Adendo: respingos da prisão de Silveira
No artigo anterior houve uma exploração do tema da prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), cujos reflexos mais visíveis se fizeram no seio da sociedade através das redes sociais.
Como apontado, a causa da decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes teria sido um vídeo postado por Silveira nas redes sociais, com teor de linguajar chulo, expressão violenta e ameaças aos ministros, desde a reação de um deles a uma fala ameaçadora do general Villas Boas.
De fato o vídeo consta no documento elaborado por Moraes, que tem se destacado por incomodar Bolsonaro. Mas, segundo o canal do Youtube Pensando Alto, do professor Roberto Cardoso, o vídeo foi causa primária sobre Siqueira. Há outro fator primordial e mais amplo em jogo, e balança geral.
Aplicar novas análises nesse contexto é o objetivo central deste artigo.
-> O vídeo e a truculência de Siqueira
O vídeo ficou conhecido pelo grande público por conta da ampla divulgação pela mídia e nas redes sociais. Ele chama atenção pelo linguajar chulo e desrespeitoso com ameaças, desafiando dispositivos constantes principalmente na Lei de Segurança Nacional, conforme documento de Moraes.
Todos os ministros do STF foram alvos genéricos dos vitupérios, mas ficou mais grossa a direção ao ministro Edson Fachin. A causa foi apontada pelo próprio parlamentar como a reação (tardia) de Fachin a uma fala em tom desafiador do general Villas Boas, proferida em 2019.
O material tem a sua relevância, o vídeo atentou contra a democracia na defesa do AI-5 vigente na ditadura, contra o Estado de direito e à independência harmônica entre os três poderes. E ameaçou com métodos truculentos a autoridade dos ministros da instituição máxima do poder judiciário.
No nosso Estado, a independência harmônica entre judiciário, legislativo e executivo e o Estado de direito constituem dispositivos republicanos, abrangendo nação (o povo e suas razões moventes), o governo e Estado. Foi contra a República que Silveira se virou, na sua razão bolsonarista.
Bolsonarista por identidade política e por sua essência naturalmente truculenta, a despeito de, até onde se sabe oficialmente, não ter registro de autos de resistência em seus quase 6 anos de PM.
Porque é reflexo de Bolsonaro, que externaliza sua índole e desejos em suas políticas traduzidas em anticiência, fanatismo religioso-ideológico e destruição, efetuados contra os pilares republicanos hoje reconhecidos na LSN.
Por isso, o vídeo foi causa mais estrita que levou à prisão o seu próprio autor. Mas, certamente, não foi de graça, assim como tantos outros atos ocorridos contra o STF, prestes a serem desmascarados a partir de suas origens, anteriores, talvez, à eleição de Bolsonaro.
-> Financiamento estrangeiro
Na campanha eleitoral 2018, redes sociais passaram a ser ringues cibernéticos de forte polarização de dois grupos, os bolsonaristas identificados na extrema-direita e os antibolsonaristas.
Não sendo necessariamente de esquerda, os antibolsonaristas eram generalizados como petistas, lulistas, 'mortadelas', comunistas, etc. A coisa ainda é assim, só que menos intensa.
Essa polarização tem sido criticada pela truculência e muitas fake news de bolsonaristas e anárquicos extremistas. Apesar da lei de informação e da CPI no Congresso, eventos de ódio continuam.
Antes da posse de Bolsonaro, foram noticiados disparos de fake news no WhatsApp financiados por entes privados, resultando na CPI das Fake News 2019. Ainda em 2019, no Rio, uma carga de peças de 117 fuzis de uso restrito das FFAA dos EUA foi descoberta na casa do miliciano Ronnie Lessa.
Em 2019 eclodem manifestos bolsonaristas contra o Congresso e o STF com ofensas, ameaças, gritos de ordem, por incentivo do Gabinete do Ódio2. Ali estava o 300 pelo Brasil de Sara Giromini, que acampava em Brasília com pesadas armas e fardas. Eram atos antidemocráticos, de 2019 a 2020.
Os manifestos agora se reduziram às fake news conspiradoras do gabinete do ódio, versão brazuca do QAnon, estendidas à antivacina em plena sindemia de C19 e a tragédia resultante. Claro, nada disso também saiu de graça. E uma confirmação foi feita.
Foi feita por um ministro do STF, Dias Toffoli que apontou um financiamento internacional para os ataques antidemocráticos, os sustentando para o fim de desestabilizar a democracia. A afirmativa saiu numa entrevista ao programa Canal Livre, da Bandeirantes, no dia 21/2.
-> Reflexões finais
O financiamento internacional certamente não é pouco, e nem tão recente. É sabido que entre os grandes atores desse financiamento se destaca um braço-direito do seio político-ideológico que ajudou na eleição de Donald Trump em 2016: Steve Bannon.
Quem já leu sobre Bannon sabe que, mais do que ideólogo, ele tem ligações estreitas com magnatas poderosos, banqueiros, e empresários e políticos de caráter bem suspeito, e foi mentor das campanhas de Trump e Bolsonaro, tendo como mediador o Bolsonaro 03 e Olavo, que indicaram o fidelíssimo Ernesto Araújo para chanceler na marcha contra alucinações ideológicas deles próprios.
Embora não haja fontes a confirmar isso tudo, é muito provável que Eduardo, o 03, esteja por trás, também, da mediação do financiamento internacional das práticas contra a democracia, as instituições e a República, denunciadas por Toffoli na citada entrevista. Nada se descarta até prova em contrário.
É perfeitamente normal que Toffoli tenha sido cauteloso em não dizer detalhes, seja por falta de fontes sólidas ou outro motivo. Mas há vários sinais além da violência gratuita, com armas de grosso calibre e uso restrito por qualquer um, a formação das PMs4 estaduais pela União, os 117 fuzis, além das fake nws e lives on-line do gabinete do ódio de Brasília.
Nada acima é confirmável, mas também não se descarta. Mas é certo que a prisão de Silveira e a afirmativa de Toffoli sejam passos iniciais de uma demandada de prisões recomendadas pelo STF a outros parlamentares. Um efeito dominó que vai dar muito pano para manga.
O STF terá muito trabalho pela frente, e o Congresso também. Afinal, chega o dia em que tanto lixo por baixo do tapete terá que ser varrido. Um recado de que tudo tem um limite, até o bolsonarismo. E esse será o recado mais duro do STF. E nos resta aguardar para assistir em nossas telas.
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Imagem: Google.
Notas da autoria
1. Filósofo grego clássico, autor da célebre A República.
2. Grupo on-line com núcleo em Brasília, criador de sites noticiosos de fake news, incentivo a manifestos e arruaças de ódio.
3. Grupo de ativistas pró-Trump, responsável pelo recente manifesto de invasão do Capitólio após a vitória de Biden.
4. Suspeita-se do propósito do governo em fortalecer grupos milicianos a partir dessas novas polícias.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=bJB9quQZa4E (Pensando Alto de Roberto Cardoso)
- https://www.youtube.com/watch?v=Ct6zVdjiFec (Bemvindo Sequeira)
- https://180graus.com/na-politica/toffoli-aponta-financiamento-internacional-a-ataques-antidemocraticos-no-brasil
- https://revistaforum.com.br/politica/delegado-confirma-que-armas-tinham-registros-da-marinha-americana-mas-diz-que-sao-fakes/
- https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/03/20/marielle-o-que-se-sabe-sobre-as-pecas-que-serviriam-para-montar-117-fuzis.htm
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