segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Análise: 12/9, o passeio da terceira via

        As turbulências no dia da Independência, por conta da intensificação da crise entre os poderes invocada por Jair Bolsonaro, geraram ecos. Após o maior manifesto bolsominion da era atual, ao lado das de oposição, surge outra linha de manifesto popular.
        Apesar de contrária a Bolsonaro, esta linha não é a oposição de esquerda, apesar de algumas siglas terem dado apoio. As lideranças de 12/9 são aquelas que impulsionaram o fim da era petista em 2016, e abriram caminhos plenos ao bolsonarismo.
        Será que essa linha pode impulsionar o enterro da era Bolsonaro? Uma pergunta difícil essa, mas plausível de suposições.

Breve compilado histórico da "nova" direita

        A petista Dilma Rousseff foi reeleita por décimos de porcentagem, por decisão final dos mineiros marcados pelas sucessivas más atuações de Aécio e Anastasia à frente do Estado. O segundo mandato de Dilma foi tão turbulento que foi praticamente impossível governar. E isso foi premeditado.
        Com sede de vingança, Aécio prometeu impedir a governança de Dilma, que mesmo assim atingiu as menores taxas de inflação, desemprego e desigualdade socioeconômica. O presidente da Câmara era o cristofascista Eduardo Cunha (MDB-RJ), hoje cassado por corrupção e lavagem de dinheiro.
        Em 2013 estouram as suprapartidárias Jornadas de Junho, enquanto Dilma recebia reivindicações de aumentos salariais da elite do funcionalismo público e interesses estritos do Centrão liderado por Cunha, Aécio, Romero Jucá, Arthur Lira e outros. A então presidente se recusava a negociar.
        Tal resistência fez com que os nomes do Centrão acima e o vice-presidente Michel Temer, junto a outros incomodados com a operação da PF, arquitetassem o processo de impeachment, em um "grande acordo, com Supremo, com tudo", como dissera Jucá, em áudio gravado e vazado.
        Nessa altura, manifestos organizados em redes sociais por movimentos como Vem pra Rua e MBL (Movimento Brasil Livre), entre outros, pipocaram a partir de 2015, reivindicando o fim da era petista, mostrando um caráter ideológico muito mais estrito.
        A maioria dos manifestantes era de classe média cooptada pela elite em bairros nobres, já usando a camisa da CBF para simbolizar a contrariedade com o que se imaginava do petismo: "nossa bandeira jamais será vermelha". É a nova face da direita, na qual Bolsonaro pega carona e se elege. O resto já sabemos e sofremos.

O passeio da terceira via e reflexões finais

        Passado o tempo, eleição de Bolsonaro e suas curriolas sendo aos poucos reveladas em diversas fontes, bem exploradas neste blog, surge a opção por uma "terceira via" para mudar o cenário eleitoral de 2022 que já movimenta nos bastidores, fortemente marcada nos polos Bolsonaro e Lula.
        Também já explorada aqui, a terceira via surgiu como expressão criada pelo grupo do parlamentar Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do MBL e confesso eleitor de Bolsonaro no 2º turno contra o petista Fernando Haddad, e hoje rompido com o governo.
        A defesa da bancada de Kim à terceira via faz sentido: ela é representada por nomes da direita democrática liberal elitista, como João Doria, João Amoedo e Luiz Henrique Mandetta. Estranho no ninho, Ciro Gomes é o único desenvolvimentista. Hoje, o grupo parece dissolvido.
        Mesmo contando com apoio de algum setor de esquerda, esse evento de 12/9 se evidenciou para renovar a visibilidade pública da terceira via, mas a adesão popular foi bem menor do que a vista nos manifestos de esquerda no dia 7. Pelo visto, a estrela não brilhou o suficiente.
        Mas, mesmo sem tanta adesão, o evento viria a se confirmar como, pelo menos, o grande passeio da terceira via, pelos asfaltos mais seus, as avenidas Paulista em São Paulo e a Atlântica no bairro de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Vale tudo para impedir Lula ou Bolsonaro em 2022.

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Imagem: Google

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
- https://www.opovo.com.br/noticias/politica/2021/07/08/mbl-e-vem-pra-rua-organizam-super-protesto-contra-bolsonaro-para-o-dia-12-de-setembro.html



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