terça-feira, 24 de agosto de 2021

Análise: 7/9, o tumulto


        Daqui a uma semana estaremos em setembro, e com o mês vem o feriado do dia 7, comemorado como o Dia da Independência, conforme nos ensina a historiografia oficial.
        Como sempre, em Brasília ocorrem os preparativos de pompas e circunstâncias que marcam o desfile da ala militar Dragões da Independência, a mesma que acompanha o dia da posse do presidente eleito.
        A tradição de desfile também é fielmente seguida por escolas de educação básica em geral. Mas, há no ar algo a indicar que o dia 7/9 terá ingrediente novo, talvez nada alvissareiro.

A combustão bolsonarista

        É natural ter essa sensação de incerteza sobre o que acontecerá nesse dia, dado que temos visto muitas informações, nada confortáveis, envolvendo o atual presidente da República em suas intenções e pretensões para este 7/9, faltando pouco mais de 1 ano para as eleições.
        Tudo porque, no ar fervilha um alvoroço de combustão bolsonarista, que já preocupa autoridades. Em SP, há uma disputa entre bolsonaristas e oposicionistas por manifesto popular na Av. Paulista. Por terem se adiantado, os bolsonaristas ganharam essa vez.
        Antes dessa disputa acima, logo após o desfile do museu de guerra, Bolsonaro lotou sua agenda de compromissos com militares, até o dia 7/9. O volume de informações obtidas pelas mídias parece não acompanhar tantos compromissos. É um intervalo de quase 30 dias, o que desperta desconfiança.
        Desconfiança esta razoável: afinal, Bolsonaro não poupou sua verborragia ameaçadora contra os ministros do STF Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, e tem usado frases parecidas com as demagogias golpistas de 1964.
        Outros nessa combustão são os latifundiários, que há algum tempo financiam os manifestos pró-Bolsonaro para o dia 7/9. Mas, só o cantor-latifundiário Sérgio Reis se ferrou, após os caminhoneiros o desmentirem nas mídias e redes sociais.
        PMs- Ainda não acabou: bem bolsonarizadas, as PMs estão enxuricadas para o dia, e se tornaram alvos de preocupação. O governador João Doria (SP) afastou o coronel Aleksander Toaldo Lacerda, atuante em Jundiaí, por evocar seus subalternos para ato em Brasília.
        Ninguém duvida do caráter antidemocrático e truculento das PMs, hoje mais embrutecidas pelo bolsonarismo, haja vista a sua formação militar e sua práxis marcada por repressões e chacinas nas periferias. Daí Bemvindo Sequeira temer o 7/9 ser um dia marcado pelo terror.
        Mas, os governadores asseguram que elas atuarão nos limites constitucionais. No aguardo para saber até quando "forte emoção" vai impulsionar para tocar o te
        Congresso- Nesse ínterim, o Senado vai para a fase final da CPI-C19, que tem seguido caminho tortuoso demais com abusos de mentiras e silêncios judiciais. E a Câmara, na surdina, se prepara para votações das reformas tão urgidas por Paulo Guedes para serem aprovadas.
        O presidente da Câmara Arthur Lira, o Ficha-Corrida, quer assegurar a aprovação das três PECs restantes, duas delas temidas pelos servidores públicos (reformas administrativa e precatórios), e a PEC tributária que promete pesar a mão em cima dos pobres que o governo considera classe média.
        E já tramita em votação outra medida, que aprofunda a minirreforma trabalhista já aprovada, desta vez para retirar direitos pétreos: férias, 13º salário e FGTS, em contrato formal. E pode vir mais bomba para as classes populares - claro, ainda não informadas pelas mídias.

Reflexão final

        Todo o exposto acima traz algumas certezas (ou quase) e uma incerteza. Já se adianta aqui que as certezas sairão nas grandes tribunas do Congresso e na opacidade que fere de morte o princípio constitucional da publicidade dos atos públicos.
        As reformas acima citadas têm chance altíssima de aprovação. Cerca de 70% dos deputados se sujeitam ao Centrão do Ficha-Corrida e se aliam às propostas de Guedes/Bolsonaro. Uma medida fácil de passar é a que dissolve de vez a CLT. Em breve, trabalhadores não mais terão férias, 13º e FGTS.
        Polêmicas, as três reformas afrontam a personalidade cidadã da Constituição, e refletem transição para o caráter anarconeoliberal na medida que são promulgadas. Ao propor reforma estatal profunda, a PEC32 custará muito caro aos recursos públicos, aos servidores e ao funcionamento do Estado. Mas as outras merecem a devida atenção.
        A incerteza repousa mesmo quanto ao 7/9. Pois as ameaças de PMs e outras forças bolsonarizadas podem ser criminalizadas, pois PMs e FFAA, em tese, não devem exercer atos políticos. Entretanto, vale salientar, estamos no governo Bolsonaro, a era do vale-tudo, à revelia da lei.

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Imagem: Google

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=zo9dOgb85CA (Bemvindo Sequeira)
- https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/08/17/defesa-informa-que-nao-havera-desfile-militar-de-7-de-setembro-em-razao-da-pandemia.ghtml
https://veja.abril.com.br/blog/maquiavel/apos-desfile-bolsonaro-tera-agenda-cheia-com-militares-ate-7-de-setembro/
https://theintercept.com/2021/08/21/ruralistas-financiam-manifestacoes-golpistas-7-setembro/
- https://www.metropoles.com/brasil/pms-convocam-apoio-aos-atos-antidemocraticos-de-7-de-setembro
- https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2021/08/23/doria-afasta-comandante-da-pm-em-sorocaba.ghtml
- https://www.cartacapital.com.br/politica/oposicao-e-bolsonaristas-disputam-a-avenida-paulista-para-atos-de-7-de-setembro/
- https://www.metropoles.com/brasil/governadores-sobre-7-de-setembro-pms-atuarao-nos-limites-da-constituicao

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