terça-feira, 19 de janeiro de 2021

#Curiosidade: sempre a chamar atenção


O tema surge por sugestão de um amigo estudante de Psicologia, que pretende se especializar na área de Psicologia Clínica.
Este é o décimo-primeiro artigo da categoria #Curiosidades, subcategoria Transtornos de Personalidade.
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     Numa roda de conversa entre amigos, num momento de família unida, num comício político ou mesmo durante um culto religioso, há sempre uma pessoa que faz de tudo para chamar a atenção dos demais presentes.
     Ou aquele que, num simples diálogo, o tempo todo impede o outro de falar, mas com vistas a chamar a atenção para si e/ou se impor como o certo na questão, impossibilitando o fluxo de uma troca sadia e civilizada de ideias. 
     O senso comum tende a imaginar tal comportamento como o de uma pessoa mal educada ou muito cheia de si, que desrespeite os demais. Sem conseguir imaginar que a pessoa tenha um transtorno de personalidade histriônica.
     É sobre este mal que o presente artigo tenciona abordar.

-> Conceito, características, comorbidades, diagnóstico e tratamento

     Somos seres bem relacionais, e por isso temos às vezes necessidade de atenção do outro, conforme a circunstância. Mas, se não for possível, sabemos que a atenção virá na hora oportuna, e tocamos a vida em paz. O que indica que não somos histriônicos. Mas, não é nada fácil identificar um.
     O Transtorno de Personalidade Histriônica (TPH) é uma alteração psíquica caracterizada por uma excessiva emotividade, constante busca de atenção e sugestionabilidade. Essa necessidade de atenção é constante e, se fracassado o intento, o paciente se aborrece ou se deprime dramaticamente.
     Para chamar a atenção, o paciente pode usar de charme sedutor, exaltar seus atributos no trabalho ou mostrar opiniões fortes, mas inconsistentes de bases e argumentos. Em esforço maior de atenção, fica dramático. A sugestionabilidade leva à confiança em pessoas nem sempre adequadas.
     No trabalho, se dirige especialmente às chefias para enfatizar seus atributos, mas, se levando pelo apontamento do outo, pode se aborrecer e simplesmente mudar de emprego. Pois é também imediatista: a atenção requerida tem que ser direta e rápida. Do contrário, sofre.
     A vida íntima é extremamente difícil, pois o frequente papel de vítima e manipulações emocionais a indicarem dependência ao parceiro causa um profundo desgaste no relacionamento. O rompimento da relação é especialmente traumático ao histriônico.
     Comorbidades: transtornos antissocial, narcisista, borderline, depressão maior ou distímica, ou um mal neurológico chamado transtorno de conversão. Casos isolados são mais brandos. A incidência é de mais de 2% da população geral1 (a suposta maioria feminina não é conclusa, merece mais estudos).
     Diagnóstico: critério clínico DSM-V; sintomas-chave: excesso de emoções e na necessidade de atenção; e entre outros, desconforto se não tem atenção; interações sempre provocativas; dramatização; sugestionabilidade; mudança emocional rápida e superficial; discurso impressionista, mas vago.
     Tratamento: basicamente, psicoterapia psicodinâmica. Não há prescrição de medicação, exceto para os casos com alguma das comorbidades citadas.

-> Reflexões finais

     Como qualquer outra pessoa com transtorno psíquico qualquer, o sujeito com TPH é estigmatizado no meio social. Ou, se os seus conhecidos sabem de que porta um transtorno, é visto como maluco ou sem noção.
     No senso comum, o sujeito TPH é quase sempre mal visto como carente demais ou provocador, devido à nossa ignorância sobre o distúrbio. O profissional o diagnostica por um método específico, distinguindo de transtornos parecidos como o dependente, borderline e narcisista.
     O sujeito TPH também pode ser tachado como o cheio de si, pela sua emotividade exaltada e teatral numa roda de debates, numa discussão relacional ou no trabalho. Ou, devido à provocativa aparência, não raro é tido(a) como perua (mulher) ou almofadinha ou gay (homem).
     É possível que o TPH seja mais comum do que se sabe até o hoje. Como no Brasil há preconceitos e negligência política sobre a saúde mental, os pacientes tendem a negar a sua condição e o tratamento, o que contribui para o agravamento de seu próprio sofrimento.
     Mas é necessário conscientizar que, a partir do momento em que se admite a sua condição psíquica, os pacientes dão um grande passo para a vida normal, seja pelo controle ou mesmo a cura. Afinal, os transtornos psíquicos não são loucuras, e muito menos o fim em si.
     
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Imagem: Google.

Notas da autoria
1. Conforme estatística de saúde mental nos EUA. No Brasil se estima uma estatística semelhante ou superior. 

Para saber mais
- https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-de-personalidade/transtorno-de-personalidade-histri%C3%B4nica-tph
- https://diariodeuberlandia.com.br/noticia/24060/brasil-e-recordista-em-doencas-mentais

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