Análise: o mito Lula - será que cabe?
Em entrevista recentemente concedida, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva expôs uma frase pouco atentada pelo público: "nunca fui chamado de mito". O motivo da frase é a referência tornada habitual pelos eleitores desde 2018 para exaltar o seu eleito, o atual presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido).
A afirmativa poderia ser interpretada, a princípio, pela patuleia como choro ou uma ironia, a depender da concepção político-ideológica. Entre os fanáticos seguidores de Bolsonaro e seus próximos, seria vista como um choro, na ideação própria de que Lula nunca teria, nem terá, tanta popularidade quanto o seu idolatrado capitão. Já entre os lulistas, a frase soou como uma ironia. A ver.
O termo "mito"
Etimologicamente, o termo "mito" é uma latinização do grego mythos, que significa alguém ou algo irreal. São definidos como mitos contos ou lendas inicialmente construídas pelos povos antigos e transmitidos oralmente ou pela escrita. O grego Hércules, o Gênesis judaico-cristão e o nórdico Odin são alguns dos inúmeros exemplos de mitos da história humana.
A criação de mitos, geralmente de cunho religioso, despertou a curiosidade dos antropólogos, que criaram a Mitologia como o 'estudo das lendas'. Pode parecer bobagem, mas o rastreamento das origens das muitas lendas revela muito da vida, cultura, espiritualidade e as conexões estabelecidas entre as diferentes culturas de tempos passados.
O teor irreal ou surreal dos contos e parlendas estendeu o termo a outro significado, o da mentira. Todos nós mentimos eventualmente, em nome da harmonia social. Mas, em alguns casos, a mentira incontrolável virou alvo da psiquiatria e da psicologia caracterizando o transtorno mitomaníaco, a mentira patológica e socialmente disfuncional.
Num contexto geral, para o senso comum, a mentira eventual se confunde com a patológica. Mas, vale salientar que certos ambientes, em que privilégios e jogos de poder se ressaltam, se tornam muito favoráveis à construção distorcida do personagem político. Este, por sua vez, pode ser só um blefe de poder, ou patológico.
É onde surgem os mitos políticos.
Bolsonaro, o mito
O ambiente político se revelaria como um local propício para a mentira compulsiva. O prometer e não cumprir é sobejamente conhecido, mas há outro modo que revela um personagem característico, na política atual: Jair Messias Bolsonaro.
Ele é chamado de "mito" pelo seu fanático séquito bolsominion. O motivo é paradoxal: o veem como "sincerão", que "fala na lata" sem se importar se ofende ou não. As ofensas dirigidas à petista Maria do Rosário, ainda nos tempos de deputado, quase levaram seus fãs ao orgasmo.
A permanência do estilo na presidência da República alimentou a fidelidade de seu séquito, pois reforçou a ideia do "sincerão incorruptível". Mas, a julgar pela falta de plano, depressão econômica, violência, dissolução do Estado e genocídio, a realidade obscurecida pelo personagem "correto" se revela.
A mentira compulsiva e calculada surge nas lives semanais e pelas fake news divulgadas por gente do gabinete do ódio. Tal rede de mentiras se nota como alicerce de poder e revela que a ofensa contra a petista revela uma opinião sincera, mas sobretudo estúpida, misógina, desrespeitosa e antissocial.
Defeitos esses que, também, com a ajuda até da mídia da casa grande, revela o verdadeiro caráter de Bolsonaro: antipático, envolvido com bandidos, e acima de tudo, com duas compulsões: corrupta e mitomaníaca. Esse é o mito dos bolsominions.
Afinal, Lula pode ser considerado mito? Reflexão final
Exposto o mito desenvolvido com o personagem Bolsonaro, agora se esboça nova interpretação sobre como Lula disse na entrevista: "nunca fui chamado de mito, porque mito é coisa de fascista, de miliciano".
A frase agora completa já mostra tudo muito diferente. Não há mais espaço para os bolsominions a interpretarem como expressão de inveja ou decepção. Aí entram os lulistas, a entenderem nela ojeriza do ex-presidente a Bolsonaro e sua irresponsabilidade com o cargo ocupado.
De fato, a fala de Lula desconstrói politicamente o termo mito. Mas, para seus seguidores, Lula é um mito, mas à sua maneira: como um operário mal escolarizado governou tão bem um país complexo e continental como o Brasil, com políticas inclusivas e de combate à fome e à miséria.
Mas, aos lulistas, melhor não chamar Lula de mito. Seria confirmar a comparação que muitos já fazem com Bolsonaro, como "duas faces na mesma moeda", algo que o os próprios lulistas lutam para desfazer.
E vale para o próprio Lula poder entender como a palavra Mito cai perfeitamente em Bolsonaro. Não como um líder de governança positiva, mas sim em um sentido totalmente negativo, pois mito significa mentira. Portanto, Bolsonaro é sim, pois é uma mentira simples, completa e total.
Então, se Lula e admiradores se negam a uma comparação com Bolsonaro, é melhor se dissociar do predicado mesmo.
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Imagem: Google
Notas da autoria
1. Mito do fim do mundo ou dos tempos, na mitologia nórdica.
Para saber mais
- https://revistaforum.com.br/politica/lula-nunca-fui-chamado-de-mito-porque-mito-e-coisa-de-fascista-de-miliciano/
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitomania
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