domingo, 13 de junho de 2021

Análise: Salles e a briga contra o 5G


        Já está sobejamente conhecido entre nós o tema da birra de Bolsonaro contra a China por motivada por ideologização torpe, sustentada por influencers ideólogos olavistas e bolsonaristas a bombardearem o decrescente séquito de seguidores do "mito".
        São conhecidas de igual sobejo entre nós as consequências negativas, já sentidas em toda a sua franqueza, sobre as nossas vidas desde o cenário econômico (intercâmbio menor) passando pela saúde (o genocídio em curso) até mesmo no meio ambiente e na tecnologia.
        Sim, tecnologia e meio ambiente também. A primeira por conta do 5G, e o segundo, por conta do fato da China ter entrado na assinatura recente no Acordo de Paris, enquanto o Brasil saiu fora. Na China há extensas áreas preservadas, cuja legislação para crimes ambientais é bastante pesada.
        E é ainda mais interessante saber que há, por trás das bravatas de Bolsonaro para distrair a geral, outro nome ligado a essa birra perigosa: o sinistríssimo do Meio Ambiente brasileiro, o piromaníaco e capitão da motosserra Ricardo Salles.

Tecnologia 5G

        Se trata de uma nova modalidade tecnológica, criada na China, o top 1 na tecnologia global, e já aos poucos assimilada por países em todos os continentes, incluindo na África, onde várias nações já operam a internet 5G. (falar da China top1 não é defesa, é reconhecer seu pioneirismo na área).
        E pensar que já se vislumbra a possibilidade de 6G a se desenvolver e... deixa quieto.
        No Brasil, hoje quase fake news de tanto desmonte interno, o 5G é alvo das conspirações mais estapafúrdias. Como exemplo, uma delas é a de que 5G transmite radiação propositalmente projetada para a instauração mental do comunismo chinês. E há analistas aqui embarcando nessa onda.
        No Brasil, maior paraíso das fake news e teorias da conspiração mais estapafúrdias que se possa imaginar, essa tecnologia está entrando bem aos pouquinhos, à revelia do governo Bolsonaro. Entre as teorias mais malucas estão a transmissão radioativa para instalar a suposta energia comunista.
        Claro que há uma desvantagem importante, que é a invasão na privacidade cotidiana a nos vigiar 24 horas diárias, de domingo a domingo. Mas, por trás dessa desvantagem, que reside no ramo IOT (internet das coisas), se operam vantagens. Sim, há virtudes atrás dos defeitos. Não é filosofia, é fato.
        Entre tantas funções, vale citar 3 exemplos ultra precisos: as micro e nanocirurgias robóticas, a microscopia quântica para ver o impossível, e o telemonitoramento das grandes áreas públicas de preservação ambiental permanente, com informes em tempo real.
        É aí que entra a treta envolvendo a dupla dinâmica Salles e Bolsonaro.

5G e meio ambiente

        No telemonitoramento ambiental ultra preciso, o 5G pode fazer levantamentos de fauna-flora e de índices de biodiversidade; identificação e medição de instalações estranhas ou ilegais na área pública de preservação permanente estudada (extração de madeira, garimpos, incêndios, etc.), entre outros.
        O Brasil ainda não instalou 5G no Inpe e outros órgãos de telemonitoramento, mas outros países como EUA e Europa a possuem suas instalações já operantes. Graças às informações da Nasa, o Inpe sistematicamente desmente as insistentes fake news de Bolsonaro sobre a política ambiental.
        Nessa semana, o governo anunciou novo corte de recursos ao Inpe. Detalhe: o corte vem junto ao reacender do tema da conexão com o 5G dos EUA. Birra ideológica por que é Biden e não mais Trump o governante de lá? Não. O buraco é muito mais embaixo, e já existe desde antes.

Salles, o buraco em meio à selva

        No Brasil, as ações ilegais na selva vêm desde a República velha, impulsionadas pelo incentivo industrial no varguismo (1930-45). A ufanista ditadura militar (1964-85) incentivou a extração ilegal por empresas dos EUA e, em menor escala, da Europa capitalista, às custas de vidas dos nativos. Por ideologia.
        A legislação ambiental mais rigorosa na era petista não freou as ilegalidades a contento. Mas é na era Bolsonaro que o ilegal ficou 'legal sem lei', graças a um nome que se tornaria bastante eficiente na representação ideológica do governo: Ricardo Salles.
        Já tratado neste blog antes, Salles é a materialização do bolsonarismo ambiental, na sua posição ideológica e nas consequências da destruição de biomas importantes. Quem teve a oportunidade de ver a treta dele com o ex-diretor do Inpe Ricardo Galvão vai se lembrar.
        Em 2019, ano da treta, o Inpe registrou destruição recorde. Galvão se preocupou e contatou Salles sobre o problema, mas este se limitava a fakes acusando o órgão de... mentiras. Ao refutar deixando o ministro sem argumento, o cientista foi exonerado por Bolsonaro, que militarizou a instituição.
        Ao mesmo tempo manchas de petróleo atingiram todo o litoral nordestino, parte do Pará e nas regiões do Espírito Santo até o norte fluminense. Bolsonaro acusou a Venezuela de tramoia política.
        À época, as mídias se concentraram nos incêndios na Amazônia com fotos de animais e vegetais carbonizados. Mas, além de incêndios, supercomputadores do Inpe e satélites da Nasa identificaram enormes clarões cobertos de toras de madeira nobre, parte dos quais em terras indígenas.
        Na mesma época, mídias divulgaram também aumento da grilagem de terras públicas e também assassinatos de lideranças indígenas por milícias regionais ligadas aos garimpos e madeireiros, a prisão de brigadistas e, no IBAMA, a substituição do diretor servidor público por um militar.
        Já neste ano, um delegado da PF em Manaus foi afastado por Salles devido a investigações sobre extração de madeira em área indígena. Na verdade, a mesma ainda operante identificada pela Nasa dois anos antes. A C19 entra na cena ajudando a matar mais indígenas e facilitando novas invasões.
        A ciência de tantos fatos simultâneos revela a conexão entre eles, o que não nos permite, assim, dissociar da visão de que essa predação ilegal de recursos florestais e minerais é um negócio muito rentável, protegido da atenção pública pela cortina de fumaça dos megaincêndios.
        Com Salles, o grande buraco em meio à selva, por trás desse ganho todo.

Reflexão final

        A figura que estampa o presente artigo se referencia a duas coisas em uma. Originalmente, era uma foto de Salles sorridente em sobrevoo em clareira comprida ocupada por galpões de garimpo ilegal, ladeada pela mata. A charge reproduz a visão feliz do ministro, agora dos incêndios colossais de 2020 no Pantanal.
        Em meio à CPI da C19 e ao anúncio do novo corte de recursos, o Inpe revela novo recorde de destruição na Amazônia, e há temor da repetição, igual ou pior, de incêndios criminosos colossais sobre o Pantanal.
        Como mencionado, o corte ocorre na retomada de conversa sobre a 5G. Não que este não entre aqui, e sim há o temor de Salles e Bolsonaro de ser instalado no Inpe. Eles farão de tudo para impedir sua aplicação em monitoramento, mas é francamente impossível.
        Não é um militar na chefia que impede o avançar do trabalho normal do Inpe, mas sim o entrave de Brasília. Como também foi citado, as agências internacionais de monitoramento já têm instalações 5G. Elas darão informes mais detalhados da realidade das predações ilegais nas áreas naturais. 
        Por isso, Bolsonaro e Salles não hesitarão em exonerar ou atrapalhar o maior número de pessoas servidoras possível em relação ao 5G. Mas, quanto mais se desesperam, mais se revelam como os grandes predadores dos ambientes naturais. E nisso, nem precisamos de 5G para sabermos.
        
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Imagem: Google

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
- https://home.kpmg/br/pt/home/insights/2020/11/5g-edge-computing.html (5G e funcionalidade)
- https://www.viavisolutions.com/pt-br/tecnologia-5g (o que é 5G)
- https://portal5g.pt/temas/ambiente/ (monitoramento ambiental)
- https://portal5g.pt/temas/seguranca/ (segurança inteligente)
- https://diariodocomercio.com.br/politica/salles-e-investigado-em-esquema-de-contrabando-de-madeiras-nobres/
- https://www.oeco.org.br/reportagens/pf-diz-que-salles-montou-esquema-criminoso-para-favorecer-madeireiras/
- https://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2021/05/20/alvo-de-operacao-contra-exportacao-ilegal-de-madeira-ministro-ricardo-salles-diz-que-informacoes-nao-condizem-com-a-realidade.ghtml
 

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