A sequência de ataques verbais de Bolsonaro rendeu tiro no pé: iniciada nos bastidores, a debandada já atinge parte dos apoiadores que, e 8/9, se sentiu traída pelo "mito". O que o mantém funcional mesmo zumbi são a condução de governo por Paulo Guedes e a recusa de Arthur Lira em atender ao apelo popular e de colegas pelo impeachment.
Em verdade desejando presidir a República, Lira quer a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, em análise pelo TSE das várias evidências criminais. Por enquanto Bolsonaro segue camuflando o desmonte estatal com suas besteiras.
Em paralelo, a oposição se mexe nos bastidores, impulsionada pelo reacender das manifestações populares e pela liderança eletiva de Lula em 2022, conforme várias pesquisas de cenários simulados efetuadas por institutos e fundações destinados a esse fim.
As principais siglas de centro-esquerda e esquerda já articulam pré-candidaturas para 2022. Há alguns nomes confirmados, mas há muita água para rolar, permitindo análises sobre quais combinações formariam chapas mais confiáveis para um público eleitor cada vez mais arredio.
Tal análise de simulações usando nomes já citados ou cotados é o objetivo deste artigo.
Simulações de chapas - das menos às mais sólidas chances
As simulações a seguir serão divididas em duas referências, uma de centro-esquerda e outra de centro-direita, combinando confirmados e os cotados (não confirmados), sem considerar influências externas. Os cotados são Alessandro Vieira, Marina Silva (centro-esquerda), Flávio Dino (esquerda), Sérgio Moro (centro-direita) e João Amoedo (direita).
Alessandro Vieira (Cidadania)- cotado graças ao destaque na CPI da C19. Em 12/9 esteve com Doria e Ciro na passeata do MBL na Paulista. A seguir, chapas simuladas com Vieira:
Doria- : chapa difícil, pois Doria é um populista impulsivo e privatista. Mas o comedimento de Vieira pode ser positivo, possibilitando equilíbrio. Afinidade pelo incentivo à ciência e tecnologia.
Mandetta- : médico ex-MS e delegado numa chapa de centro-direita. A saúde pública pode ganhar, já que Mandetta viu na C19 o valor do SUS público.
Moro- : chapa centrista de juristas. Talvez atualização no CP e investimento em educação. Mas a imagem de Moro ainda segue manchada após crime jurídico para condenar Lula.
Ciro- : chapa centrista desenvolvimentista com visão possível em C&T e infraestrutura, se o experiente Ciro for o presidente.
Dino- : chapa de centro-esquerda. O experiente Dino é pragmático, requisito presidenciável esperado pelo eleitor. Melhor margem para educação, saúde, C&T e infraestrutura.
Haddad/Lula- : chapa de centro-esquerda, melhor se Vieira for presidente. A influência de Haddad pode ser positiva para ensino, extensão, C&T, mas outros benefícios são presumíveis. Com Lula à frente pode ter resultado semelhante.
Marina- : centro-esquerda. Meio ambiente pode se destacar por influência da ex-MMA, com ajuda educativa, não importando se Marina seja presidente ou vice. Outras políticas podem ser alvos.
Lula e Haddad (PT)- Lula é político inteligente e hábil, e tem carisma e popularidade imbatíveis. Haddad é respeitado professor, ex-prefeito paulistano e ex-MEC; bom ouvinte, só lhe falta pulso de líder. Mas continua no páreo como segunda opção1 petista à presidência.
*A seguir, simulações de chapa com Lula (na presidência, claro) e Haddad:
Doria- : oposição maior com Lula devido a têmperas parecidas; com Haddad, a influência tucana dominaria a condução de governo, em viés mais centro-direita.
Mandetta- : mesmo próximo de Doria, seria mais maleável; seria vice de Lula e presidente com Haddad. Investimentos maiores em saúde e C&T.
Moro- : praticamente impossível.
Ciro- : fora a briga pela ponta, ações desenvolvimentistas planejadas seriam bem positivas. Com Haddad de vice, a chapa seria mais estável e educação seria mais investida.
Dino- : chapas mais à esquerda. Problema: paranoia ideológica do mercado, mas menor com Lula.
Marina- : seria parecida com Lula-Dino, porém mais resistente às pressões externas.
Vieira- : mesmo com Haddad de vice, haveria influência deste nas políticas de educação, saúde, C&T e outras. Com Lula seria igual. Seriam chapa de centro-esquerda.
Doria e Mandetta- são de centro-direita. O governador paulista tucano e o médico (DEM) têm nas vacinas anti-C19 como seu mote eleitoral. Embora sejam de diferentes partidos, suas visões econômicas são bem parecidas. *As simulações com Doria seriam assim:
Mandetta- : chapa de centro-direita. Maior investimento em ciência, pesquisa e produção de vacinas e medicamentos.
Moro- : não deve ser muito diferente da chapa acima.
Dino- : há oposição, mas a experiência e a boa imagem de Dino podem ser salutares.
Ciro- : aposta em ações desenvolvimentistas e certo populismo; com Mandetta parece haver mais solidez.
Marina- : chapa mais centrista, com foco em ações ambientais, C&T e saúde.
Vieira- : chapa centrista, políticas parecidas, talvez, com as das chapas com Marina.
João Amoedo (Novo): o nome mas neoliberal da 3ª via, ainda não se confirmou na corrida, mas vale simular as combinações fictícias a seguir.
Doria- : com ideais econômicos quase idênticos, essa chapa priorizaria privatizar as estatais restantes, talvez ao ponto de secundarizar investimentos em serviços essenciais.
Mandetta- : parecida com a chapa acima, mas talvez sem subestimar demais o social.
Moro- : imaginação difícil, mas entre si a relação seria tranquila.
Ciro- : possíveis atritos na área econômica, e Amoedo iria impor sua influência de banqueiro.
Dino- : tão opostos quanto Lula x Doria, por exemplo. Talvez pior.
Lula/Haddad- : com Lula, possíveis atritos sobre prioridades políticas. Com Haddad, Amoedo se aproveitaria para impor sua influência.
Marina- : também uma dupla difícil.
Vieira- : Talvez Vieira o manipule para financiar certas políticas de interesse público. Talvez.
Reflexões finais
A, combinações foram apenas fictícias, a partir do que se sabe dos perfis políticos e têmperas de cada um, pois foram retiradas as influências de partidos e de seus caciques, apenas a relação com o público eleitor.
Nelas se destacam nomes de centro-esquerda em propostas de políticas públicas, e de economia entre os de centro-direita.
Nomes emergentes- o uso de nomes emergentes responde em parte pelo caráter ficcional dessas chapas, dada a indefinição de planos de governo. Antes cotado, Luciano Hulk foi desconsiderado aqui por ter desistido de concorrer à carreira política, ao menos nesse momento.
Entre os nomes emergentes acima citados, se destacam Dino, Marina e Vieira.
Apesar de ainda não totalmente confirmado, Alessandro Vieira se vê aposta centrista da 3ª via. Já Marina (REDE) é possível de se anunciar já candidata na disputa no ano que vem.
Outro tido como 3ª via, Amoedo ainda vai se confirmar. Percebe certa antipatia popular por ser empresário e banqueiro, com prioridades neoliberais a invisibilizar as políticas realmente prioritárias.
Experiente e popular governador do Maranhão, com ações na educação e saúde, Flávio Dino migrou ao PSB para ser presidenciável. Por ainda enfrentar históricas mazelas sociais locais, vê na presidência oportunidade para mais investimento em seu Estado.
A dificuldade de imaginar o perfil de chapa com Moro se deve à indecisão do mesmo quanto ao cargo eletivo a concorrer (governador, presidente ou deputado). e à falta de políticas prioritárias em fontes. Está ainda sem partido, mas é muito provável que vire tucano.
Ciro, Lula e Haddad- após findar críticas a Lula, Ciro melhorou sua elegibilidade, como mostram as últimas pesquisas de potencial de voto. Talvez seja uma estratégia de seu marqueteiro João Santana. Se vai se reaproximar do petista, só o tempo e as circunstâncias dirão.
Se Lula tem no pragmatismo o grande triunfo nas benfeitorias de seu governo, Haddad o tem nas ideias inovadoras: se eleito no lugar do titular, poderá revitalizar os feitos passados e, se não houver muitos empecilhos2. aplicar inovações na educação, saúde e C&T, revogando os emperramentos da era Bolsonaro.
Aliás, o maior desafio a ser enfrentado por qualquer das chapas eleita à presidência em 2022 será, além de toda sorte de estragos invocados no governo Bolsonaro, a agressividade do bolsonarismo. Pois o "mito" irá embora, mas os bolsominions não. Inteligente será quem pacificá-los. Se conseguir.
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Imagem: Google
Notas da autoria:
1. Em caso (muito provável) de Lula sofrer revés impeditivo à candidatura, como processo judicial ou atentado.
2. Vetos do Congresso (ou do judiciário) a importantes propostas de governo.
*MJ = ministério da justiça; MS = ministério da saúde; MMA = ministério do meio ambiente; MEC = ministério da educação; CP = código penal; C&T= ciência e tecnologia.
Para saber mais
- https://www.jornalcontabil.com.br/conheca-possiveis-candidatos-a-presidencia-da-republica-para-o-ano-que-vem/
- https://www.poder360.com.br/governo/lancado-pelo-cidadania-vieira-se-diz-pre-candidato-essencialmente-de-3a-via/
- https://oglobo.globo.com/politica/pandemia-impulsiona-candidaturas-de-nomes-ligados-saude-nas-eleicoes-de-2022-25116236
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