#Curiosidade: Evitando o real
Este é o nono artigo da categoria #Curiosidades, do subtipo Transtornos de Personalidade. A intenção de artigos como este é desmistificar e ajudar no combate à discriminação.
****
Você vê uma pessoa amiga, a cumprimenta, e é correspondido, até param para uma rápida prosa, que se direciona a certo assunto que, num repente, parece chocar ou impactar a pessoa.
Você se assusta, afinal sequer lhe passou à mente qualquer intenção. Ao susto vem a vergonha e pede desculpas à sua amizade, que continua a evitar qualquer conversa, e numa despedida rápida vai embora.
Você estranha ainda mais, sem saber que aquele comportamento repentino pode ter explicação: o transtorno de personalidade esquiva ou evitativa. É este o tema da abordagem deste artigo.
-> Conceito, características, associações, diagnóstico
O Transtorno de Personalidade Evitativa ou Esquiva (TPE) é uma desordem psíquica relacionada a habilidades sociais, com temor de avaliações negativas, om sentimento de inadequação e má adaptação diante dessa situação.
O paciente é hipersensível à menor crítica; teme reprovação, humilhação, rejeição; é muito atento às conversas alheias. É tímido, quieto, tem jeito ansioso e limita interações sociais. Pode ser irritável ao evitar o momento. Temendo humilhações, age com forte reserva nas relações afetivas.
Pode recusar promoção de trabalho, evitar reuniões e mesmo novos amigos por temer reprovações, exceto na certeza de se sentir aprovado. Crê que vai passar por testes rigorosos para ser aprovado. Para evitar riscos pessoais ou profissionais novos, exagera algum sintoma ou o suposto perigo.
Tem baixa autoestima. Inibe interações novas por, na verdade, se sentir desagradável ou inferior. Evita falar de si por temer humilhação, rejeição ou crítica. Teme reagir em rubor ou choro às críticas. Na verdade, o paciente se autocritica, mas não tem ciência disso.
É comum o TPE se associar a: depressão maior, distimia, TOC, transtorno de ansiedade (pânico ou fobia social), borderline e dependente1. A soma com fobia social é a mais grave. A etiologia pode ser intrínseca (genética) e/ou ambiental (rejeição ou marginalização na infância).
Acredita-se que o TPE esteja presente em 2,4% na população global, por dados de 2018. No Brasil não há dados atualizados, como se espera nos anuários de saúde mental no país. Ele pode surgir ainda na infância, mas se evidencia mais a partir da vida adulta jovem.
Diagnóstico: critério específico pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (em inglês DSM); análise comportamental do paciente (medo de humilhações e críticas, evitar amizades e situações sociais, sentir-se inepto, reserva excessiva na intimidade, etc.) a partir dos 18 anos.
Tratamento: o TPE é bem tratável, com psicoterapia focada em habilidades sociais, e medicação ansiolítica e antidepressiva.
-> Reflexões finais
É normal evitar ao máximo situações constrangedoras ou desagradáveis, e não tolerar humilhações ou acusações. É uma defesa, que não nos impede de acatar críticas. O que evidencia o patológico são o sentimento de inadequação e a exacerbada autocrítica de origem inconsciente.
A pessoa TPE não deve se envergonhar: a aceitação do transtorno é o primeiro passo contra ele. No trabalho, a Saúde do Trabalhador deve ser informada para proceder adequadamente e criar, se possível, meio de conscientização coletiva para informar e combater estigmas contra o colega afetado.
Apesar de gerar sofrimento, o TPE é bem tratável, podendo ser reversível se o paciente puder seguir as orientações conforme receita. O paciente cm TPE isolada tem vantagens no diagnóstico e prazo de tratamento, os com TPE e outro transtorno demoram mais, dependendo da soma e da gravidade.
Pacientes TPE com depressão são mais apáticos e isolados, e os com ansiedade ou fobia social são os mais graves, pois sobrevêm um pânico social incontrolável, que requer tratamento a longo prazo. Mas, todos os casos são contornáveis.
No Brasil, o problema da psicoterapia muitas vezes é a inacessibilidade econômica: a saúde pública enfrenta grave precariedade de profissionais. Há também a concentração: quase 70% dos servidores da saúde estão no Rio de Janeiro, o que não deve ser muito diferente com os psicoterapeutas.
Mas é fundamental ao paciente se informar sobre unidades de saúde com psicoterapeuta disponível em sua cidade, visando poder marcar alguma sessão, mesmo que seja por meia hora. É uma condição para melhorar a sua qualidade de vida social, e um direito de cidadania.
----
Imagem: Google.
Notas da autoria
1. Será tratado em breve neste blog.
Para saber mais
- https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-da-personalidade-esquiva-tpe
- https://gratular.com.br/2020/07/21/transtorno-de-personalidade-evitativa/
-
Nenhum comentário:
Postar um comentário