ajudinha do irresponsável socioeconômico Paulo Guedes. Cansou.
     Era preciso um estratagema para, na medida do possível, reverter um pouco a coisa. Então, recorreu ao marketing pessoal. Apostou em alimentar o carisma, embora menor do que o de Lula, aos poucos corroído quase totalmente pela estampa grosseira, embora mais realista, do personagem Bolsonaro.
     Mas é sempre bom saber: é nesse estratagema que muitos políticos notórios foram eleitos. Como as tradicionais cestas básicas, dentaduras, esmolinhas de R$50, supostos centros sociais, etc. É um plano tão audacioso quanto velho, mas sempre funcional, mesmo que no final não desse em vitória, mas valida a intenção.
     O novo Bolsonaro não é de agora. Se construiu aos poucos, desde meados de junho, em acirramento das investigações. Indiferente à progressão da tragédia do Covid e temendo que a esquerda possa voltar, ele se focou em restaurar sua popularidade para se garantir no páreo eleitoral de 2022.
     No embarque desse carisma ele foi explorar novos horizontes, lá nos rincões nordestinos, considerados tradicionais redutos lulistas. Mas continua a atribuir para si as benfeitorias locais dos petistas, como pavimentação de estradas e a liberação de água em canal de transposição do Velho Chico. 
     A estratégia pareceu ter dado certo, pois nessa campanha de marketing eleitoral, Bolsonaro obteve sensível melhora: na nova pesquisa do DataFolha, 47% aprovam seu governo. O STF pareceu recuar, e há silêncio sobre os processos da cassação da chapa no STE. Sem máscara e alcool gel, provoca aglomerações. Sorri.
     Mas, estamos ainda em meio de 2020, e até 2022 muita água já rolou pelas corredeiras do caudaloso rio político. Nesse meio tempo, muitos fatos ainda ocorrerão, afetando a nascente boa relação entre o novo Bolsonaro e populares ex-contrários. Como, por exemplo, alguém do Nordeste esclarecendo ressalvas sobre as benfeitorias de governos anteriores.
     Muitos locais sabem que a água do canal mostrado nas mídias foi liberada graças à cidade local ter prefeito próximo a Bolsonaro. Como na conturbada era Dilma os prefeitos de direita estavam no poder, houve divergências internas, a água não foi liberada e, por ser obra federal, quem pagou a pior foi a presidente.
     O mote da corrupção que motivou a eleição de Bolsonaro pode se enferrujar na descrença popular até 2022 devido às evidentes ilicitudes financeiras da família. Há o TSE de olho nos processos sobre cassação da chapa por fraude. Há os pedidos de impeachment e as denúncias internacionais. 
     Sim, isso tudo poderá cair na consciência coletiva.
     Mas, como a corrupção é no presente momento muito forte na memória recente, sempre irá respingar sobre o PT. Ao contrário do que pensamos, o Nordeste não é obrigatoriamente Lula. Ser pernambucano e ter dinamizado a economia regional com suas benfeitorias não tornam a região lulista. Em SP há mais gente da esquerda e petistas do que no Nordeste.
     A referência ao Nordeste mostra que Bolsonaro achou a pepita de ouro: o populismo. Em geral o brasileiro é imediatista, explicável nas dificuldades enfrentadas no status da pobreza crescente: a carência de insumos de necessidade mais premente. Daí se satisfazer com as esmolas populistas supracitadas, mesmo que a bonança passe logo, logo.
     Em se tratando de populismo, vale aí uma reflexão sobre os governos petistas, cujos feitos positivos, merecem consideração. Mitigar os desmandos do neoliberalismo não é fácil, e isso Lula fez com inteligência, graças à facilidade de crédito e às políticas sociais que conseguiu fazer e Dilma manteve por bom tempo. Mas, há limitações.
     Retirando-se a questão corrupção, vale muito a reflexão sobre a conduta assumida pelos governantes petistas em relação ao povo. Apesar de certo estreitamento do abismo social com diminuição dos índices de pobreza, permaneceu o ponto crítico: a manutenção do populismo. Daí os reflexos a seguir.
     - A valorização do salário mínimo, a facilidade de crédito e os programas de casa própria possibilitou o surgimento de nova classe de consumidores de bens duráveis, cujo acesso era muito difícil antes. Consumidores em vez de administradores dos recursos possíveis, por falta de educação financeira.
     - Apesar da política de concursos públicos nos mais variados ramos do poder público, não houve suficiência que cobrisse carências de recursos humanos e materiais, e os servidores públicos dos serviços essenciais tiveram que ir às ruas para obterem aumentos salariais que reparassem boa parte da perda nos 8 anos da era FHC.
     - E mesmo com mais servidores, a saúde federal permaneceu concentrada em 70% no Rio de Janeiro e carente em muitas regiões, principalmente por conta do último grande concurso ter ocorrido em 2005 e desde então tem havido contratações temporárias.
     - Apesar do Fundeb ter garantido até 20% a mais de verbas que cobriram até certo ponto algumas carências, faltou uma política de renovação do ensino para a educação científica e laica que pudesse afastar as investidas indevidas do fanatismo, que vemos hoje mais intensas fomentando a anticiência ou a pseudociência;
     - Apesar da democratização dos métodos de ensino desde a LDBEN* de 1996 e do ensino de Sociologia e Filosofia, não foi visto um fomento real a uma educação política que seria tão essencial para a formação do senso crítico nos alunos acerca da situação política e dos atores que a protagonizam. O que poderia contribuir para evitar eleição de mal-intencionados.
     - O populismo petista, tal como o de Bolsonaro e outros políticos anteriores, também foi permissivo com as malversações ocorrentes nos bastidores envolvendo o alto empresariado corruptor e a classe política corrupta.
     Tais tópicos representaram falhas ocorrentes então, mas conforme interpretação deste blog sobre as informações contidas nos links abaixo. A intenção do blog foi interpretar como os governos anteriores, em especial os petistas, de certo modo contribuíram para o florescer do bolsonarismo de hoje, no âmbito político.
     Ah!, não se esqueçam: o Bolsonaro comedido e sorridente de hoje é só uma falácia de marketing, "taokei"?

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*Lei de Diretrizes e Bases da Educação, uma "constituição" a partir da qual se definem todas as leis complementares. É ela que normatiza toda a estrutura educacional. (N. da A.).

Para saber mais:
Fontes UOL: 
https://entendendobolsonaro.blogosfera.uol.com.br/2020/08/14/popularidade-de-bolsonaro-nao-e-burrice-do-povo-e-a-politica-como-ela-e/
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/07/sombra-do-presidente-almirante-influencia-fase-paz-e-amor-de-bolsonaro.shtml
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/leandrocolon/2020/06/isolado-bolsonaro-adota-o-paz-e-amor-por-conveniencia.shtml
https://jc.ne10.uol.com.br/colunas/claudio-humberto/2020/07/11952644-assim-como-bolsonaro-mudou-seu-comportamento-para-estilo--paz-e-amor---stf-tambem-recuou.html
https://economia.uol.com.br/blogs-e-colunas/coluna/reinaldo-polito/2020/07/28/bolsonaro-fecha-a-boca-e-a-popularidade-aumenta-coincidencia.htm

Globo:
https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-cruz/post/2020/07/01/mesmo-em-fase-paz-e-amor-de-bolsonaro-presidente-e-equipe-reclamam-de-decisao-do-tse.ghtml
https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/07/03/bolsonaro-paz-e-amor-busca-aproximacao-com-maia-e-alcolumbre.ghtml
https://epoca.globo.com/guilherme-amado/a-construcao-do-jairzinho-paz-amor-24524225
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/08/06/lives-viram-ultimo-contraponto-a-versao-paz-e-amor-de-bolsonaro.htm

Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=slRtPwAf6P8
https://www.youtube.com/watch?v=2mnM9Um6Z-A
https://www.youtube.com/watch?v=VQOixTIbGMM
https://www.youtube.com/watch?v=b8jCVmHxvN0

Outras fontes:
https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro-paz-e-amor-nao-convence-interlocutores-que-temem-volta-a-quebra-institucional/
https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro/entre-risos-e-afagos-bolsonaro-usa-tom-paz-e-amor-em-discurso-ao-lado-de-dias-toffoli-do-stf/
http://www.tijolaco.net/blog/ninguem-cre-no-jairzinho-paz-e-amor-e-tarde-para-isso/
https://epoca.globo.com/brasil/os-novos-bolsonaristas-forjados-pelos-600-reais-24524420
https://pcdob.org.br/noticias/deputados-repelem-golpismo-de-bolsonaro-revelado-por-piaui/
Pesquisas DataFolha de popularidade: telejornais (GloboNews, Jornal Nacional)

Fotomontagem: Bolsonaro, um dos logotipos do PT e uma das fotos da obra O Pensador, de Rodin, todas retiradas via Google Imagens. A montagem ocorreu para este artigo.
     
     
     

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