segunda-feira, 19 de abril de 2021

Análise: Brasil, em risco e de risco


        Quando finalmente se soube que o novo Coronavírus mostrou a que veio ainda com as primeiras mortes noticiadas da China, ninguém deu muita atenção com a doença em si, mas com os riscos econômicos devido à incontestável pose do país oriental. 
        Consideremos que a atenção primordial na economia se deu pela despreocupação com a possibilidade de o Corona invadir territórios vizinhos, a Ásia inteira, continentes mais próximos e o mundo. Mas, veio a realidade: surge uma nova pandemia, assim ainda considerada.
        O fato de o Corona encontrar condições favoráveis na Europa, EUA e América do Sul, esta última díspar em termos de desenvolvimento humano, foi por um tempo intrigante para os cientistas após se debruçarem no rastreio da invisível entidade. Mas, depois entenderam que variantes como as desigualdades e o comportamento social influem na coisa.

Como o mundo tem enfrentado a C19: resumo

        Na maioria da Europa, Ásia e outros continentes, houve as conhecidas ações profiláticas para controlar o espalhe do vírus e sua doença C19. Houve colaboração popular até entre os mais relutantes, como a Itália. Todavia, mesmo com a atual vacinação, não se descarta a chance de novos surtos.
        Pouco noticiada, a condução da C19 na África tem sido algo efetiva, com fortes campanhas de conscientização coletiva sobre a gravidade da doença e ações profiláticas. A ajuda profissional da ONG MSF2 junto aos MSs locais é decisiva no controle, mas não se descarta chance de novos surtos.
        A falta de fontes seguras sobre as chances de descontrole africano se compensa pela confirmação da existência de variantes como a sul-africana (que tem cepas regionais), já no Brasil, e a da Nigéria, ambas em dezembro. Embora ainda não divulgadas, variantes de outros países não são descartadas. 
        Priorizando a corrida com a China para a liderança econômica mundial, os EUA de Trump se lixaram para a pandemia, que acabou se revelando uma sindemia1, na combinação com os altos índices de riscos prévios (doenças crônicas) e da grande população idosa.
        O aumento da desigualdade social local devido ao empobrecimento também contribuiu para que a sindemia tivesse proporções grotescas em pouco tempo, graças à promoção inicial em medicamentos ineficazes e certa dose de fake news e teorias conspiratórias com aval do governo.
        Quanto aos vizinhos, o país colaborou para afetar ainda ainda mais o México, que viveu surto em parte devido ao negacionismo inicial do seu líder Obrador. Este logo mudou de ideia após novo surto ligado a algumas levas de estadunidenses que, ironicamente, fugiram da tragédia em seu país. Por sua vez, o Canadá surtou, mas segurou.
        Mas os EUA tiveram sorte: logo após a posse, Joe Biden impôs medidas profiláticas duras e foi para a vacinação em massa com as centenas de milhões de doses compradas pelo antecessor Trump. O efeito foi rápido, eliminando as cifras estratosféricas de infecções e mortes pela C19. Sobrou o Brasil.

Brasil: um perigo para si e para o mundo: reflexão final

        Com a eficiente ação de Biden na saúde dos EUA e falta e informação em ditaduras como o golpe militar de Myanmar, o Brasil de Jair Bolsonaro se vê como uma exceção na condução da sindemia de C19, que não para de avançar, assim como não param as bravatas presidenciais, inações e omissões do MS.
        A previsão de troca de seis por meia dúzia no MS por este blog se confirma na pífia atuação do atual ministro Queiroga, que é médico. Distraindo o povo da guerra contra a CPI da C19 com lives e corpo-a-corpo, Bolsonaro permite ao ministro falar da profilaxia sem traçar plano de vacinação mais massiva.
        Entretanto, as autoridades sabem que o avançar da sindemia de C19 segue inexorável, pois não há medida efetiva de contenção de eventos de aglomeração, e mesmo governadores e prefeitos são débeis em lançar lockdown real nas suas respectivas regiões. Puro preconceito em prol de uma economia que depende de vidas para se movimentar.
        O avançar do flagelo foi alertado há um mês atrás pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que em live salientou sobre projeções estatísticas de picos de morte para o Brasil nos próximos meses se continuar a política de negacionismo. Só para abril as projeções apontam para quase 100 mil óbitos.
        Os alertas estatísticos esclarecidos por Nicolelis fazem sentido, e a julgar pela indolência do MS e a patológica indiferença de Bolsonaro, tais projeções dão ao Brasil a posição de pária sanitário do mundo. Não por acaso viralizou o vídeo de parlamentar francês que determinou bloqueio de entrada de brasileiros na França.
        Tudo faz sentido pleno: já foram levantadas no Brasil hoje cerca de 92 variantes do corona, com algumas delas híbridas, o que pode auferir um perigo biológico ainda não mensurado claramente. Tal número poderia ser bem menor se houvesse coragem das autoridades em impor medidas profiláticas.
        O vasto celeiro de variantes de coronas e de indisciplina generalizada derruba a tese de grupos de risco. Se antes eram idosos, doentes crônicos e transplantados, hoje são crianças, adolescentes e adultos mais jovens. A nação inteira está em risco, pária sanitário e biológico.
        Discordando do olavete Ernesto Araújo, outro títere do genocídio, o Brasil não deve se orgulhar de ser pária. Deveria se envergonhar, pois se transformou num ambiente biológica e sanitariamente hostil, não somente para o mundo, mas para o seu próprio povo. Uma nação em risco, e de risco.

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Imagens: Google (montagem pela autoria do artigo)

Notas da autoria
1. Surto epidêmico ou pandêmico combinado às condições de risco prévias (sociais, etárias e de saúde). 
2. Médicos Sem Fronteiras, ONG que reúne profissionais de saúde de vários países, inclusive cubanos e brasileiros.

Para saber mais
- https://www.bbc.com/portuguese/internacional-52626740
- https://www.uol.com.br/vivabem/reuters/2020/12/24/outra-variante-do-coronavirus-e-encontrada-na-nigeria-diz-agencia-africana.htm
- https://www.uol.com.br/vivabem/reuters/2020/12/25/nova-variante-do-coronavirus-na-africa-do-sul-preocupacoes-fazem-sentido.htm
- https://coronavirus.msf.org.br/nossa-atuacao-africa/ (sem data, bom considerar)
- http://www.sindescsaude.com.br/brasil-e-o-pior-pais-do-mundo-na-conducao-da-pandemia-aponta-estudo/
- https://www.youtube.com/watch?v=A7MrrwdGVPc (live com Miguel Nicolelis)

        

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