quinta-feira, 22 de abril de 2021

Análise: quem pegaria o Brasil pós-Bolsonaro?**


        Enquanto milhares de novas lágrimas molham rostos enlutados de pessoas que perderam seus familiares para a tragédia biológica disseminada, a prioridade nos bastidores da política vem sendo mesmo a corrida para se definir os presidenciáveis para as eleições de 2022.
        Nada demais aí, claro. Já é praticamente metade do mandato do presidente Jair Bolsonaro, por isso há essa preocupação nos bastidores para esquentar os microfones (no mundo virtual, até prova em contrário), e também o tempo necessário para se planejarem em propostas e campanhas.
        Ainda não estão todos confirmados, mas e alguns casos já se observam pré-candidaturas bem definidas, enquanto que outras ainda não foram amplamente decididas. Muita água ainda rolará nesse tempo.
        Este artigo é uma análise estritamente pessoal sobre o tema em tela.

Os "definidos": hipóteses de governo em caso de eleição
        Um cara definido é Ciro Gomes (PDT). Tem experiência política considerável e popularidade até razoável. Mas, às vezes peca no linguajar impopular e em alimentar ranços antigos. Se eleito, tentará o desenvolvimentismo, mas para melhorar o país terá que frear um tanto o liberalismo econômico.
        Sazonal, Marina Silva é o nome da Rede para 2022. Pode ser boa escolha para quem prefere nome experiente, mas sem escândalos no CV. No MMA na era Lula1, ela mitigou o ritmo de desmate, mas saiu após muitos conflitos sobre licença ambiental agrária e de obras. Se eleita, beneficiará o meio natural, mas pode esbarrar em questões LGBTQ+ e aborto.
        Spoiler: alguns têm esperado aposta no combativo senador Randolfe Rodrigues.
        Doria é o nome tucano no momento: ficou popular pelo êxito sobre as vacinas, esquivando-se de impedimentos do MS do então Pazuello. Mas vale lembrar que foi um prefeito horrível ao pregar uma higiene social com farinata e outros meios estranhos. Se eleito, terá política parecida com a de FHC.
        O ex-MS Henrique Mandetta (DEM) ficou popular ao aprender a valorizar o SUS na sindemia de C19 em 2020, pregando normas preventivas. Diante da contradição popular3 e da mira da CPI da C19, se eleito, quiçá poderá beneficiar a saúde pública consolidando o SUS. 
        O PSOL vai de Guilherme Boulos. Como profissional é inexperiente, mas é um político nato, de base, com campanha inteligente na corrida municipal de Sampa em 2020, chegando ao 2º turno. Se eleito, suas pautas progressistas enfrentarão conflitos com um Congresso ainda conservador. 
        O Novo parece pender agora para Romeu Zema, governador de MG. Político estreante, o lojista não é muito popular: sua atuação não é boa. Se eleito presidente, seguirá seu partido, com governo tão anarconeoliberal quanto o de Paulo Guedes. Aí, foi-se um dia o Brasil.

Os "indefinidos": hipóteses futuras
        Haddad ou Lula? Dino ou Manuela? Sérgio Moro vai fazer par ou concorrerá com Luciano Huck? Zema será mesmo confirmado, ou o Novo decidirá por Amoedo novamente na convenção? Fala-se do apresentador Gentili que, no momento que atravessamos, pode ser aposta, por mais absurda que seja.
        No Novo, Zema parece mais forte do que Amoedo por já estar na experiência política. Mas, seu perfil ideológico e CV empresarial não ajudam: o Brasil e suas unidades federativas são entes públicos e não empresas, portanto, não se administra negócios, mas tudo de uma nação. Esse recado vai para todos do partido!
        Embora pessoalmente definido na corrida eleitoral, Bolsonaro não se define em que partido entra. Os motivos vão de interferências de seus filhos problemáticos à sua própria paranoia ideológica. Pelo menos há siglas mais próximas como PSC, o PRB da IURD e os ex PP e PSL. Se reeleito, já se sabe, pelo menos, que sua política destrutiva e fatal continuará.
        No PT há Lula e Haddad. Ambos são inteligentes, cada qual pela sua natureza. Lula é político nato, sagaz e decidido; Haddad é um intelectual pacifista sem os vícios do Legislativo. No mais, cada um merece comentários em separado. Por isso, valem mais parágrafos.
        Os efeitos de Lula livre em março-abril mostram que a prisão não minou seu prestígio global nem seu carisma popular. De novo elegível, assusta o "inimigo" Bolsonaro. Parece governar nas sombras, após escrever para a China e conversar com os russos sobre vacinas. Boa aposta, falta só definir o vice.
        Ex-prefeito de Sampa, Haddad ficou popular na grande campanha de 2018. Carece de pulso mais firme, mas é aberto ao diálogo com populares. Como ex-chefe do MEC, tem boas propostas educativas e econômicas progressistas, sendo também boa aposta. Resta ao PT decidir no final.
        Sobre a posição de vice, houve proposta do presidenciável Ciro para Lula ser seu vice, mas ainda não houve uma confirmação. Alta chance de conflitos de interesse por liderança, pois ambos têm essa qualidade em mesmo peso. Se fosse o caso, o par Ciro-Haddad seria até muito bom.
        Embora alinhado ao PSDB, cuja sede em Curitiba foi fundada por seu pai, Sérgio Moro ainda não se decidiu se entra para presidente ou a vice do pretendente Huck. Sua proposta política talvez esteja no campo penal, lembrando o pacote anticrime de quando ministro. Mas agora enfrenta má reputação com a fraude judicial no caso Lula desmascarada.
        Huck ainda não sabe se estará junto de Moro ou separado deste na corrida. Não tem partido, mas seu perfil se alinha aos de centro-direita como PSD, Novo ou até PSDB. E também não tem programa político algum. Ainda terá que aprender que o Brasil não deve ser gerido como o seu Caldeirão, onde seu populismo cola bem.
        Além de estar como Huck, e de precisar de muito mais tempo para entender que o Brasil não é o seu talk show, Gentili mais parece uma entrada zoeira, embora muito sem graça. Não vale a pena gastar dedos para se saber o que ele tem na cabeça. 

Reflexão final

        Entes de pesquisa de opinião como Ibope, Datafolha, Vox Populi e outros, de mídias de diferentes tendências ideológicas, se divergem sobre as escolhas em presidenciáveis de 2022 - o que leva a muita desconfiança popular sobre a veracidade dessas pesquisas, ou quais delas é mais verossímil ou não.
        Para as mídias da casa grande, é interessante que Bolsonaro lidere. Não que goste deste de fato, mas é pelo querido Guedes. E para as mais à esquerda, é melhor a liderança de Lula como "ideal para reparar a destruição e investir no povo". As independentes são antibolsonaristas, por antifascismo.
        O senso comum tende a acreditar que as entidades controladas pelas mídias da casa grande têm maior confiabilidade. Mas isso deriva do senso absolutista da cultura dominante, não expressando, na real, uma verdade absoluta, cuja inexistência a geral não assimila.
        Realmente, distorções são comuns entre as mídias enfatizando, em alguns casos, interesses para o seu lado, como ocorre com as que transmitem pesquisas falsas e até já foram alvos de discussão na CPI das fake news. Mas tais fatos costumam ser desmentidas logo após a sua publicação.
        Dois pontos merecem consideração: pesquisas prévias indicam apenas a opinião do momento, que é mutável na medida que as águas rolarem; e o tempo para resolver a indefinição, que agora domina e vai ter pouco mais de um ano para ser resolvida para formar chapas, propostas de governo e agendas de campanha, que possivelmente serão virtuais devido à sindemia.
        E alguns fatos já começam a definir rumos: o STF acabou de tornar Moro suspeito, processos de Lula serão em Brasília, e Bolsonaro é alvo da CPI da C19. Três pontos que poderão rebuliçar o futuro político dos três principais nomes nas pesquisas de opinião de agora. O que afeta outros.
        Se o eleito for Bolsonaro, já sabemos. Mas, se o eleito for outro minimamente progressista, a capacidade de minimizar ou de resolver uma pequena parte do legado tétrico em curto prazo já será de bom tamanho. Pois o mais importante é saber das possibilidades de resolver o Brasil após o caos.

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Imagem: Google

Notas da autoria
1. Ministério do Meio Ambiente.
2. Espécie de ração alimentar de mistura de sobras alimentares de restaurantes. 
3. Foi popular diante da C19, mas o povo que o admira também é o mesmo que não colabora para mitigar a tragédia. 

* Partidos citados no texto: Novo, PDT (Democrático Trabalhista), PT (dos Trabalhadores), PSDB (da Social-Democracia Brasileira), PSC (Social Cristão), PSD (Social Democrático), DEM (Democratas), PRB (Republicano Brasileiro), PSL (Social Liberal), PP (Progressistas), Rede Sustentabilidade (Rede).

** Este artigo foi uma análise estritamente pessoal, sem consulta de referências.


        
 

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