sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Reflexão: variantes de Corona e vacinas 


     Em meio ao caos amazonense, que comoveu o governo venezuelano a doar muitos tambores de oxigênio e agora se alastra para outras regiões do Brasil, pesquisadores de Manaus descobriram uma nova variante de Corona.
     Essa variante, que agora se espalha pelo país, está por trás da alta mortalidade de doentes jovens, em unidades de saúde que ainda contavam com o gás em pequenos estoques.
     Ela ocorreu após a ocorrida no Reino Unido, cuja variante rapidamente se espalhou pela Europa por conta das viagens e abertura comercial antes do Natal e hoje está por trás da alta mortalidade em países como Itália e Portugal, e já está no Brasil.
     Em meio à carga acima, pesquisadores de uma Universidade na Cidade do Cabo na África do Sul anunciaram a descoberta de uma variante local, de comportamento igualmente devastador. E já se percebeu que a vacina AstraZeneca, a principal aplicada no país, tem eficácia baixa a essa variante.
     Daí surgem várias perguntas, que afloram a preocupação da OMS e da comunidade científica: todas as variantes levantadas até agora são muito agressivas? Será que as vacinas mais potentes até agora vão surtir algum efeito ou pelo menos ajudarão as pessoas a evitar o pior?

-> Diversidade virótica no Brasil a partir do mundo

     A variante citada no início do texto não é a primeira mutação brasileira do "precursor": o primeiro anúncio, desde o "início" da sindemia no país, ocorreu em novembro de 2020, com a descoberta de quatro linhagens inéditas no país. O evento ocorreu em Manaus.
     Tal pesquisa em 2020 atesta haver uma série de linhagens brasileiras, ou amazonenses, pelo menos. Uma delas foi descoberta no Japão em análise de quatro brasileiros sintomáticos de C19 que viajaram para lá e de imediato foram isolados para tratamento.
     Duas dessas variantes se chamam Nery e Eric, devido aos respectivos nomes técnicos genômicos, que sinalizam a evolução convergente, o mesmo fenômeno a explicar a adaptação de voo de aves e morcegos, por exemplo. Elas se assemelham aos genomas das variantes britânica e sul-africana.
     Os descobridores dessas duas variantes se preocupam com a sua potencial agressividade, como a de maior nível de transmissibilidade e capacidade reinfectante - o mesmo perigo verificado na britânica, já detectada no Brasil, para fazer parte do coquetel virótico de coronas em solo tupiniquim.
     Todas as linhagens supracitadas, inclusive a sul-africana e a britânica, foram descobertas entre novembro e dezembro do ano passado, sendo a maioria anunciada somente neste ano. Com exceções das 4 inéditas de Manaus anunciadas no Uol.
     Além da "ancestral" e da britânica, se anunciou haver em solo brasileiro dezenas de linhagens novas, a maioria descoberta em solo amazônico (Amazonas, Roraima, Rondônia). Em Rondônia, se descobriu que o gene da proteína Spike (que propicia invasão da célula pelo vírus) se diversificou: um ineditismo nada agradável. 
     Detalhe: o próprio ministro Pazuello, da saúde, admitiu que a variante descoberta em Rondônia "é três vezes mais contagiosa", em comparação com o "ancestral".
     A China, país do qual partiu o sinal de alerta da pandemia e que tem investido pesado no combate à C19 desde o seu início, e agora enfrenta uma nova e preocupante onda, se acredita que sua diversidade seja bem maior1.
     E, como o governo Bolsonaro quer manter tudo aberto, em medida de inaudita irresponsabilidade, idem a cruzeiros e viagens internacionais, e parcela grande da população tem conduta irresponsável também, o Brasil pode, em futuro bem próximo, sediar a maior diversidade de Coronas do mundo.

-> De fundir a cuca

     A rápida velocidade de mutação do Corona, produzindo variedades cada vez mais agressivas em sua patogenia e contágio, surpreende os cientistas e a OMS. Afinal, antes da divulgação dessas variantes, os países europeus e da Ásia além da China deram a largada nas campanhas de vacinação.
     Em Londres, pesquisadores chegaram a recomendar o uso de máscaras mais potentes, ou então, duas máscaras comuns para aumentar o poder isolante, por conta do potencial mais agressivo da variante local. Ideia que está sendo imitada pelos cientistas sul-africanos, também devido à sua linhagem. 
     A concentração equatorial dos Coronas no Brasil derruba a tese de preferência por climas frios. Em meados de 2020 foram noticiados estudos que afirmavam o suposto freio dos climas tropicais úmidos sobre o Corona. Mas, outro estudo no Canadá desmente essa tese: clima não importa.
     Na verdade, o que determina o comportamento virótico é o modus humano. O brasileiro tem cultura de muitos eventos de aglomeração, como praias, templos, locais de baladas e festas. O sistema escolar tem salas superlotadas. Ou seja, muito propício para disseminação, mutação e estabilização do vírus.
     Outra notícia recente veio da África do Sul: tendo iniciado campanha de vacinação em massa, o país retorna com uma nova e preocupante descoberta: a principal vacina lá, a AstraZeneca, não se mostrou satisfatoriamente eficaz contra a variante local de Corona.

Vacinação
    Europa, Oriente Médio, Ásia e América do Norte estão vacinando suas populações desde final de 2020. Com algumas exceções mais precoces, América Latina iniciou este ano, e a África em sua maior parte ainda não teve chance de iniciar suas campanhas.
     Nesse ínterim, notícias de casos bem isolados de rações graves, possivelmente anafiláticas, à vacina da AstraZeneca (1 no Reino Unido e outro, não confirmado, nos EUA) deram reforço a bolsominions aqui para fake news sobre reações idênticas no país, com a Coronavac. Logo foram desmentidas.
     O aparecimento de potenciais reações alérgicas graves em si já é esperado pelos fabricantes e pelos pesquisadores. Mas, até o momento, todas as vacinas têm sido bem toleradas no geral, não havendo menções de C19 pós-vacina 
     Seguindo desde dezembro, a vacinação na África do Sul encontrou um problema: pesquisadores descobriram que a principal vacina em aplicação no país, a AstraZeneca, não se mostra satisfatória na proteção contra a variante local. 
     O caso sul-africano acendeu o pisca-alerta sobre a necessidade de reforçar estudos sobre o potencial das vacinas presentemente disponíveis para prevenir adoecimentos graves e mortes. E, até o momento, entre as vacinas já disponíveis, a Coronavac parece ser a melhor para enfrentar as novidades viróticas.

-> Reflexões finais

     Evidencia-se a observação de que os Coronas se mudam mais rapidamente do que o velho Influenza gripal. Se este muda anual ou semestralmente, o Corona parece fazê-lo em questão de 1 mês, ou dias: em 1 ano de C19, ainda não foi possível concluir o total global de variantes.
     Não parece, mas os cientistas estão sob pressão total. Além da variada metodologia desde análise de indicador bioquímico específico a micrografias de ME2, análise genômica e modelos computacionais por amostra. E tudo exige agilidade e erro zero. Detalhe: podem contrair a C19 em trabalho.
     Após alerta da África do Sul sobre a vacina da AstraZeneca sobre sua variante, pesquisadores agora querem desenvolver vacinas para variantes. Mesmo a garantir relativa segurança da Coronavac, a China se prepara em pesquisas internas, e no Brasil já ocorre uma, cujo resultado está previsto para este mês.
     Fica evidente que, na verdade, a preocupação com a C19 deve ser de todos: profissionais de saúde cuidam dos doentes e divulgar medidas profiláticas, população seguir a profilaxia, e os cientistas pesquisar sobre os Coronas, suas respectivas condutas, tratamentos possíveis e novas vacinas.
     Enquanto as vacinas mais potentes para as variantes de Corona não se disponibilizam, a população não deve hesitar. Como já citado acima, ela deve assumir sua parcela de responsabilidade pelo controle da C19... e ignorar Bolsonaro e seu séquito necrófilo. A melhor vacina agora é a prevenção.

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Imagem: Google

Notas da autoria
1. Hipótese pessoal, considerando grande população e urbes populosas e muito poluídas que facilitam adaptações rápidas do vírus.
2. Microscópio Eletrônico, que possibilita ver vírus. Já tratado neste blog como curiosidade.

Para saber mais
https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/11/14/estudo-no-amazonas-descobre-4-linhagens-ineditas-do-coronavirus-no-pais.htm
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2021/01/12/cientistas-encontram-variante-inedita-do-novo-coronavirus-com-origem-no-am.htm
- https://www.bbc.com/portuguese/geral-55819748
- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55760161 (por que o Japão descobriu antes do Brasil)
- https://brasil.elpais.com/ciencia/2021-01-21/nelly-e-erik-as-inquietantes-mutacoes-do-coronavirus-em-manaus-que-ameacam-piorar-a-pandemia.html
- https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2021/01/29/covid-19-analise-identifica-18-variantes-do-coronavirus-no-amazonas.htm
- https://www.metropoles.com/saude/fiocruz-identifica-mutacoes-e-linhagens-ineditas-do-coronavirus-em-rondonia
- https://canaltech.com.br/saude/clima-nao-faz-diferenca-na-propagacao-do-coronavirus-conclui-estudo-164569/
- https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2021/01/26/cientista-china-pode-atualizar-vacina-contra-variante-do-coronavirus-em-2-meses
- https://oglobo.globo.com/sociedade/vacina/dimas-covas-diz-que-coronavac-menos-vulneravel-novas-variantes-da-covid-19-que-outras-vacinas-24880448
- https://www.poder360.com.br/coronavirus/resposta-da-coronavac-a-variante-do-amazonas-deve-ser-divulgada-este-mes/
     
     

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