sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Witzel e a teia de aranha Bolsonaro


     Para o entendimento do tema, este artigo primeiro visa trazer uma rápida retrospectiva da passagem de Wilson Witzel como governador do estado do Rio de Janeiro.
     Ele era um desconhecido juiz federal atuando no Rio. Se licenciou da magistratura para tentar a fezinha como político. Não foi fácil, diante de nomes como Anthony Garotinho e Eduardo Paes, que lideravam nas intenções de voto.
     Na maior parte do 1º turno esteve obscuro como no tempo de juiz, atrás até de Tarcísio do PSoL. Esperto, Witzel foi na carona de Bolsonaro ao ver o apoio dos fluminenses a este. Batata: como um fenômeno, virou o placar no 2º turno, sendo eleito governador.
     Como Bolsonaro, ostentou sua faixa no início, com orgulho, e depois mostrou a sua sede: no conforto de helicópteros, assistia, e comemorava, as sangrentas operações por snipers da elite da PM nas favelas ou na ponte Rio-Niterói.
     O saldo foi péssimo para a imagem do governador, que não negou sua hostilidade sobre os cidadãos pobres inocentes, os mais expostos alvos diretos dos tiros de fuzil dos snipers da elite da PMERJ. Sniper é um militar especializado em tiros à distância, em treinos de guerra.
     Agora Witzel está afastado a partir de votações favoráveis na Alerj, após as denúncias de malversação de verbas para hospitais de campanha, e por depósito irregular na conta de sua esposa. Considerando tudo um complô, ele pediu vistas ao STJ, mas foi derrotado: teve que se afastar de fato nos 180 dias, pelo rito processual pré-impeachment.
     A história parece ser repentina, mas na prática já era caso a se desenrolar desde o início deste ano, vindo a se aguçar logo após o início do crescimento dos números sobre a pandemia no Brasil, quando os governadores decidiram pelos controles profiláticos da OMS e Bolsonaro (até hoje) negando o flagelo, o que muitos populares têm seguido.
     Mas, as mídias se concentraram em revelar hospitais de campanha vazios ou incompletos (sem materiais ou sem servidores da saúde suficientes). Com o crescimento rápido do flagelo, os hospitais comuns ficaram logo congestionados, com direito à criticada "escolha de Sophia" em Estados mais críticos.
     A suspeita de Witzel parece fazer sentido por dois motivos: já ocorreu insinuações por parte dos bolsominions de que sua ação diante da pandemia era para obter mais verbas da saúde. E se houve tal fato por parte destes fanáticos, significa que a acusação teria partido do Planalto.
     O outro motivo decorre do tal depósito irregular na conta de sua esposa: se ele mereceria ser impichado por isso (além da malversação de verba), como nada ocorreu com o presidente se a esposa Michele também continuou recebendo valores em sua conta mesmo recentemente? E por que Bolsonaro teria adorado o afastamento dele?
     Sabe-se que se vira inimigo de Bolsonaro alguém discordar dele. Birra pueril herdada pelos filhos: o 03 entregou à Câmara PL birrento que criminaliza comunismo e nazismo, inspirado em lei ucraniana em vigor. O alvo é o comunismo, pois o nazismo já é crime há tempos!...
     Witzel é tido como nazista por opositores como Glauber Braga, e por algumas mídias pelo conhecido desprezo a pobres e não-brancos, que não sendo contemplados nas políticas anti-Covid, continuam se expondo ao vírus para manter sustento. Mas, não foi isso que provocou a corrida repentina pelo impeachment.
     Em verdade, o presidente entendeu que as investigações das rachadinhas de seu filho Flávio, comandadas por instituições do RJ, tenham sido "obras" do então governador. A rixa e as acusações de corrupção foram apenas caminhos para haver um plano ainda mais audacioso de Bolsonaro: aparelhar as referidas instituições.
     No momento, segue interino o vice Cláudio Castro, por sua vez tido como o "governador que Bolsonaro pediu aos céus". Faz sentido, e não é só pelo fervor católico: ele é próximo dos Bolsonaro, pessoal e politicamente, podendo mudar as chefias das instituições judiciárias e investigativas no Rio.
     Não é segredo para ninguém que Bolsonaro tem essa ambição, que foi motivo de rixa com o então ministro da justiça Sérgio Moro por conta da chefia da PF-RJ. O presidente sempre teve ambição de montar um Rio de Janeiro à sua maneira, um faroeste sacramentado comandado por milícias como polícia para proteger uma elite armada, e igrejas evangélicas como Estado.
     É claro que, até o momento, não há comprovação do quebra cabeça fático, se mantendo a acusação, decerto consistente, da malversação de verbas públicas para contenção do Corona no Estado, pois a saúde continua precária e em risco de colapso. Mas, até o momento, não foram apresentadas provas substanciais do crime financeiro propriamente dito.
     Mas, também, não há como provar que Bolsonaro não esteja por trás de toda essa teia, teia essa que tem tudo para ter sido, realmente, bem tecida pela família que hoje domina as dependências do Palácio do Planalto. E teia esta que tende a atingir outros governadores. Quem sobreviver, verá o desfecho.


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Fontes: diversas mídias disponíveis (Globo, UOL, Bol, Carta Capital, Blog da Cidadania, e outros noticiosos).
https://blogdacidadania.com.br/2020/09/filho-de-bolsonaro-quer-15-anos-de-prisao-para-comunistas/
https://www.bol.uol.com.br/noticias/2020/09/02/pl-de-eduardo-bolsonaro-quer-criminalizar-apologia-ao-nazismo-e-comunismo.htm
https://revistaforum.com.br/politica/em-projeto-de-lei-eduardo-bolsonaro-tenta-equiparar-comunismo-e-nazismo/
Youtube (posição de Witzel): https://www.youtube.com/watch?v=ql3gfKA9EC0
https://jornalggn.com.br/noticia/as-semelhancas-entre-witzel-e-o-nazista-eichmann/
Vice: https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/314174/claudio-castro-e-o-governador-que-bolsonaro-pediu-.htm



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