quarta-feira, 21 de julho de 2021

Análise: Bolsonaro e o Condor

        Jair Bolsonaro foi escolhido por seus eleitores para governar com objetivos bem específicos, como investir em segurança pública para diminuir a criminalidade, inovar na educação pelas escolas cívico-militares, e claro, combater a corrupção. A crença nessas propostas deriva de ele ter sido militar no passado. 
        Dada a intenção desse eleitorado, se entende a decepção hoje reinante com as revelações de toda irregularidade envolvendo os Bolsonaro e sua caterva dentro e fora da CPI-C19. Com a exploração do tema pela imprensa, assuntos tão relevantes quanto esses crimes passaram despercebidos.
        O objetivo desse artigo é passar um novo pente fino sobre a suja teia de intenções de Bolsonaro, para revelar propósitos camuflados sob essa teia e mantidas segredadas tanto pelo governo quanto pela grande imprensa.

2019: extrema-direita e cristofascismo

        Este blog já explorou antes que a extrema-direita deseja dominar o mundo "para que o comunismo chinês não avance", bem como a intenção clara do governo Bolsonaro colocar as igrejas como entes com poder de decisão de Estado, em flagrante atentado à laicidade constitucional.
        Em 2019 houve eventos dessa natureza, com encontros diplomáticos com países1 cujos governos compartilham os mesmos ideais cristofascistas e ultraconservadores em matéria de costumes, principal tema ao lado da defesa de linhas econômicas neoliberais.
        No mesmo ano, em Brasília, Bolsonaro recebeu pastores de igrejas pentecostais dos EUA para discutir pautas econômicas e de costumes; em eventos sobre DHs2 na ONU o Brasil se alinhou aos países árabes sobre a questão feminina e das minorias sexuais.
        Por trás das críticas do mundo à devastação da Amazônia, o ministério de Damares patrocinou missões evangélicas para encontrar povos isolados, que resistem em suas tradições ancestrais mesmo após contatos. O objetivo? Convertê-los para facilitar a penetração na selva para fins de extração dos recursos.

2020: os primeiros sinais

        Em 2020, mais afundado na crise interna, o país se perdia em muitas perguntas: por que ministros como Damares, Araújo e Salles permaneciam mesmo com tantos estragos causados por eles? E por que Bolsonaro insulta jornalistas à vontade? Por que negar a C19? Tantas perguntas, poucas respostas.
        Em maio, o ex-chanceler recebeu o secretário de Estado de Trump Mike Pompeo em Porto Velho, Roraima. As mídias divulgaram o encontro, mas sem fazer a geral relacionar com a entrada de muitos venezuelanos no país pela fronteira Venezuela-Roraima.
        Milhares de migrantes passaram se concentraram em Pacaraima, cidade brazuca fronteiriça com energia fornecida pela estatal do país vizinho. Como a mídia relacionou o problema à miséria "causada pelo governo Maduro", a patuleia acriticamente acreditou sem se ligar ao embargo imposto pelos EUA para fragilizar Maduro perante o povo e o depor.
        O embargo prejudicou a produção industrial venezuelana por falta de matéria-prima e insumos importados, com progressiva carência de produtos disponíveis aos consumidores; e embates populares entre chavistas e opositores tomaram as vias de Caracas e outras cidades, com violência policial.
        A visita de Pompeo objetivou a busca de apoio brasileiro para possibilitar uma guerra contra o governo Maduro e colocar no lugar Guaidó, líder oposicionista pró-EUA, através de golpe clássico via militar. Mas, a coisa foi frustrada principalmente por interferência das bem armadas China e Rússia.
        Em paralelo, golpe militar na Bolívia depõe Evo Morales após 14 anos de liderança, entrando em seu lugar a cristofascista Jeanine Añez, sob violentos protestos populares, e apoio brasileiro. Mais tarde, foi eleito um ex-ministro de Morales, voltando a esquerda ao poder.
        Ainda em meados do ano, estranha comitiva do governo  (Bolsonaro, Hélio Negão, os filhos 02 e 03, e milicos) foi para Israel para tratar de um suposto "spray nasal" de cloroquina, segundo a mídia. É claro que a coisa não colou: afinal  não havia nenhuma autoridade do MS na comitiva.
        Em setembro, em Brasília, Bolsonaro, Mourão e general Heleno (GSI) recebem o diretor da CIA William J. Burns e sua pequena equipe, para tratar de "assuntos relevantes", segundo a grande mídia. Novamente, a geral não se ligou para saber do significado da visita. Curtição é que não foi.
        De uma coisa todo mundo sabe: o tempo todo Bolsonaro lançou indiretas ameaçadoras de golpe.  

2021: evidências

        Besteiróis de ministros domo Damares e Araújo e do próprio presidente foram boas cortinas de fumaça para a patuleia e irritação da oposição com suas intermináveis notas de repúdio e apoio aos jornalistas e à liberdade de imprensa, enquanto os eventos acima citados aconteciam. Tem algo aí.
        Insultos de Araújo e dos Bolsonaro à China foram encobriram a politização, por EUA e Brasil, da conexão chinesa 5G, que já está em uso até em países africanos e asiáticos mais pobres para a web. Os EUA querem meter sua 5G no Brasil, mas até agora, nada. Detalhe: a China já usa conexão 6G na exploração espacial, à frente dos EUA.
        Outro país que faz largo uso de 5G nas suas tecnologias é Israel, forte aliado dos EUA. Entre os variados objetos está o recentemente revelado programa Pegasus, de espionagem internacional militar. Vale lembrar que o Brasil deseja formar, com Israel e EUA, um G-3 geopolítico-ideológico.
        Vale lembrar que os três países são os únicos no mundo a apoiar os vergonhosos embargos a Cuba e Venezuela (ainda que contra a poderosa China não o façam), e entra a preocupação dos EUA com a liderança de Lula nas intenções eleitorais: junto ao diretor da CIA estava Sergio Moro...
        A presença do Gal. Heleno na comitiva em Israel e também na visita de Burns (CIA) explica: ele preside o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), versão moderna do SNI dos tempos da ditadura.
        A explanação dos fatos demonstra certa interligação, especialmente quando ao mencionado G-3 em suas intenções. O Pegasus é decerto o fio de ligação das intenções do G-3, apesar do fracasso em tentar contra Maduro graças à intervenção da Rússia e o temor de possível interesse chinês na coisa.
        Os brazucas talvez devessem ficar atentos: pode ser de novo o condor, voejando na sombra do capital político-econômico. Não para golpes clássicos, mas para impor mais guerra híbrida, a definir novo regime à vista, com muita verborragia, mas pouca democracia.

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Imagens: Google (montagem: autoria do artigo)

Notas da autoria
1. Representações diplomáticas de Hungria, Polônia, Ucrância, Lituânia e EUA estiveram nos encontros.

Para saber mais
https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2020/09/18/mike-pompeo-chega-a-boa-vista-para-reuniao-com-ministro-das-relacoes-exteriores-tema-seria-imigracao-venezuelana.ghtml
https://www.brasildefato.com.br/2020/09/18/apos-encontro-com-pompeo-brasil-descredencia-diplomatas-venezuelanos
- https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/09/23/senadores-voltam-a-criticar-visita-de-mike-pompeo-a-roraima
https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2020/09/4876404-pompeo-chega-a-roraima-e-maia-critica-visita-afronta-a-autonomia-nacional.html
- https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/07/chefe-da-cia-realiza-visita-a-brasilia-e-se-reune-com-governo-bolsonaro.shtml
- https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro-reuniao-chefe-cia-paises-vizinhos/
- https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/abjd-cobra-informacoes-sobre-encontro-de-bolsonaro-com-chefe-da-cia
- https://www.cartacapital.com.br/politica/deputado-cobra-informacoes-sobre-vinda-do-diretor-da-cia-ao-brasil/

 

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