quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Análise: quem seria o vice ideal de Lula?

 

        Depois de ter chamado o agora ex-tucano Geraldo Alckmin para compor a chapa pré-candidata à concorrência eleitoral neste 2022, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem sendo alvo de novos (e muitos) debates, que se afirmam mais nas redes sociais do que nos grandes canais de mídia. Nesses debates, formais ou informais, reina soberana a controvérsia.
        As motivações da controvérsia são principalmente partidárias e políticas, formando uma verdadeira polarização interna a revelar pelo menos duas correntes de esquerda, cada qual um verdadeiro mosaico de pormenores para as suas afirmações. E olha que isso se materializa antes do aceno oficial de Alckmin pela chapa, pois ele ainda dialoga com o exigente PSB, que o quer para apoiar o PT na presidência.
        O interessante é que Alckmin ainda nem acenou para a filiação ao PSB. Segundo as mídias têm publicado, ele ainda pende para entrar no já manjado PSD, uma das mais proeminentes siglas do famigerado e trilhardário Centrão na Câmara dos Deputados.
       Mas, se já existe tanta controvérsia antes da oficialização da chapa, qual seria o "parça certo" para compor a chapa a ser considerada ideal e de pleno acordo entre as correntes da esquerda? Por que Lula quer Alckmin? Essas perguntas serão respondidas no possível, mas antes vale detalhar um pouco os pontos destacados pelas correntes pró e contra essa chapa.

Controvérsias da chapa, polarização na esquerda

        O centro a que se relaciona a controvérsia sobre a chapa está na reconhecida referência em que se transformou o Partido dos Trabalhadores (PT) em 30 anos, desde que Lula se tornou a maior liderança da bancada de oposição aos governos Collor e Fernand Henrique Cardoso. Não é para menos.
        Nascido em 1980 e tornado partido 2 anos depois, o PT é hoje a principal sigla no seio da esquerda brasileira. e a maior dessa posição na América Latina. Apesar da proximidade com grupos liberais nas eras Lula e Dilma para governar, o PT permanece referência nas reivindicações políticas de bem-estar social no Brasil, e em eventos progressistas no Cone Sul.
        Para tanto destaque entre os movimentos progressistas, todo esse referencial tem se materializado através de figuras-chave constantes na sigla, em primeiro lugar o próprio Lula, o grande idealizador e fundador partidário junto a vários intelectuais, organizadores de movimentos sociais urbanos e rurais e religiosos libertários.
        Assim, para especificar as motivações, vale destacar os tópicos das duas correntes, a contrária e a favorável à formação da chapa Lula-Alckmin.
        Movimento contrário- se baseia principalmente nos motivos de hegemonia do elitismo, o trauma do risco de impeachment e a contradição ideológica de Lula e Alckmin. 
        Hegemonia do elitismo- como todos os governos petistas formaram chapas com representantes do liberalismo econômico, em nenhum momento as reivindicações das elites deixaram de ser atendidas. Os grandes grupos econômicos nunca foram punidos nas suas sonegações e lucraram nos governos. 
        Para os contrários à chapa com Alckmin, Lula corre sérios riscos de não conseguir consertar os graves estragos sociais, econômicos, legais e institucionais do bolsonarismo.
        Risco de impeachment- o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 é considerado golpe tramado por gente do MDB, PSDB e Centrão conluiada com nomes do país e dos EUA. Daí a desconfiança em Alckmin, que ainda pode manter relação com os antigos colegas e daí fluir interesses suspeitos.
        Contradição ideológica- é vista como perigosa e impeditiva para a governabilidade progressista.
        Movimento favorável- mesmo valorizando a supracitada história e importância do PT e a própria biografia de Lula e outros petistas históricos, a posição favorável é motivada mais na conciliação de interesses de classe e também na elaboração de políticas públicas.
        Conciliação de interesses- esse movimento entende a aliança como parte do gênio conciliador de Lula: "se não puder ir contra o inimigo, junte-se a ele", para tirar vantagem para as classes populares e tomar medidas de recuperação do país, sem prejudicar os interesses de cima. 
        Baixo risco de impeachment- o gênio conciliador de Lula poderá tornar improvável a possibilidade de impeachment: essa visão se baseia justamente nos governos Lula, tendo vices empresários.
        Conciliação ideológica- para o movimento, o caráter conciliatório de Lula chega nesse patamar, uma vez que há relação com o encontro de interesses. Entre os favoráveis se deduz que, por ser médico de formação, Alckmin possa ser favorável ao SUS, enquanto vice de Lula.

O que pode viabilizar (ou não) a chapa
        Tanto os contrários quanto os favoráveis à chapa estão dentro e fora do PT, e entre apoiadores não petistas, revelando forte polarização, cuja influência sobre a chapa ainda não sabemos. Mas surge outro fator que pode influir muito: a reforma trabalhista.
        No momento, o que parece ser uma das principais propostas de Lula é a revogação da reforma trabalhista, que Alckmin diz ser uma temeridade, segundo conversa que teve com Paulinho da Força, que o convidou para se filiar ao Solidariedade. 
        Paulinho endossou a fala de Alckmin, justificando que as centrais sindicais discordam da proposta, enquanto o ex-tucano alegou na possibilidade do empresariado de cortar as delicadas relações ainda em construção com o possível retorno do petista à presidência.

Quem seria o vice ideal para Lula? À guisa de reflexões finais

        Enquanto Alckmin ainda não se confirma para formar chapa com Lula para a eleição de 2022, há forte especulação sobre outras possibilidades, outros nomes. Como Lula disse, "já tenho 22 vices", em seu discurso no Parlamento Europeu na Bélgica, durante tour pela Europa, onde foi bem recebido por vários governantes.
        Esse debate sobre quem seria o "vice ideal" de Lula ainda é forte entre a militância petista, até em razão da polêmica em torno da aliança com Alckmin. Alguns nomes surgem e ainda são discutidos (em artigo neste blog há tema sobre isso). Os nomes abaixo estão conforme a fonte Brasil de Fato:
        Haddad (PT)- prevalece a lealdade. Formaria chapa puro-sangue se o PT não conseguir aliançar com PSB, PSD e PCdoB, e se Haddad abrir mão da candidatura ao governo de SP.
        Marina Silva (Rede)- Além de ter apoiado Haddad em 2018, Marina pode ser uma boa opção para a pauta ambiental, o principal tema diplomático do momento. 
        Rodrigo Pacheco (PSD)- presidente do Senado, ele disse ter boa relação com o PT apesar de não conhecer Lula pessoalmente, e publicamente não pretender ser vice dele: é pré-candidato à Presidência.
        Flávio Dino (PSB)- o governador maranhense demonstra interesse em estar com Lula em chapa possível. Enquanto Lula não acena, Dino conversa com seu atual partido para reaproximar com o PT.
        Luiza Trajano- a dona da Magazine Luiza (Magalu) é benquista por parte do PT, pela causa da vacinação e projetos de inclusão social de negros e outras minorias. Mas ela se nega a entrar na carreira política, mesmo tendo boa relação com Lula e Dilma.
        Paulo Câmara (PSB)- o governador reeleito de Pernambuco manifesta amplo apoio ao petista, e não esconde seu desejo de ser vice dele. Se escolhido para vice, poderá reaproximar PSB e PT.
        Henrique Meirelles (PSD)- foi ministro de Lula. Ainda que queira se candidatar a governador de Goiás, pode ser indicado para vice de Lula se houver acordo PT-PSD. Pessoalmente não acenou.
        Simone Tebet (MDB)- é pré-candidata à presidência pela 3ª via, mas tem boa relação com o PT. Reaproximou-se do colega e cacique Renan Calheiros, que quer o MDB apoiando Lula.
        Omar Aziz (PSD)- o destacado presidente da CPI da C19 tem boa relação com Lula, demonstrada quando foi governador do Amazonas. Se ele entra de vice, dois assuntos delicados entram aí: a questão da Amazônia, e o apoio a Bolsonaro ainda relevante na região.
        Fabiano Contarato (Rede)- outro destaque da CPI da C19, o senador foi convidado a se filiar ao PT. Mas, sinaliza debate em campos nos quais o PT ainda tem certa dificuldade de diálogo.
        Josué Gomes (PL)- o filho de José Alencar, finado vice de Lula, é empresário e presidente eleito da Fiesp. Tem proximidade com o Centrão, dado o seu partido.
        Ciro Gomes (PDT)- suas críticas a Lula e Haddad desgastaram suas possibilidades de candidatar à presidência. Como há lideranças próximas dos petistas, sua reaproximação é possível, mesmo difícil.
        *Roberto Requião (sem partido)- o ex-senador foi o único no MDB a votar contra a deposição de Dilma Rousseff em 2016. Hoje sem partido, de olho no governo do Paraná, tem forte proximidade com Lula e outros petistas, mas ainda não há registro de sua possibilidade de ser vice dele.

        Os nomes acima (incluindo o bônus Requião) aparecem como meras especulações assinaladas por analistas e, em parte, pelo senso comum. Até mesmo Alckmin entra no campo da especulação até o presente momento, dados os fatores acima citados, dado o risco de se esmorecer, apesar da preferência indisfarçável de Lula pelo ex-tucano.
        A proximidade de Requião com os petistas o tornou o único a contrariar o MDB, seu partido por 40 anos, ao votar contra o impeachment de Dilma. O atual apoio a Lula é forte. Mas ele é um boquirroto: pode ver como desaforos situações que o desagradem. Daí ter protagonizado uma polêmica.
        Ele convidara a então presidente Dilma para recepção de seu aniversário. Dilma não compareceu, mas pediu ao seu motorista enviar uma dedicatória escrita. Quando foi a vez dela aniversariar, Requião deu troco idêntico. 
        Nesse sentido pode parecer uma fria tê-lo como vice, mas Requião é velha raposa política. O que alguns nomes acima listados podem não ser. E, quiçá, seja alguém assim um vice ideal de Lula...
        Calma. É só especulação. 

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Imagem: Google

Notas da autoria
*Bônus do blog, não consta em fontes em relação à possível ideia de formar chapa com Lula.

Para saber mais
- https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2020/12/petismo-ou-lulopetismo-resultado-final.html
- https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2021/09/analise-opcoes-e-desafios-da-esquerda.html
- https://revistaforum.com.br/politica/paulinho-da-forca-diz-a-alckmin-que-centrais-nao-defendem-revogacao-da-reforma-trabalhista/
- https://www.brasildefato.com.br/2021/11/17/geraldo-alckmin-sera-vice-do-lula-conheca-os-possiveis-nomes-e-suas-chances-de-ocupar-o-posto
- https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/coluna-esplanada/requiao-quer-disputar-governo-do-parana-e-ensaia-filiacao-ao-pt/
- https://www.youtube.com/watch?v=a7E6eQMMpJg

        

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