sábado, 3 de setembro de 2022

CURTAS - ANÁLISES RÁPIDAS 4

 

        E continua a saga das curtas... 4ª parte de Análises Curtas.

SABATINAS (última da semana)
-Tebet no bistrô do Agro

        Para encerrar a semana de sabatinas com os presidenciáveis, o nome da vez foi Simone Tebet (MDB-MS). Ela é um dos dois únicos nomes femininos na corrida presidencial, e a que tem mais intenções de votos, com 2%, segundo pesquisas recentes.
        O ponto positivo dessa sabatina que alcançou o clímax de um ambiente de bistrô foi a maior diversificação de temas abordados, com mais equilíbrio na distribuição de tempo. Clara estratégia da grande mídia na busca de um destaque para a mulher que tem como principal slogan a representatividade feminina.
        Doce sabor da ironia: a Simone Tebet que vende a sua candidatura como representativa para as mulheres foi a mesmíssima que votou, em 2016, pela deposição de uma mulher presidente, por crimes que o próprio ex-presidente Michel Temer posteriormente negou existir, em duas entrevistas.
        E todos já perceberam que a candidatura de Simone Tebet se vale do seu reconhecido destaque na CPI da C19. Mesmo que alguns o cacique emedebista Renan Calheiros prefira apoiar Lula.
        Apesar da visível preferência atual da grande mídia em apoiar Simone Tebet como o destaque da 3ª via para a presidência, quem prestou atenção funda em detalhes da sabatina, notou derrapadas.
        Mesmo sorrindo, as respostas de Simone foram tão rasas quanto as perguntas. Cada tema durou pouco, mesmo o agronegócio, tão forte em Mato Grosso do Sul. E, mesmo professora, secundarizou o tema Educação em termos de prioridade.
        A prioridade de Tebet é o "trabalho do povo" como solução para a crise econômica, sem explicar meios de investimento para isso. Ficou no ar a sensação de que a culpa pela crise é dos desempregados. Só faltou o sarcasmo de Temer junto a empresários após o golpe de 2016: "pobre, trabalhe".
        Foi como criticou o jornalista e youtuber Álvaro Borba, no seu canal Meteoro Brasil: o povo é tido como uma máquina cujo trabalho rende os frutos para salvar a economia. "Pobre, trabalhe". Mas, não deveria surpreender. Esse, aliás, é o lema do MDB, hoje e sempre.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=U1xAHgeFnU0
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Grande mídia despreza os nanicos

        A semana de sabatinas com os presidenciáveis pelo JN foi positiva no sentido de os candidatos melhor se manifestarem tanto sobre suas experiências passadas quanto na apresentação de propostas de governo.
        Para a Rede Globo de jornalismo foi uma ideia brilhante. Muito mais para chamar mais audiência do que propriamente uma preocupação com os programas de governo dos presidenciáveis. E para os expectadores mais conscientes e críticos, foi uma oportunidade de expressar análises bem frias.
        Os âncoras e entrevistadores William Bonner e Renata Vasconcellos variavam sua expressividade da mesma forma que variavam os focos das perguntas, demonstrando nitidamente os focos de interesse que revelavam o caráter político-ideológico neoliberal da maior emissora de TV aberta do país.
        Se com Lula foram duros sobre os fatos pretéritos de corrupção, com Bolsonaro pegaram leve no esgoto que banha seu governo; com Tebet sequer tocaram na invasão latifundiária de terras indígenas com direito a matanças, e com Ciro foi quase um happy hour de luxo. 
        Nem Felipe d'Ávila foi chamado. Talvez por não ter firmeza nem em propor privatização. Nem Constituinte Eymael, que já disputou outras vezes. O único nanico lembrado foi Janones, que abriu mão da candidatura e foi convidado por Lula para ampliar a frente democrática de apoio.
        Nisso, outros nomes permanecem desconhecidos do grande público, como Leo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB), e Vera Lúcia (PSTU), todos continuando em cifra inferior a 1% cada. Se Janones, que estava nesse patamar antes da desistência tinha sido convidado pela emissora, vale a explicação.
        Os três nomes citados não têm qualquer identidade política com a grande mídia. Mais do que isso, é ideológica. Serem representantes trabalhadores não justifica: Lula já foi operário, e Janones também. A diferença é que Janones é do Avante, um partido centrista tão nanico quanto ele próprio foi.
        A diferença é que o nanico Janones agora está grande, e exerce importante efeito na campanha de Lula no quesito comunicação nas redes sociais. Apesar da forte reação a bolsonaristas no estúdio do debate, ele responde também pela atual liderança de Lula também nas redes sociais.
        Falando em Janones, vale o aviso aos nanicos da esquerda invisibilizados pela grande mídia, razão do desconhecimento público: se aproveitem da internet e das redes sociais como caminho para reverter esse efeito contrário. As redes são do capital, mas o "veneno" esquerdista pode ser positivo.

Primeiro debate, primeiro embate

        Em decorrência do atraso devido a trabalhos em particular, e 
        Na falta momentânea de outras notícias relativas a esse momento decisivo da corrida eleitoral, em primeira mão escrevo este artigo dentro desse 4º episódio da série de análises curtas. Só que o texto terá mais características de artigo solo, devido aos pormenores, mas será mais curto do que o normal.

        No domingo, a produção da Band TV em São Paulo se preparou para o grande momento: abrir o primeiro da série de debates dos presidenciáveis, a se desenrolar antes das eleições. Os confirmados: Lula (PT), Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraia Thronicke (U. Brasil) e Felipe d'Ávila (Novo).
        O clima já estava pesado antes mesmo do debate. A começar pela mediação de Vera Magalhães, uma mulher. Nos cumprimentos dos candidatos, Bolsonaro recusa o aperto de mão de Lula dizendo: "não cumprimento ladrão". A fala já mostrava quem seria o maior alvo do tiroteio verbal que se seguiu não só do atual mandatário.      
        Os comportamentos e as expressões dos candidatos nos diálogos foram as réguas a medirem seus respectivos desempenhos, que foram respondidos por populares que compareceram ao estúdio.
        Num auditório se reuniram as equipes de jornalistas e também políticos das redes de apoio dos candidatos. Nele, o clima esquentou: o bolsonarista Ricardo Salles provocou André Janones, o Carluxo (às avessas) lulista. Na fervura, só não foram às vias de fato porque foram contidos pelos presentes.
        Enquanto isso, o clima  já transcorria solto e quente no estúdio, entre os candidatos. Em vários momentos Vera procurava apaziguar os ânimos. O que foi difícil, pois em um momento ela própria foi vítima de uma declaração sexista jocosa de Bolsonaro. Para variar.

A análise fria dos desempenhos- os comportamentos e expressões dos candidatos foram parâmetros de medição de seus respectivos desempenhos, avaliados por populares presentes no estúdio, convidados a assistirem e darem suas respostas sobre quem foi melhor ou pior, sem influenciar a eleição.
        Soraia Thronicke- a ex-bolsonarista sulina teve desempenho repreensível. O autoritarismo na face e no dedo em riste despertaram certa antipatia geral. Ao questionar Lula nas políticas sociais petistas, recebeu a resposta: "a sra não viu, mas seu motorista viu, o seu jardineiro viu" do ex-presidente. Não conseguiu argumentar.
        Seu ponto mais positivo foi ter se tornado conhecida pelo público entre os nanicos ignorados pela Globo na série de sabatinas. Mas teve um saldo positivo: está com 1% de intenção de votos.
        Felipe d'Ávila- este quase fez chorar de tão pífio foi seu desempenho. Mais pareceu uma vitrola com disco arranhado ao dizer a mágica "tem que privatizar tudo, é o caminho". Foi o pior de todos. O nanico só foi chamado por ser do Novo, partido de trilhardários brancos, que a grande mídia adora.
        Apesar de representar bem a patota dos poderosos, o candidato do Novo personifica um defeito presente no seu partido, o Novo: ser composto por gente que vive num mundo totalmente paralelo à realidade popular, sem obter a simpatia da grande massa. Seus destaques são próximos de Bolsonaro.
        Jair Bolsonaro- concorrente à reeleição, praticamente botou tudo a perder ao destratar a jornalista da Band com seu sexismo misógino e jocoso, ao depreciar sua atuação. Insultou Lula, foi mal educado com outros adversários, e sempre entre cínico e agressivo, mentiu nas respostas.
        Pelo visto, sua esposa Michele terá que rezar o dobro, com direito a língua enrolada e simpatias, para segurar as penas que restam na peteca que caiu. O problema é saber se terá algum efeito, nesses 30 dias tão decisivos da eleição.
        Simone Tebet- foi considerada o melhor nome do debate pelos cidadãos entrevistados no estúdio. Foi dura com Lula no surrado assunto de corrupção, e também foi firme com Bolsonaro, apesar deste mentir descaradamente na pergunta sobre sua faltosa política relativa à mulher. Mas foi só.
        Tebet falhou em não cobrar a Bolsonaro explicações sobre os escândalos de corrupção seguidos no governo. Talvez já esperasse algumas mentiras, ou algum insulto por ser mulher. Não sendo cobrada sobre os horrores dos latifundiários em sua terra natal, passou a impressão de (falsa) excelência.
        Nesse despercebimento público, a emedebista teve forte subida na pesquisa mais recente.
        Ciro Gomes- seu ponto alto foi responder a Bolsonaro pela jocosidade contra a jornalista, até se referindo a um fato pretérito próprio que reconhecera errado. Foi sincero, firme e elegante. Os piores momentos se referiram aos continuados ataques à Lula, e uma insinuação sobre a saúde do petista.
        Como Bolsonaro não retrucou, entre a patuleia e influencers populares se confirmou a suspeita de sua inegável misoginia.
        Mas, na mesma resposta a Bolsonaro, Ciro emendou sobre o governo deste ao mencionar que "não combateu a corrupção do PT e de Lula" em reiterado ataque ao petista, e não cobrou explicações sobre os emporcalhamentos no governo do ex-militar. Nesse momento derrapou.
        Outra derrapada foi ter insinuado sobre a saúde do petista, seja pela voz, idade ou aparente cansaço no início do debate.   
        Lula- muito bombardeado pelos demais, não teve a proeminência que esperávamos, afetando o seu desempenho para os cidadãos entrevistados. Evitou discussões acaloradas. A posição foi considerada "conservadora", e foi motivo de muitos comentários em redes sociais.
        A idade não justificou a conduta de Lula. Ele faz exercícios físicos e check-ups regularmente, após a cura do câncer da laringe durante o seu governo. A razão está na sua voz, mais rouca e baixa do que o normal. O que não impediu os poucos e bons momentos como a elegante resposta para Soraia.

Reflexões finais
        Vale salientar que o bombardeamento sofrido por Lula sobre a corrupção na era petista não se deu exatamente pelos fatos em si, mas sim pela sua liderança nas pesquisas. Segundo cientistas políticos, essa correlação é usual e por isso não se surpreende sua ocorrência.
        Não surpreende, mas parece no mínimo estranho que as mídias em geral não analisaram por que Simone Tebet e Jair Bolsonaro não sofreram a devida cobrança dos demais durante o debate. Acredito ser possível falta de percepção entre as mídias mais críticas, e certo propósito entre as grandes.
        Não foi somente Lula que falhou em não responder ou cobrar Bolsonaro sobre tantos fatos além do nível inaudito de corrupção e gravidade dos fatos. Os demais também falharam. Nem Tebet foi cobrada a explicar sobre a PEC que indeniza latifundiários criminosos. É estranho, mas não misterioso.
        Essas faltas, tanto das mídias quanto dos candidatos, foram cruciais para uma avaliação popular superficial no estúdio da Band. Sabemos que a grande mídia acaricia Ciro e Tebet, nomes da querida terceira via, possíveis de continuar com Guedes ou ter um similar, em caso de um deles eleito. Isso deve ser considerado como fator importante nas análises que já sabemos.
        Avaliação popular- como avisado pela emissora, a avaliação do desempenho dos partícipes pelos populares não em implicação eleitoral. Mas foi interessante, pois revela uma possível maneira usada pelos eleitores para a futura escolha, e também gerou subsídio para as pesquisas pós-debate.
        As primeiras pesquisas pós-debate revelaram dados que dificultam a chance de Lula vencer no 1º turno, e queda ligeira para Bolsonaro. O fator foi o salto de 3 pontos de Tebet e 2 de Ciro. A queda do presidente se deveu ao aumento da rejeição feminina devido ao insulto à jornalista.
        Mas, reforçando o aviso da emissora, a avaliação popular no estúdio não tem implicação eleitoral. Ciro e Tebet no máximo tiveram aquela sensação agradável de que vale a pena continuar tentando as futuras oportunidades eleitorais. Mas, valeu. Agora, que venha o próximo e mais esperado debate, na Globo.
        Onde esperamos que, pelo menos, Bolsonaro não seja mais blindado pelos próprios adversários.

Imagens: Google

Fontes: várias; a análise acima foi por observação da própria autoria.
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