segunda-feira, 19 de abril de 2021

Análise: Ser índio é viver de luta


        Há décadas atrás, foi instituído o Dia do Índio, para a data de 19 de abril. Logo após o esquecido Dia do Livro, em referência ao célebre escritor Monteiro Lobato, que nascera no dia 18, quatro dias antes do Dia do (controverso) Descobrimento do Brasil. 
        Uma mostra do quão pródigo é o Brasil em instituir dias comemorativos. Mas, dissertemos sobre aqueles que já estavam nessas plagas outrora muito luxuriantes quando a turminha de Cabral aportou com suas caravelas.
        Muitos de nós, na fase escolar do que se fala hoje como Ensino Fundamental, vivemos atividades relativas ao Dia do Índio, como o colega de cabelo escuro e liso fantasiado de índio e outro recitando uma redação, poesia, citação de romance indigenista ou outro algo do tipo, expressando aquele tom de comemoração, para que dias depois tudo caísse no esquecimento acrítico.
        Me lembro disso como se fosse há poucos anos. Minha passagem escolar foi assim. Formava-se uma plateia de alunos, professores atrás, enquanto que tal cena acima ocorria num palco improvisado. Me lembro do "índio" escolhido a dedo pela professora e eu ter escrito um pequeno texto pra colega de voz maviosa recitar.
        Nas aulas de História do Brasil, aprendíamos que a maioria dos índios fugiu à tentativa dos nobres colonos e bandeirantes em escravizá-los, e foi rotulada no velho preconceito de indolência, revivida pelo (mestiço de índio) Mourão em 2019, na sua limitada intelectualidade milica.
        Assim aprendemos e assim temos vivido, acriticamente alheios à realidade vivida pelos indígenas desde a vinda daquela turminha que viria colonizar o futuro país. Na escola nunca soubemos dos reais dados demográficos, que chegaram a se reduzir a quase 1/10 da população original estimada entre 2 e 3 milhões.
        Só após a redemocratização pós-ditadura, que foi realmente gradual, que soubemos melhor disso, somado ao lançamento, em 2012, de Comissão da Verdade Indígena, paralela à oficial, que revelaria o tamanho da crueldade militar, que ceifou nos anos de chumbo em torno de 8000 vidas por razões do regime e de mercado.
        É então que o brasileiro urbano se deu conta do desafio de ser e viver a vida indígena. Se antes dos brancos eram guerras intertribais eventuais, de 1500 ao presente eles conheceriam inimigos novos, mais armados, brutais e destrutivos. Colonos, missões religiosas, latifundiários e seus jagunços, grileiros, madeireiros e garimpeiros, armados de bíblia, pólvora e bala.
        A luta continua. E agora está bem árdua. Mas, me alegra ver a crescente consciência e visibilidade dos povos indígenas, dada a importância do significado atual de luta. Sabem que a mídia os vê mais para sua autopromoção e exploração mercadológica, e não despertar consciência coletiva.
        19 de abril como dia comemorativo é apenas teoria. Se o for, é com vermelho e preto, as cores da luta, pintados nos rostos e nos corpos, lanças, arcos e flechas em punho e o grito de guerra de homens e mulheres em defesa de sua terra, suas culturas e seu sagrado, na guerra pela resistência indígena mais autêntica.
        Saweee!
 

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