Enquanto o presidente Jair Bolsonaro passa reveses raivosos em Nova Iorque por conta do Encontro anual da ONU e Paulo Guedes continua na surdina acompanhando a votação das suas sonhadas propostas de desmonte estatal, a CPI da C19 continua a todo vapor.
A todo vapor mesmo, tanto pela vontade da cúpula da comissão, que deseja consertar seus próprios deslizes em novos depoimentos via reconvocação de depoentes que negaram colaborar, quanto dos abusos de depoentes pelo direito ao silêncio e ameaças dos Bolsonaro.
Tendo retornado após o recesso de julho, senadores da CPI ainda deparam com a continuidade da série de abusos já conhecida deles, em especial o do silêncio concedido parcialmente1 pela justiça e numerosas mentiras e distorções.
Percebe-se que certa impaciêcia na tribuna diante dos abusos, mas ninguém quer arregar. E estão certos, uma vez que desejam ir a fundo para mais provas além do volume já recolhido pelo relator Renan Calheiros - mais disposto do que nunca a desmascarar os próximos abusadores.
Mas, agora, os senadores envolvidos diretamente com a CPI estão diante de mais um abuso: as ameaças e afrontas diretas.
Afrontas e ameaças dos Bolsonaro
A CPI tem sido afrontada desde o seu início, nem sempre de forma direta. E os seus principais autores são, diretamente, os Bolsonaro. O presidente tentou desmoralizá-la para seu fã-clube. Eduardo fazia o mesmo na Câmara, Carlos mexia com fake news e Flávio tem tumultuado.
Por ser senador, Flávio foi direto, com tumulto, olhar intimidador e até ameaças veladas. Depoentes mais dispostos a falar sofreram. Carlos Wizard se viu tão intimidado que se silenciou bem e fez verborreia com sermões bíblicos, que foram explorados por Simone Tebet para desarmá-lo.
Na sua segunda aparição na CPI, o ex-MS Pazuello abusou da mentira. Além de servir para sair da reta, serviu para acalmar Flávio, que tumultuava o tempo todo, ao ponto de Renan interferir para ser chamado de vagabundo, e responder à altura, calando o colega. Renan era o alvo dileto do abuso.
Flávio usou o tumulto quando a intimidação com o olhar não era exitosa o bastante. Mas a sua verborreia foi por vezes calada, pelos sermões de Omar Aziz, presidente da CPI, ou por outros colegas impacientes e cientes das suas intenções.
Mas dois depoentes foram indigestos para Flávio: os ex-aliados e agora desafetos deputado Luiz Miranda, e ex-governador do RJ Wilson Witzel. Sem se intimidarem, foram peças-chave em jogarem muito dejeto no ventilador, inclusive envolvendo diretamente os Bolsonaro nas tramoias.
Witzel chegou a desafiar Flávio na tribuna durante tumulto. Após depoimento público, explorado neste blog, expôs mais coisas em reservado e ainda solicitou aos senadores proteção para si e sua família, pois conhece bem as influências da família.
Jair Renan- o filho 04 do presidente da República tem sido alvo de olhares investigativos devido às ações empresariais para lá de suspeitas. A começar pelo número de empreendimentos, superior à sua própria idade, conforme revelado pelo canal Meteoro Brasil, no Youtube.
Daí se compreender por que ele é investigado por tráfico de influência. E, como se não bastasse, o próprio postou vídeo à vontade em seu quarto, mostrando uma maleta com armas dirigindo-se para a CPI, com um sorriso cínico. Foi claramente uma ameaça.
Diante dessa afronta, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) protocolou convocação de Jair Renan para depor na CPI. Ele é apontado em alguns depoimentos já relatados como estando por trás de empresas partícipes de negócios obscuros com o MS.
Bem, se ele foi convocado para se explicar sobre tais participações, ou por causa da ameaça clara por conta do vídeo, ou ainda, por ambos os temas, ainda não sabemos muito bem.
Afrontas de depoentes
Alguns depoentes também deixaram marcas tumultuadas na CPI, com direito a sessões encerradas para reconvocação posterior. O pico de calor veio no depoimento do jovem CGU Wagner Rosário, cuja arrogância só mostrou a escolha a dedo por Jair Bolsonaro. É um determinado bolsonarista.
Rosário teve na afronta o meio de enrolar nas respostas, gerando muitos momentos tensos. Aziz o reprimia o tempo todo, mas não adiantava muito. Depois de afrontar Randolfe, desrespeietou Simone Tebet, no clímax do dia, ao ponto da maioria dos senadores solidarizar-se com a emedebista.
Tudo porque, tal como Randolfe, Simone Tebet mostra sua abordagem fecha-cerco, com mostras de documentos e outras imagens reveladoras dos crimes tratados. A agressividade de Rosário com ela derivou do xeque-mate de Tebet ao questionar a atuação dele como CGU.
Nesse dia 21/9 foi a vez de Pedro Benedito Batista Jr., diretor executivo da Prevent Senior, que prestou testes com tratamento com kit-C19 solicitados conforme protocolos descritos pelo então MS Pazuello, cujas evidências revelaram intenções análogas às dos nazistas.
As evidências foram laudos de morte excluindo C19, contendo descrição do tratamento precoce preconizado pelo ex-MS Pazuello, bem como denúncias de ex-médicos de ameaças a proceder tal tratamento e excluir a C19 (e sequelas do próprio tratamento errado persistido) como causas mortis.
Entre documentos de vítimas mostrados a pedido de Randolfe Rodrigues, estavam o dr. Wuong (o "dr. Cloroquina") e Regina Hang, mãe do nefasto Luciano Hang, que foi chamado de "desalmado" por Otto Alencar, graças à propaganda e campanha de promoção do kit-C19.
O citado diretor foi esquivo quando conveniente, e sorria com deboche. Negava a sua atuação apesar das evidências, para responder "não posso falar sem autorização..." terceirizando a sua própria responsabilidade pelos danos. Foi quando Aziz o comparou aos peixes muito lisos.
Neste 23/9 foi o empresário Danilo Trento a depor, abusando do direito de silêncio ao ponto de a CPI querer dialogar com o STF sobre isso. Sobre a relação de Trento com os Bolsonaro, a afirmação veio na trocentésima vez, perguntada por Randolfe. Nesse ponto a CPI venceu pelo cansaço.
Danilo Trento está envolvido até o pescoço em várias "empresas de prateleira" especializadas em lavagem de grandes somas de dinheiro público. Como finalizou o senador Fabiano Contarato, Trento é "o lavador geral da República", por conta da atuação dessas empresas, incluínda a Precisa.
Reflexões finais
As mentiras reiteradas, abusos no direito de silêncio, deboches fazem parte do pacote ideológico do bolsonarismo, pois vale tudo para que tenha caminho de se esgueirar nas inquirições da CPI. Isso além da afronta agressiva, ameaças e olhares intimidadores, cortinas de fumaça e tumultos.
Essa diversidade de meios de enfrentar o interrogatório da CPI é usada para desviar, depreciar, tripudiar, enganar. distrair ou desconcentrar, tentar vencer pelo cansaço. São as armas do pacote, de acordo com o temperamento e as preferências de cada depoente envolvido com os Bolsonaro.
Tudo isso revela o cerne da retórica bolsonarista: o ódio. Por tantos meios de se desmonstrar tal sentimento, não é por acaso que o ódio é o maior dos desafios da CPI. Ainda que tenha colhido alguns bons frutos, valiosas provas que, quiçá, possam levar o feitiço voltrar-se contra o feiticeiro.
Quem sobreviver, verá.
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Imagens: Google
Notas da autoria
1. A concessão em permanecer em silêncio só se permite em indagações sobre fatos a comprometer o depoente solicitante, não cabendo a qualquer fato abordado no interrogatório.
Para saber mais
- https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2021/06/analise-cpi-witzel-e-merda-no.html
- https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/07/4937694-tebet-aponta-flavio-bolsonaro-ele-nao-tem-coragem-de-falar-o-que-me-disse.html
- https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/09/21/em-depoimento-tenso-wagner-rosario-nega-omissao-da-cgu-no-caso-covaxin
- https://g1.globo.com/politica/cpi-da-covid/noticia/2021/09/21/ministro-da-cgu-nega-prevaricacao-e-diz-que-nao-teve-acesso-a-informacoes-sobre-lobista-na-saude.ghtml
- https://www.metropoles.com/brasil/politica-brasil/cpi-da-covid-depoimento-ministro-cgu-wagner-rosario
- https://congressoemfoco.uol.com.br/legislativo/cpi-da-covid/apontado-por-prevaricacao-ministro-da-cgu-depoe-a-cpi-da-covid/
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