terça-feira, 2 de março de 2021

Reflexão: a ditadura bolsonarista


     Há umas duas semanas atrás, durante evento público, o presidente Bolsonaro desabafou que "não gosta de democracia". A maioria da patuleia não notou, mas quem percebeu a declaração noticiada em várias mídias se assustou, com certeza. Golpe à vista? Afinal, sua equipe de governo é bem militarizada.
     A palavra golpe se segue desde o impeachment do petismo, ou desde a promessa do derrotado Aécio Neves em 2014. Por assumir um sentido conforme a circunstância ou contexto, o que levou à deposição de Dilma foi, sim, um golpe. Legal, mas golpe. Aí o caminho do bolsonarismo se abriu.

Ascensão e ápice do bolsonarismo
     O bolsonarismo se iniciou em 1989, na obscura política do então vereador Jair Bolsonaro, ampliou-se ao ir à Câmara federal em 1992. Discreto na melhor fase do pós-ditadura, se amadureceu nas águas contaminadas da bancada bíblica que lixiviaram de vez essa boa fase em 2016, quando se revelou.
     Hoje, o bolsonarismo é o cerne político, daí não surpreender o teor cristofascista e retrocedente a ser cumprido por seus generais e pastores neopentecostais, a despeito das trincheiras constitucionais do STF, que têm sido mais expressivas em direitos humanos.
     Direitos sexuais e reprodutivos femininos, casamento homoafetivo, criminalização da homofobia e homotransfobia, revogação do decreto de retorno à normalização e segregação em educação especial, e o fim da tese da legítima defesa da honra que tem "justificado" feminicídios passionais em processos judiciais, são algumas dessas trincheiras vitoriosas do STF.
     Encurralado pelo STF nessa esfera, o bolsonarismo se esgueirou por outros meios, como os cortes reiterados da Economia nas áreas sociais (que se seguem), e o agressivo vírus da sindemia1 de C19. Aí ele escancara a sua verdadeira face, sorri seu esgar nas aglomerações públicas a cada mil óbitos oficiais, até se chegar aos 225 mil neste momento que escrevo.

Haverá golpe militar mesmo? Reflexão final
     A resposta a essa pergunta não é simples, dadas as variáveis a apontar e analisar. Todavia, muitos foram os momentos de suposto plano de golpe do presidente. Por que ainda não ocorreu? Eventos e momentos não faltaram.
     Propostas de modificar as polícias, militarizar escolas de educação básica, liberar armas a civis, legalizar as milícias, facilitar a entrada de jovens nas FFAA... Mas, na reunião ministerial de 22/4/2020, embora considerasse fácil aplicar golpe de Estado no Brasil, ele disse não querer isso.
     Bolsonaro tinha tudo para fazer voltar o tão bombado golpe militar, apesar de já ter declarado que "militares decidem se o povo continua na democracia ou se viverá na ditadura", e que "não gosto de democracia". Mas, preferiu outras práticas.
     Brecou as instituições ao aparelhá-las com seus próximos, para proteger seus filhos. As milícias se juntam às PMs contra populares, dominam o RJ e se infiltram em outros estados. Mais de 1% da população encolheu pela C19 graças à soma de asfixia no SUS2, vacinação incipiente e indisciplina.
     A nomeação de pastores neopentecostais e militares é mais a materialização da identidade político-ideológica de Bolsonaro do que funcionalidade de fato. Mais um instrumento de controle de opiniões sobre a sua equipe e, de certo modo, no povo. 
     Somando a violência policial-miliciana, violação nos direitos humanos de minorias, deterioração forçada na saúde pública e educação, e sindemia de C19, o governo Bolsonaro matou muito mais em 2 anos do que toda a ditadura militar3 em 21 anos. 
     Com esse cenário, os militares não precisam se esforçar em um golpe de Estado: o bolsonarismo é muito eficiente em seu golpe. Eles, os militares, não precisam mais de impor ditadura, pois estão no poder com todo conforto e vantagens. Como sempre estiveram.

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Imagem: Google.

Notas da autoria
1. Surto epidêmico determinado agravado em certos ambientes socioambientais, sociopolíticos e ao se associar a doenças preexistentes, complicando-as.
2. Cortes sucessivos de recursos humanos e materiais e para o combate à C19, somados ao negacionismo popular invocado.
3. Segundo dados oficiais da Comissão Nacional da Verdade, foram 443 mortos por motivos políticos, embora se estime um número bem maior, devido ao silêncio de muitos militares julgados.

Para saber mais
- https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2021/02/28/recordes-de-mortes-por-covid-confirmam-que-bolsonaro-esta-vencendo.htm
- https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2021/03/01/bolsonaro-mostra-que-mentir-compensa-ao-terceirizar-culpa-a-governadores.htm
- https://www.youtube.com/watch?v=Zv48TBKWxso (Portal do José - BolsoCábio alerta: mundo está errado!)
- https://www.youtube.com/watch?v=tmM_eqRMdk0 (Portal do José - 255 mil vítimas! Médicos da cloroquina)

 

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