domingo, 11 de julho de 2021

Análise: Bolsonaro - peculato e rejeição pública

Análise: Bolsonaro-peculato e rejeição pública


        O progredir dos acontecimentos na CPI-C19 tem revelado a público novos fatos. Não que seja uma novidade para um povo já calejado de tantos escândalos de corrupção na política brazuca, mas chocou alguns de que os fatos mostram um nome por trás de tudo: Bolsonaro.
        O sobrenome não se restringe aos filhos de Jair Bolsonaro, que participaram de algumas das reuniões sobre negociação das vacinas. Vai direto ao próprio líder nacional, descoberto em áudios vazados estar por trás da cultura das rachadinhas, definidas como uma forma de divisão de dinheiro em caráter definido por pessoa de confiança.
        As rachadinhas são assimiladas pelo povo como dádiva do 01 Flávio, para quem o miliciano Fabrício Queiroz, velho amigo de Jair, depositava grandes quantias de grana viva para ele e cheques para a primeira-dama Michele. Mas, o vazamento dos áudios1 desta vez aponta o próprio Jair.

Rachadinha: uma corrupção cara aos Bolsonaro

        O termo rachadinha é a forma com que chegou ao conhecimento do grande público o peculato. Conforme todos os dicionários, impressos e on-line, peculato é uma forma de abuso de confiança pelo agente por meio de obtenção ilegal de parte dos proventos de pessoas de sua confiança.
        O agente incitador do peculato é o peculador, e o funcionário de confiança, o peculado.
        Reflexo da cultura de privilégios exacerbados, principalmente na política, esse abuso de confiança geralmente pecula assessores políticos. Salário de assessor já é alto, mas o do peculado é bem acima do prescrito em contrato, para devolver o excedente ao peculador.
        Os excedentes são percentagens sobre o vencimento, determinadas pelo abusador. Os Bolsonaro exigiam até 90%, segundo os áudios. Detalhe: o Legislativo carioca sabia que o então vereador Jair já tinha esse hábito, por sinal bem aprendido pelos filhos: os vários imóveis de luxo que o digam.
        Sendo salário de assessor político alto, tudo pode indicar que os valores iniciais pagos pela família Bolsonaro devem ter sido exorbitantes. Se isso for provado, pode-se imaginar o rombo sobre os cofres públicos representados por cada um da família.
        Apesar de antigo e reiterado, o peculato de Jair Bolsonaro foi um segredo muito bem guardado. No máximo se soube dos cheques à primeira-dama, que fora alcunhada "Milcheques", o que também não fora associada pela imprensa como tal crime.
        Excitados, os bolsominions acreditam que "rachadinha não é roubo". Sabem que estão errados. Peculato é uma das várias formas de corrupção, que genericamente define qualquer desvio de grana pública para proveito pessoal. É roubo, crime. Os Bolsonaro são os maiores peculadores do momento.
        E, por conta dessa ciência, a maioria da população, inclusive eleitores Bolsonaro fora da bolha, aprendeu que os Bolsonaro têm muito mais sujeira por baixo do tapete da moralidade do que até agora sabemos. Até a CPI quer saber mais dessas rachadinhas.

Por que a CPI está de olho nas rachadinhas do Jair

        Alguns depoentes que já passaram na chapa quente da CPI-C19 forneceram informes valiosos aos relatórios de Renan Calheiros, com evidências cada vez mais irrefutáveis de que a militarização no MS serviu para o que se desenha como o maior escândalo de corrupção da história da República.
        Para se ter uma ideia, só para lembrar, esses depoentes "valiosos", após deporem, solicitaram ao Senado segurança para si e suas famílias por conta das tradicionais ameaças dos Bolsonaro.
        Embora o vazamento não demonstre ligação alguma com o foco precípuo da CPI, o interesse da cúpula da mesma se relaciona com a possibilidade de muitos dos desvios de Bolsonaro em relação às vacinas e à saúde em geral possam envolver milicos instalados no MS. Faz sentido nesse ponto.
        Haverá mais nomes a serem convocados a depor. Entre os mentirosos, os silentes e os evasivos, haverá sempre algum a soltar valiosa informação-elo a ligar alguns desvios do gabinete do presidente a interessados na negociata escusa com vacinas que sequer existem. Quiçá, pode haver.
        Por outro lado, senadores, integrantes ou não da CPI, já demonstraram interesse em fomentar uma "CPI das rachadinhas" para apurar sobre a autoria do presidente da República direto em seu gabinete. Alguns deles, como Alessandro Vieira, Omar Aziz, Randolfe e Renan, são favoráveis.
        O interesse foi tamanho que documento oficial de pedido já foi protocolado ao STF. O autor foi Alessandro Vieira, que tem se destacado com questionamentos a depoentes na corrente CPI da C19.

Consequências: uma reflexão final

        O progredir dos acontecimentos tem repercutido forte nos brios do presidente da República, que tem feito de tudo, principalmente declarações e piadas infames na tentativa de desclassificar os seus adversários políticos e, principalmente, a CPI da C19.
        Hoje, o seu poder de convencimento aos poucos decresce, se limitando à plateia de bolsominions que religiosamente, todas as manhãs, se juntam no cercadinho do Palácio se acotovelando a jornalistas para as falas do dia. 
        Apesar de ainda levar muitos coices de agrado ao ídolo avesso à imprensa, os jornalistas vêm se encorajando mais ultimamente: a galera bolsominion diminuiu um pouco. E isso tem explicação nas pesquisas simuladas de intenção de votos desde as primeiras revelações da CPI da C19.
        Claro que antes do início da CPI, a popularidade de Bolsonaro já deu sinais de queda. Havia por vez ou outra uma subida sutil nos gráficos, porém mais baixos do que em 2019-20. Tudo começou no "efeito Lula", tão logo este retomou seus direitos políticos por decisão definitiva do STF.
        A partir da volta de Lula, Bolsonaro aparecia atrás do petista em simulações eleitorais. Se antes da CPI a distância entre ambos era menor, com a CPI corrente ela cresceu, sendo as mais recentes com a possibilidade de vitória em 1º turno no dia da simulação, com mais de 40% das intenções de voto. 
        Há explicações. Uma delas é a rejeição crescente de eleitores após revelações de evidências de corrupção após solicitação de segurança por alguns depoentes, e com os vazamento de áudios sobre a conduta de Bolsonaro com a grana pública, indecoro e depreciação a jornalistas e servidores.
        Outra é a migração de muitos eleitores evangélicos para Lula, diante da política de roubos e perda (evitável) de vidas para a C19, bem como a iniciativa de seus pastores em se distanciar de Bolsonaro com as novas provas sobre o caráter dele e de seus aliados. Assim, a CPI-C19 se mostra valiosa.
        A terceira está no extremo autoritarismo ególatra de Bolsonaro em agredir instituições. Nas redes sociais, não são raras as críticas dos que o elegeram sobre como ele atenta contra a República e contra a democracia, com ameaças constantes de golpismo.
        De uma coisa já sabemos: no atual contexto, Bolsonaro conseguiu jogar milhares de votos nos sepulcros da C19. Agora, as páginas de seu livro da vida vão aos poucos se descolando uma da outra, devagar, enquanto alguns milicos tentam cobrir com o véu transparente da censura e da repressão. 
        Mas, em total fracasso na tentativa de inverter o futuro que se desenha. Toda a sorte de roubos se mostra escancarada, no feitiço contra o feiticeiro.

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Imagens: Google (montagem: autoria do artigo)

Notas da autoria do artigo
1. O áudio se refere a uma revelação feita pela ex-cunhada do presidente, sobre irmão que não devolvia a percentagem acordada nos salários.

Para saber mais
- https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/07/05/senador-propoe-cpi-da-rachadinha-para-investigar-suspeita-de-envolvimento-de-bolsonaro.ghtml
- https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2021/07/05/senadores-falam-em-cpi-para-apurar-suposta-rachadinha-de-bolsonaro.htm
- https://www.cartacapital.com.br/politica/senador-protocola-pedido-de-cpi-para-investigar-denuncia-de-rachadinha-de-bolsonaro/



 

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