Análise: Biden e o socialismo às avessas
Já tornado presidente dos EUA, Joe Biden assumiu um país bem dividido em grupos que se digladiavam entre trumpistas e antitrumpistas, supremacistas brancos e grupos negros, tudo mais inflamado pela era trumpista.
Pegou também um país mais desigual, mais empobrecido, com população grande de sem-teto a lotar viadutos, marquises e prédios desabitados. Além da herança trumpista dos mais de 500 mil mortos pela C19. No Brasil com o submundo no poder, o clima era de comemoração muda, pois se apostou que Biden enfraqueceria as hostes daqui. Ainda é possível, pois é inegável a "guerra fria" diplomática entre os dois países, que o chanceler atual, Franco França, terá que corrigir a duras custas.
Biden e Kamala Harris mostraram desde o início que formam uma boa dupla. A vacinação em massa nos EUA de pronto atingiu mais de 150 milhões de cidadãos, e ainda sobram doses aos montes, a serem distribuídas a outros países. O Brasil seria um potencial contemplado se acatasse a cobrança de Biden na política ambiental.
Na Cúpula do Clima nos EUA, o discurso fake news brazuca fez fama e Salles cobra US$ 1 bilhão "para salvar a Amazônia" - e formar milícias na região, com objetivos suspeitos. Claro, até o momento não recebemos nem as doses, nem o dinheiro.
Socialismo às avessas e reflexões finais
Enquanto a Cúpula do Clima continua rolando, a imensa maioria da patuleia parece alheia sobre a retomada dos bombardeios estadunidenses na Síria. Veremos, pelo menos mais raramente, notícias de grupos enormes de famílias sírias saindo do país para escapar da morte dessa guerra.
Nessa altura, a notícia dos EUA mais frequente e o "choque de gestão" do governo para retomada econômica. Entre outras medidas, Biden resolve taxar as grandes fortunas e beneficiar milhares de famílias pobres com um "bolsa-família", totalizando o desembolso público em US$ 1 trilhão.
O pacote de medidas foi um dos top trendings (os mais postados) nas redes sociais. Houve quem, comparasse o pacote político de Biden à de distribuição de renda de Lula ou ao auxílio emergencial do governo Bolsonaro. Mas as diferenças dominam.
A versão brasileira do Bolsa-família foi um aperfeiçoamento do Bolsa-escola de FHC. Prevaleceu o respeito a alguns requisitos do original, como a obrigação de escola dos filhos, mas o benefício ficou melhor e abrangeu mais famílias, distribuindo melhor a renda. Ficou estável.
Chamado inicialmente de coronavoucher, o auxílio emergencial de agora é temporário de um a três meses no máximo - se houver. Se liga estreitamente à sindemia de C19 e tem valor esdrúxulo. Quem mais ganhou com isso foi quem não precisa, como megaempresários, investidores e militares.
A versão estadunidense é temporária, mas flexível. Também contempla famílias com filhos nas escolas. Diferente do auxílio emergencial de Guedes-Bolsonaro, ele é um contributivo ao reequilíbrio econômico, não dependendo necessariamente da sindemia, e o valor do benefício é o maior dos três.
Além disso, o pacote tem como objetivo fortalecer os direitos trabalhistas (nos EUA a coisa não é solta como se acredita), o que mostra a perigosa contramão que o governo Bolsonaro está rumando em seu governo. O pacote de Lula também não mexeu com direitos trabalhistas.
É verdade que o benefício social de Biden se aproxima mais do petista, e coloca a versão atual, de Guedes-Bolsonaro como escárnio aos mais pobres, que ainda terão que devolver como imposto de renda (como, se estão sem renda?).
Reflexões finais
Não podemos negar que o pacote de Biden representa algo audacioso em meio à personalidade do capital inserida na cultura estadunidense. Audacioso por ter caráter de certo modo progressista, o que não significa que o presidente seja progressista de fato. Sua vice é progressista, provavelmente teve influência dela.
Entretanto, é errôneo citar tal benefício social como sendo "socialista" ou comparar com alguma coisa nesse sentido. Na verdade se trata de uma obrigação que todo líder nacional tem que prestar para o país. No umbigo do capitalismo global. o pacote é plenamente compatível com os interesses dos mais ricos.
O que torna o pacote parecer "socialista" é haver, entre as medidas, a tributação dos mais ricos. Lá como cá, os mais ricos quase ou nada pagam de impostos. O que torna a desigualdade de lá menor do que aqui é que lá a carga tributária é muito menor, tornando os preços mais acessíveis ao consumidor final.
Se engana quem acredita que isso fará os poderosos se evadirem dos EUA: o aumento das taxas malfazem cócegas em seus bolsos, quanto mais nos abarrotados cofres. Na verdade, os pobres de lá pagam proporcionalmente muito pouco a mais que os mais ricos, em comparação com a relação rico-pobre no Brasil.
Isso talvez explique porque se evita a todo custo evitar a taxação dos poderosos no Brasil. E por isso as medidas de distribuição de renda lulista não esbarrou nos ricos.
Então, nisso tudo, se finaliza: se o pacote for encarado como socialista, então vale enfatizar, que esse é o "socialismo às avessas", que a direita capitalista gosta.
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Imagem: Google
Notas da autoria
1.
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