quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Análise: é outra ameaça?

 

        Muito se fala dos avanços sociais ocorridos como destaque na era petista como um todo. De fato, mesmo relativamente tímida diante da agressividade neoliberal iniciada nos anos 1970, tais avanços foram inéditos, com premiação internacional do programa de combate à fome. E, se eleito, Lula espera muito retomar esse avanço no pós-bolsonarismo. 
        Mas, vale apontar outra seara muito elogiada na era petista: a diplomacia. Além dos avanços sociais baseados na política de combate aos flagelos sociais já conhecidos, a diplomacia rendeu ao Brasil petista grande respeito internacional com a equipe liderada por Celso Amorim que, inclusive, já foi premiado como o melhor diplomata do mundo.
        Mas, será que Amorim será chamado novamente para chefiar o Itamaraty? Afinal, ele está com uma idade decerto avançada e já teve o seu lugar no órgão por anos a fio, sendo o chanceler que mais tempo ocupou o cargo na história da nossa República.
        A busca de nomes para compor equipes de governo indica que as propostas de governo estão definidas. Embora pareça previsível, a busca de Lula pode envolver nomes inéditos, o que é chance alta, devido ao envelhecimento dos conhecidos como Celso Amorim.

Velho Lula, algumas novidades

        As mídias já divulgaram as propostas de governo dos candidatos, mas ainda não os nomes para as equipes de governo. Talvez por estarem em fase de definição, ou por não ser momento oportuno. Mas, todos sabem que a grande mídia tende a focar em nomes da economia, dados os interesses do mercado.
        Mas, mesmo aí será necessário alguém habilidoso e com plano de grande potencial efetivo, para tentar mudar o quadro depredado pela política econômica de Guedes. Alguém que tenha visão ampla e radical para "mudar isso aí"¹.
        Alheio ao apelo midiático, Lula sabe que há muito a ser mexido. O aparelhamento institucional imposto por Bolsonaro foi tamanho que tornou impossível governar efetivamente, isolando o Brasil internacionalmente, com direito a hostilidades diplomáticas.
        Foi por isso que Lula aproveitou o tour pela Europa em 2021, ainda que este fosse tratado com escárnio pelos bolsonaristas por aqui. Mas foi um plano diplomático devidamente estratégico, pois o experiente político já sabia até onde foi a má influência do bolsonarismo nas questões internacionais.
        Nessa luta pela recuperação diplomática e diante da possibilidade de recusa de Amorim de voltar a ser chanceler por questão de idade ou opção, uma novidade aparece na seara: Hussein Kalout. Ele foi chamado a partir da indicação do advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin.

Hussein Kalout
        Filho de libaneses, Hussein Ali Kalout é graduado em Ciência Política e Relações Internacionais pela UnB², mestre em Relações Internacionais na mesma universidade e pós-graduado em Economia Política na Universidade Árabe de Beirute. Foi secretário de Assuntos Estratégicos no governo Temer.
        É professor-pesquisador na área internacional na Universidade de Harvard (Chicago, EUA) e secretário de Relações Internacionais no Supremo Tribunal de Justiça. Fala francês, inglês, espanhol e árabe, entre as línguas estrangeiras. Já escreveu para a Folha de S. Paulo e tem vários livros publicados.
        Como se vê, o currículo do cara impõe respeito, causa inveja em alguns e atrai outros. Nessa reta final de campanha para as eleições, ele se reaproximou do PT, mas algo parece incomodar uma parcela dos integrantes do PT. Os informes se baseiam no The Intercept Brasil, através da Folha de S. Paulo.
        Razões do incômodo- em verdade, não é o moço em si que incomoda algumas lideranças petistas, e sim as relações com terceiros. Um caso é outro especialista em Relações Internacionais, Marcos Degaut, que já participou de dezenas de publicações de Kalout. 
        Degaut foi secretário do bilionário setor Produtos de Defesa, do Ministério da Defesa, que compra bens bélicos para as FAs. Nele, milicos lobistas de multinacionais de armamentos transitam livremente, conforme reportagem da Folha de São Paulo. Degaut nega relação com os lobistas.
        Degaut chegou a ser nomeado embaixador do Brasil nos Emirados Árabes, mas o Senado travou. Através dele, representantes da EDGE, empresa de mísseis e programas espiões daquele país visitaram uma base em São José dos Campos, SP. Fundou com Kalout o Instituto Kalout-Degaut de Política Estratégica em 2015, fechada após Kalout viajar com Lula pela Europa em 2021.
        Outra relação incômoda de Kalout é com o vice-presidente Hamilton Mourão. Segundo outra matéria da Folha, ele teria se aproximado do general e de Guedes, com os quais teria participado de um almoço. Kalout nega tais relações, bem como esse encontro.
        Outro fator de incômodo, segundo tais lideranças petistas, é a visão diplomática de Kalout diferir da de Amorim, graças à sua articulação com o colega de Harvard Oliver Sachs, versado em política de combate à miséria, e com o Grupo de Puebla, que reúne líderes progressistas da América Latina.
        Espera-se que, se Lula for eleito, Celso Amorim nomeará para chanceler um diplomata de carreira, o que não seria o caso Kalout. Nesse aspecto, para os incomodados, a articulação ativa deste último seria uma possível ameaça à bandeira diplomática levantada por Amorim.
        Kalout e Degaut hoje- ambos atualmente se afastaram. Segundo Degaut, a proximidade entrou em desgaste ainda em 2018, na eleição de Jair Bolsonaro e com o citado Instituto ainda aberto. Abordado pelo The Intercept, disse não ter mais relação nenhuma com Kalout, em especial após a aproximação deste com o PT.

Reflexões finais
        Embora não tenhamos provas de sua veracidade, a resposta faz sentido. Foi após a eleição do pai que Eduardo se aproximou de Degaut para atuar nos postos supramencionados. Afinal, nada de fato mais antagônico do que as perspectivas bolsonarista e lulista em si.
        A julgar pelo que parece indicar a resposta de Degaut, tudo indica que, pelo menos politicamente, os dois moços são manifestamente antagônicos, ainda que possam negar suas respectivas afinidades com o bolsonarismo e com o lulismo. De toda forma, os rumos tornariam inviável a continuidade da parceria.
        Por outro lado, fica inconcluso que Kalout seja de fato um contraponto diplomático de Amorim. Ainda que tenha viajado com Lula pela Europa em missão diplomática, não há indícios, até o momento, de que ele seja um nome possível para o Itamaraty. Nem o próprio Kalout deu sinal disso.
        Portanto, resta ao PT e Lula observar a conduta de Kalout nesse tempo. Se ele é mesmo oposto a Amorim e em que sentido isso representa algum risco diplomático. E observar os movimentos também, se ele rompeu mesmo a parceria com Degaut e se não tem outras relações no governo Bolsonaro.
        Resta à equipe, portanto, estar de olho e torcer para que não seja nada além de um alarme falso.

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Imagens: Google (montagem: autoria do artigo)

Notas da autoria
¹. Paráfrase a uma fala muito comum no discurso de campanha de Bolsonaro em 2018.
² Universidade de Brasília.

Para saber mais
- https://g1.globo.com/politica/eleicoes/2022/noticia/2022/08/07/programa-de-governo-presidenciavel-luiz-inacio-lula-da-silva.ghtml
- https://www.seudinheiro.com/2022/politica/lula-lista-candidatos-ministro-da-economia-pt-miql-rsgp/
- https://www.escavador.com/sobre/2170186/hussein-ali-kalout
- https://theintercept.com/2022/09/07/hussein-kalout-na-campanha-de-lula/
- https://www.fundacaoastrojildo.org.br/hussein-kalout-imagem-externa-do-brasil-e-irrecuperavel-com-governo-bolsonaro/

        
        
        

domingo, 11 de setembro de 2022

CURTAS 5 - ANÁLISES RÁPIDAS

        Vocês já devem ter percebido que esta imagem identifica a série de Análises Curtas. E segue aqui o 5º episódio. Espero que não haja novo texto estilo solo aqui, como aconteceu com o anterior.
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Polarização política

        Diferentemente de anos atrás, a geral popular, em espacial os pouco escolarizados e mais simples, absorveu a polarização como termo político, em tempo de eleição. Pela graça da grande mídia, impressa ou na internet. Em si não é ruim, pois reflete a linguagem elástica. Mas, há mais a analisar sobre.
        A polarização sociopolítica é a divisão de uma sociedade em dois polos políticos, opostos ou não ideologicamente, mas sempre na ação política. A mídia tem postado a polarização como "direita x esquerda", uma regra não aplicável globalmente. Afinal, sociopolítica é um tema muito amplo.
        Embora seja fácil entender a polarização em si como elemento natural na democracia, o fato de, no Brasil, a grande mídia a ter explicitado a partir da era Temer fez com que a patuleia a entendesse como negativa. E tudo por conta de um fator: a explosão do extremismo bolsonarista.
        O bolsonarismo se alimenta no ódio por meios como fake news, guerra cultural (pânico moral em cultura, costumes e comportamento) e anticiência, contribuindo para a transformação de uma saudável divisão democrática em um ringue às vezes letal. A nossa mídia citou a polarização nesse contexto.
        Nos EUA foi quase idêntico. Em 2016 Steve Bannon já montava o movimento trumpista (Donald Trump), com os elementos desinformadores captados pelo bolsonarismo. A polarização de lá, sempre marcante, só foi mencionada por aqui quando das eleições de 2020. 
        Como se vê, a mídia responde pela associação falsa entre a polarização sociopolítica e mal-estar, fazendo com que a patuleia a entendesse como um elemento antidemocrático. Um erro primário nesse campo, mas válido para manter a massa o mais longe possível de nomes incômodos ao capital.
         
Para saber mais
https://www.politize.com.br/o-que-e-polarizacao/? https://www.politize.com.br/&gclid=Cj0KCQjwmdGYBhDRARIsABmSEeOoy-GhftuBOLK08S-mpMuktRSW37I0rwmxurrtX1I6-TIBa7rOGyMaAjGJEALw_wcB
- https://www.vox.com/21299730/george-floyd-democratic-party-joe-biden-black-lives-matter-protests-2020-identity-politics (em português: "em louvor da polarização")
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Atentado a Kirchner e feriado: reflexões do Brasil
        
        Em 2020, os países mudaram drasticamente suas rotinas em decorrência do novo evento da pandemia de C19. Não foi diferente na América do Sul, onde os dois países protagonizaram medidas díspares extremas: a Argentina foi campeã global de lockdown, e o Brasil seguiu o negacionismo - o que refletiu na imensa diferença no número de mortes.
        Neste 2022, ano de queda da criticidade da pandemia por graça da adesão maciça à vacinação, a cidade do Rio de Janeiro protagonizou um fato inédito: o prefeito Eduardo Paes decretou este dia 2/9 como feriado municipal, para comemorar justamente o fim oficial do que mal aconteceu: o lockdown.
        Na política, um susto na Argentina: a vice-presidente Cristina Kirchner escapou de um atentado em Buenos Aires. O autor, Andrés, brazuca filho de argentino, meteu a arma a centímetros do rosto dela, mas não atirou. Foi logo preso. Reconhecendo a falha de segurança, o presidente Alberto Fernández decretou feriado em 2/9. 
        Diante disso, deixo para os leitores a conclusão de qual dos eventos realmente teve peso maior para ser relembrado no feriado. Pois vale lembrar de que o Brasil não foi justo em decretar feriado de 15 de janeiro para comemorar o fim da ditadura empresarial-militar (1964-85), que aterrorizou o país. 
        Em 15/01/1985, o Colégio Eleitoral em Brasília elegeu o primeiro presidente do pós-ditadura: Tancredo Neves. Este morreu em seguida, em circunstâncias ainda controversas, e foi substituído pelo seu vice José Sarney. que por decreto deu os primeiros passos da redemocratização, incluindo eleição direta para presidente da República.
        Por conta desse acontecimento histórico, 15/1 deveria ser lembrada como feriado para comemorar o fim da ditadura empresarial-militar. Mas, num país em que logradouros e monumentos são batizados com os nomes sanguinários de nossa história, essa data infelizmente se perdeu no esquecimento.
        Agora estão informando que o brasileiro nazifascista que assustou Cristina Kirchner seria ligado a ela. Mas, a julgar pelos contextos envolvendo todos os atores, comparando-se com a controversa facada em Bolsonaro, tal informe passa suspeita. Mas deixa isso para outro artigo.

Para saber mais
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2022/09/saiba-quem-e-o-brasileiro-que-tentou-matar-cristina-kirchner-na-argentina.html
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Salles e o motoboy: cenas do vale-tudo

        Após um tempo "sumido", o ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro Ricardo Salles tem mostrado a que veio. No domingo anterior, quando do primeiro debate dos presidenciáveis na Band, ele protagonizou com Janones a baixaria que só não chegou às vias de fato porque foram contidos pelos presentes.
        Nem se passou uma semana e, logo no início de setembro, ao sair de universidade privada onde havia um encontro acadêmico, saiu da instituição e ao fazer a curva para pegar a rua, em alta velocidade bateu na moto de um motoboy. Caiu fora, sem prestar um ajuda, deixando testemunhas aturdidas.
        Ainda que a única parte danificada tenha sido a sua moto, o motoboy se preocupou com a chance de trabalho perdido por conta de seu instrumento de trabalho ter sido atingido. É um trabalhador, que rala muito para ter receber tão pouco. Por que houve isso, é válido explicar reflexivamente.
        As reflexões seguem para o motoboy e para Salles. O primeiro é de uma categoria de trabalhadores que, devido à precarização de ganhos e direitos, têm que maximizar seu trabalho no trânsito caótico dos grandes centros. É maximizar o possível para obter o mínimo possível.
        Já a conduta de Salles grita por si, que "aqui é Bolsonaro, p*a!". Nem é preciso se aprofundar aí, já sabemos. Mas é só um dos sentidos do seu recado. O outro sentido é o de sua representação classista "de cima", que herdou a cultura escravocrata que despreza o trabalhador que, como o escravo, está preso em seu trabalho para sobreviver. 
        O motoboy é um dos tantos exemplos de trabalhos que aprisionam, não pela lei trabalhista, que é frouxa, Ele está inteiramente preso pela corporação que o controla e vigia, pela urgente necessidade de sobrevivência para ter o que comer no dia seguinte e batalhar de novo após noites maldormidas.
        Tal como tantos bolsonaristas de classe média ou média-alta, Salles se acredita "no alto" e livre para o vale-tudo pelo seu mito. Talvez, sem se dar conta de está preso ao mito, pois qualquer deslize o condena a doses elefantinas e eternas de banimento absoluto e desprezo. Até a prisão pelo STF em futuro não muito distante.

Para saber mais
https://www.pragmatismopolitico.com.br/2022/09/ricardo-salles-atropela-motociclista-e-foge-do-local-sem-prestar-socorro.html
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Esquerda recua e extrema-direita aproveita

        Histórico progressista favorável à maconha e aborto como assuntos de saúde pública, o candidato a governador do RJ Marcelo Freixo recentemente recuou de suas antigas pautas, dizendo que esses temas "não são prioritários no momento". Isso tem despertado muitas conjecturas entre a patuleia fluminense e cientistas políticos nessa caminhada eleitoral.
        Pois, antes de qualquer conclusão precipitada, vale salientar que o PSB, atual partido de Freixo, tem nomes tanto à esquerda quanto o indigitado e o ex-governador maranhense Flávio Dino, quanto outros nomes mais centristas e de pensamento econômico mais liberal. E isso pode influir nas chances eleitorais de Freixo.
        Mas não é só a questão eleitoral que pega na lógica de Freixo. A fome e a degradação progressiva dos serviços públicos essenciais se colocam como prioridades sociais mais emergenciais, forçando-o a empurrar para oportunidades futuras aqueles temas, ainda considerados tabus no contexto sociopolítico brasileiro.
        Acontece que, com isso, quem se aproveita de continuar nos discursos dos temas tabus é a extrema direita. Apesar do inaudito acúmulo de evidências de corrupção e outros crimes com a grana pública praticados por Bolsonaro e outros da caterva, a extrema direita ainda segue em alta no RJ graças aos discursos ultramoralistas.
        Para conter essa onda ultramoralista que tampona, como eficiente cortina de fumaça sustentada por fake news, está aí a chance de contra-atacar, usando de coragem e poder de convencimento para, justamente, frear a já gravíssima situação prática dos temas tabus mencionados na sociedade brasileira.
        Pois o que a patuleia costuma desconhecer, até por interesse de agentes poderosos, é justamente o hábito dos governos extremistas de esconder as altíssimas taxas de drogadição e de abortos clandestinos, que decorrem na progressiva degradação da qualidade de vida e mesmo na letalidade dos que se tornam vítimas das respectivas práticas.

Fonte: newsletter The Intercept, por email
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Chile mantém Pinochet

        Após 1 ano de gigantesca revolta popular contra os danos socioeconômicos do neoliberalismo, em 2020, o então presidente do Chile Sebastian Piñera pautou uma nova assembleia constituinte formada de parlamentares e representantes populares. Saiu do governo já deixando um texto esboçado.
        A revolta popular repercutiu no mundo com fotos icônicas. Nada deteve os rebeldes, nem mesmo a pandemia e os temidos carabineros, a versão chilena da nossa Polícia do Exército da ditadura militar, que caçava, prendia e torturava "subversivos" nas delegacias.
        No pleito presidencial chileno de 2021 venceu o jovem Boric, o primeiro progressista eleito desde o pós-ditadura local. O último foi Salvador Allende, deposto por golpe militar que pôs à frente o general Augusto Pinochet, que protagonizou a ditadura mais sanguinária da América Latina. 
        A eleição de Boric finalmente acalmou as ruas, pois o governo já apontava para retornar a atenção social do Estado em saúde, educação e outros serviços. E ali ficou público o novo texto constitucional, de caráter mais progressista.
        No Chile, o povo tem mais poder participativo na política. A Constituinte elabora o texto e após revisões, o disponibiliza para plebiscito popular. Assim, em 4/9, a geral votou, com direito a uma megamanifestação popular pacífica pela nova Constituição. Mas ocorreu uma ironia.
        Apesar da maioria ter votado em um líder progressista e este ter contado com a massa popular que encheu as ruas, surpreendentemente, a nova carta magna foi rejeitada por mais de 62% dos votos.
        Foi optada a manutenção da carta vigente, elaborada por Pinochet no início dos anos 1980, de caráter neoliberal a privatizar todos os serviços públicos essenciais e a previdência, com ajudinha de... Paulo Guedes. Sim, o próprio, hoje o sinistríssimo ministro de Bolsonaro.
        Os motivos da reprovação do novo texto são muito discutidos. Mas pelo menos uma coisa é certa: tal como o Brasil, no Chile há muito tempo manda uma elite reacionária e corruptora, que fez do país refém do sistema financeiro. E Guedes, na era Pinochet, praticamente dissolveu o Estado.
        A derrota do texto cidadão chileno é um recado ao Brasil. Pois Guedes já deixou a sua marca em nossa Carta, graças à afinidade com governos totalitários. Além de ferrar a nação e investir em paraíso fiscal como agente público ativo e com nossa grana, ele nos "privatizou"* para os bancos.

* N. da A.: Será escrita análise sobre isso em artigo solo.
Para saber mais
https://www.brasildefato.com.br/2022/09/04/chilenos-rejeitam-nova-constituicao-em-plebiscito
https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2022/09/06/mpf-investiga-se-ministerio-da-economia-liberou-acesso-a-dados-biometricos-e-biograficos-de-brasileiros-para-bancos.ghtml*
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7/9, o louvor ao fálico

        Com a proximidade da chegada do dia da Independência, o presidente Jair Bolsonaro moveu mundos e fundos para trazer de volta o turíbulo com o coração do imperador D. Pedro I conservado em formol há quase 2 séculos. E eis que conseguiu o feito.
        Em 7/9, Brasília amanheceu menos verde-amarela do que Bolsonaro gostaria. Não só pela PMDF impedir a entrada de caminhões e outros veículos particulares na Praça dos Três Poderes, mas também, e talvez principalmente, por ordem do desafeto Alexandre de Moraes, o popular Xandão.
        Ainda assim, acompanhado do Véio da Havan, o histriônico pastor Silas Malafaia e outras figuras, o presidente da República se viu livre para fazer do 7/9 seu grande dia de campanha. Narcísico, reagiu irritado com um gesto papagaiado momentâneo do megaempresário das lojas vazias.
        O discurso para a plateia foi parte da campanha eleitoral. Já éramos para saber que ele iria se portar assim, só não esperávamos que ele se gabasse narcisicamente, em repetido "imbroxável", o que gerou debate de um lado sobre sua conduta, e de outro, memes e charges sobre a sexualidade do presidente.
        Ao falar de sua esposa, Bolsonaro incitou os fãs a se casarem para ser felizes. Para o filósofo Paulo Ghiraldelli, uma referência à felicidade de Lula e Janja, supostamente ausente no seu casamento com Michele. Mas aí já se resvala em sentimento privado, íntimo. 
        A comparação Michele-Janja pode ter explicações. Belezas comparadas? Bem, beleza é um ponto totalmente subjetivo. Ou, talvez, a percepção do presidente de que faltaria em Michele um caráter de mais cuidado, como Janja visivelmente demonstra com a saúde e segurança do pstista. 
        Mas, enfim, no 7/9 houve qualquer coisa, menos qualquer referência à independência nacional. O tão requisitado coração do Imperador não apareceu ao público. Foi uma mescla de dia da virilidade presidencial com campanha para a reeleição. 

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=AldNo3EcDAw (Meteoro Brasil- Bolso perdeu voto dos brochas)
- https://www.youtube.com/watch?v=OnEE-lH6gNs (Meteoro Brasil- 7/9 não acabou)
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Independência, um fato feminino

        Uma pintura, por sinal muito bonita, revela a imagem do jovem D. Pedro I, cercado por seus cavaleiros da guarda imperial, empunhando sua espada para o alto e gritando "Independência ou morte!" às margens do rio Ipiranga, hoje um poluído córrego na capital paulista. É a romantização do surgimento do Brasil independente para a grande massa popular.
        Além do fato, muito se romantiza a ideação da Independência nacional a D. Pedro I, que logo foi coroado Imperador, inaugurando a primeira fase do regime monárquico, o 1º Império. Como costume, a atribuição tradicional imortalizou o personagem.
        Mas estudos historiográficos demonstram que a articulação da Independência do Brasil não surgiu na cabeça de quem se tornaria o nosso primeiro imperador. A luz veio mesmo da esposa Leopoldina, uma austríaca da dinastia dos Habsburgo que abraçou com força a brasilidade e, por isso, ganhou simpatia da patuleia na época. Ela era bem mais popular do que D. Pedro.
        A Independência foi considerada por Leopoldina uma medida salutar, pois a relação entre Brasil e Portugal estava desgastada desde a Revolução do Porto (1820). E, claro, D. Pedro  ambicionava ter seu trono como monarca, alcançado após a declaração de emancipação nacional em 7/9, reconhecida somente mais tarde por Portugal.
        O tempo passou, com vários fatos, como o despertar do abolicionismo e do republicanisno. Veio a República, e com ela, mais e novos fatos em altos e baixos. Agora passa pelo desastroso governo do antirrepublicano Jair Bolsonaro, que decidiu sequestrar para si o 7/9 como forma de fortalecer a sua ideação golpista, atiçando milicos e seus fanáticos.
        Neste 7/9/2022, o presidente quis a todo custo dar virilidade ao dia pela autopromoção de sua própria masculinidade. Mas, nada que apague da história a feminilidade de quem idealizou a nossa emancipação, que reforça a validade de um antigo ditado popular, segundo o qual, "por trás de um grande homem, há uma grande mulher". D. Pedro I que o diga.

Fonte da análise: Newsletter The Intercept - enviada por e-mail.
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O triunfo de Bolsonaro

        Além da real beligerância preconceituosa, o presidente Bolsonaro tem sido sempre taxado de "retardado", "louco" ou "burro". Pode até haver algum fundo verídico, mas isso nos levou a subestimar demais as faculdades mentais do mandatário, que viu nisso oportunidade para enganar.
        Há vários exemplos fáticos em todo o seu governo, que ocorreram quando ele prendia a atenção da patuleia com suas tiradas de mau gosto, que têm servido de cortina de fumaça para que ministros e parlamentares atuassem, sem sobressalto algum, para concretizar fatos que hoje pesam no país.
        Como os exemplos são muitos e a intenção é publicar um texto curto, apenas serrão postos para melhor entendimento.
        Nós soubemos da aprovação da PEC que privatizou a Eletrobrás, mas ninguém ligou os aumentos quase diários da conta de energia à venda da empresa, sem direito a melhoras. Alguns dos que viram preços estacionados no pós-privataria disseram que "privatizar é mesmo uma boa".
        Na mesma época dos assédios sexuais e morais do ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães, um amigo dos Bolsonaro, ninguém soube da tesourada nos recursos destinados ao programa de combate à violência de gênero. E quando soubemos, o presidente ironizou que "isso só acabará se a mulher mudar sua conduta".
        O debate sobre a regressiva¹ reforma tributária de Guedes e o IR incorreto foi secundarizado pela atenção popular e midiática concentrada nas constantes aglomerações promovidas por Bolsonaro nos picos da pandemia de C19. Resultado: a patuleia com 1,5 SM² já deverá se declarar ao Leão em 2023.
        Após muita luta, a enfermagem comemorou a aprovação parlamentar e sanção do piso salarial pelo governo. Uma oportunidade eleitoral para os políticos. Mas Bolsonaro vetou o aumento proporcional à inflação, e o STF atendeu a interesses de setores ligados à CNSaúde³ tornando inconstitucional a PL do petista Fabiano Contarato.
        Entre pentecostais e neopentecostais, Bolsonaro teve total liberdade de ideologizar o cristianismo em discurso fundamentalista de campanha. Daí essa população ser a mais negacionista, bolsonarista e pobre também, e ser um dos grupos mais fortemente atingidos pela onda de C19.
        Bolsonaro viu em 7/9 nova oportunidade de distrair geral em campanha ilegal, pois nesse dia uma queimada hard no oeste amazônico esfumaçou até o centro-sudeste brasileiro, e Guedes cortou R$ 10 bi da Saúde, comprometendo a Farmácia popular e a disposição de fármacos para doentes crônicos, HIV e transplantados. 
        Muitos ainda perguntam como Bolsonaro mantém bom potencial de voto mesmo com toda espécie de crimes e violações, por todos os meios possíveis. Talvez a melhor explicação esteja na sedução das tiradas com olhos azuis. Por isso que, mesmo saindo de cena, ele já deixou sua marca como seu maior triunfo.
 
¹ Quando a taxa incide mais quanto menor a renda. É uma prática injusta e corriqueira.
² Salário-mínimo (SMs no plural)
³ Confederação Nacional de Saúde suplementar, representa as entidades de saúde privada.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=vw90kgV7wA8 (UOL- assassinato em MT)
https://www.youtube.com/watch?v=3Uurymanq08 (Portal do José- Bolsonarismo mata novamente)
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sábado, 3 de setembro de 2022

CURTAS - ANÁLISES RÁPIDAS 4

 

        E continua a saga das curtas... 4ª parte de Análises Curtas.

SABATINAS (última da semana)
-Tebet no bistrô do Agro

        Para encerrar a semana de sabatinas com os presidenciáveis, o nome da vez foi Simone Tebet (MDB-MS). Ela é um dos dois únicos nomes femininos na corrida presidencial, e a que tem mais intenções de votos, com 2%, segundo pesquisas recentes.
        O ponto positivo dessa sabatina que alcançou o clímax de um ambiente de bistrô foi a maior diversificação de temas abordados, com mais equilíbrio na distribuição de tempo. Clara estratégia da grande mídia na busca de um destaque para a mulher que tem como principal slogan a representatividade feminina.
        Doce sabor da ironia: a Simone Tebet que vende a sua candidatura como representativa para as mulheres foi a mesmíssima que votou, em 2016, pela deposição de uma mulher presidente, por crimes que o próprio ex-presidente Michel Temer posteriormente negou existir, em duas entrevistas.
        E todos já perceberam que a candidatura de Simone Tebet se vale do seu reconhecido destaque na CPI da C19. Mesmo que alguns o cacique emedebista Renan Calheiros prefira apoiar Lula.
        Apesar da visível preferência atual da grande mídia em apoiar Simone Tebet como o destaque da 3ª via para a presidência, quem prestou atenção funda em detalhes da sabatina, notou derrapadas.
        Mesmo sorrindo, as respostas de Simone foram tão rasas quanto as perguntas. Cada tema durou pouco, mesmo o agronegócio, tão forte em Mato Grosso do Sul. E, mesmo professora, secundarizou o tema Educação em termos de prioridade.
        A prioridade de Tebet é o "trabalho do povo" como solução para a crise econômica, sem explicar meios de investimento para isso. Ficou no ar a sensação de que a culpa pela crise é dos desempregados. Só faltou o sarcasmo de Temer junto a empresários após o golpe de 2016: "pobre, trabalhe".
        Foi como criticou o jornalista e youtuber Álvaro Borba, no seu canal Meteoro Brasil: o povo é tido como uma máquina cujo trabalho rende os frutos para salvar a economia. "Pobre, trabalhe". Mas, não deveria surpreender. Esse, aliás, é o lema do MDB, hoje e sempre.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=U1xAHgeFnU0
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Grande mídia despreza os nanicos

        A semana de sabatinas com os presidenciáveis pelo JN foi positiva no sentido de os candidatos melhor se manifestarem tanto sobre suas experiências passadas quanto na apresentação de propostas de governo.
        Para a Rede Globo de jornalismo foi uma ideia brilhante. Muito mais para chamar mais audiência do que propriamente uma preocupação com os programas de governo dos presidenciáveis. E para os expectadores mais conscientes e críticos, foi uma oportunidade de expressar análises bem frias.
        Os âncoras e entrevistadores William Bonner e Renata Vasconcellos variavam sua expressividade da mesma forma que variavam os focos das perguntas, demonstrando nitidamente os focos de interesse que revelavam o caráter político-ideológico neoliberal da maior emissora de TV aberta do país.
        Se com Lula foram duros sobre os fatos pretéritos de corrupção, com Bolsonaro pegaram leve no esgoto que banha seu governo; com Tebet sequer tocaram na invasão latifundiária de terras indígenas com direito a matanças, e com Ciro foi quase um happy hour de luxo. 
        Nem Felipe d'Ávila foi chamado. Talvez por não ter firmeza nem em propor privatização. Nem Constituinte Eymael, que já disputou outras vezes. O único nanico lembrado foi Janones, que abriu mão da candidatura e foi convidado por Lula para ampliar a frente democrática de apoio.
        Nisso, outros nomes permanecem desconhecidos do grande público, como Leo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB), e Vera Lúcia (PSTU), todos continuando em cifra inferior a 1% cada. Se Janones, que estava nesse patamar antes da desistência tinha sido convidado pela emissora, vale a explicação.
        Os três nomes citados não têm qualquer identidade política com a grande mídia. Mais do que isso, é ideológica. Serem representantes trabalhadores não justifica: Lula já foi operário, e Janones também. A diferença é que Janones é do Avante, um partido centrista tão nanico quanto ele próprio foi.
        A diferença é que o nanico Janones agora está grande, e exerce importante efeito na campanha de Lula no quesito comunicação nas redes sociais. Apesar da forte reação a bolsonaristas no estúdio do debate, ele responde também pela atual liderança de Lula também nas redes sociais.
        Falando em Janones, vale o aviso aos nanicos da esquerda invisibilizados pela grande mídia, razão do desconhecimento público: se aproveitem da internet e das redes sociais como caminho para reverter esse efeito contrário. As redes são do capital, mas o "veneno" esquerdista pode ser positivo.

Primeiro debate, primeiro embate

        Em decorrência do atraso devido a trabalhos em particular, e 
        Na falta momentânea de outras notícias relativas a esse momento decisivo da corrida eleitoral, em primeira mão escrevo este artigo dentro desse 4º episódio da série de análises curtas. Só que o texto terá mais características de artigo solo, devido aos pormenores, mas será mais curto do que o normal.

        No domingo, a produção da Band TV em São Paulo se preparou para o grande momento: abrir o primeiro da série de debates dos presidenciáveis, a se desenrolar antes das eleições. Os confirmados: Lula (PT), Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraia Thronicke (U. Brasil) e Felipe d'Ávila (Novo).
        O clima já estava pesado antes mesmo do debate. A começar pela mediação de Vera Magalhães, uma mulher. Nos cumprimentos dos candidatos, Bolsonaro recusa o aperto de mão de Lula dizendo: "não cumprimento ladrão". A fala já mostrava quem seria o maior alvo do tiroteio verbal que se seguiu não só do atual mandatário.      
        Os comportamentos e as expressões dos candidatos nos diálogos foram as réguas a medirem seus respectivos desempenhos, que foram respondidos por populares que compareceram ao estúdio.
        Num auditório se reuniram as equipes de jornalistas e também políticos das redes de apoio dos candidatos. Nele, o clima esquentou: o bolsonarista Ricardo Salles provocou André Janones, o Carluxo (às avessas) lulista. Na fervura, só não foram às vias de fato porque foram contidos pelos presentes.
        Enquanto isso, o clima  já transcorria solto e quente no estúdio, entre os candidatos. Em vários momentos Vera procurava apaziguar os ânimos. O que foi difícil, pois em um momento ela própria foi vítima de uma declaração sexista jocosa de Bolsonaro. Para variar.

A análise fria dos desempenhos- os comportamentos e expressões dos candidatos foram parâmetros de medição de seus respectivos desempenhos, avaliados por populares presentes no estúdio, convidados a assistirem e darem suas respostas sobre quem foi melhor ou pior, sem influenciar a eleição.
        Soraia Thronicke- a ex-bolsonarista sulina teve desempenho repreensível. O autoritarismo na face e no dedo em riste despertaram certa antipatia geral. Ao questionar Lula nas políticas sociais petistas, recebeu a resposta: "a sra não viu, mas seu motorista viu, o seu jardineiro viu" do ex-presidente. Não conseguiu argumentar.
        Seu ponto mais positivo foi ter se tornado conhecida pelo público entre os nanicos ignorados pela Globo na série de sabatinas. Mas teve um saldo positivo: está com 1% de intenção de votos.
        Felipe d'Ávila- este quase fez chorar de tão pífio foi seu desempenho. Mais pareceu uma vitrola com disco arranhado ao dizer a mágica "tem que privatizar tudo, é o caminho". Foi o pior de todos. O nanico só foi chamado por ser do Novo, partido de trilhardários brancos, que a grande mídia adora.
        Apesar de representar bem a patota dos poderosos, o candidato do Novo personifica um defeito presente no seu partido, o Novo: ser composto por gente que vive num mundo totalmente paralelo à realidade popular, sem obter a simpatia da grande massa. Seus destaques são próximos de Bolsonaro.
        Jair Bolsonaro- concorrente à reeleição, praticamente botou tudo a perder ao destratar a jornalista da Band com seu sexismo misógino e jocoso, ao depreciar sua atuação. Insultou Lula, foi mal educado com outros adversários, e sempre entre cínico e agressivo, mentiu nas respostas.
        Pelo visto, sua esposa Michele terá que rezar o dobro, com direito a língua enrolada e simpatias, para segurar as penas que restam na peteca que caiu. O problema é saber se terá algum efeito, nesses 30 dias tão decisivos da eleição.
        Simone Tebet- foi considerada o melhor nome do debate pelos cidadãos entrevistados no estúdio. Foi dura com Lula no surrado assunto de corrupção, e também foi firme com Bolsonaro, apesar deste mentir descaradamente na pergunta sobre sua faltosa política relativa à mulher. Mas foi só.
        Tebet falhou em não cobrar a Bolsonaro explicações sobre os escândalos de corrupção seguidos no governo. Talvez já esperasse algumas mentiras, ou algum insulto por ser mulher. Não sendo cobrada sobre os horrores dos latifundiários em sua terra natal, passou a impressão de (falsa) excelência.
        Nesse despercebimento público, a emedebista teve forte subida na pesquisa mais recente.
        Ciro Gomes- seu ponto alto foi responder a Bolsonaro pela jocosidade contra a jornalista, até se referindo a um fato pretérito próprio que reconhecera errado. Foi sincero, firme e elegante. Os piores momentos se referiram aos continuados ataques à Lula, e uma insinuação sobre a saúde do petista.
        Como Bolsonaro não retrucou, entre a patuleia e influencers populares se confirmou a suspeita de sua inegável misoginia.
        Mas, na mesma resposta a Bolsonaro, Ciro emendou sobre o governo deste ao mencionar que "não combateu a corrupção do PT e de Lula" em reiterado ataque ao petista, e não cobrou explicações sobre os emporcalhamentos no governo do ex-militar. Nesse momento derrapou.
        Outra derrapada foi ter insinuado sobre a saúde do petista, seja pela voz, idade ou aparente cansaço no início do debate.   
        Lula- muito bombardeado pelos demais, não teve a proeminência que esperávamos, afetando o seu desempenho para os cidadãos entrevistados. Evitou discussões acaloradas. A posição foi considerada "conservadora", e foi motivo de muitos comentários em redes sociais.
        A idade não justificou a conduta de Lula. Ele faz exercícios físicos e check-ups regularmente, após a cura do câncer da laringe durante o seu governo. A razão está na sua voz, mais rouca e baixa do que o normal. O que não impediu os poucos e bons momentos como a elegante resposta para Soraia.

Reflexões finais
        Vale salientar que o bombardeamento sofrido por Lula sobre a corrupção na era petista não se deu exatamente pelos fatos em si, mas sim pela sua liderança nas pesquisas. Segundo cientistas políticos, essa correlação é usual e por isso não se surpreende sua ocorrência.
        Não surpreende, mas parece no mínimo estranho que as mídias em geral não analisaram por que Simone Tebet e Jair Bolsonaro não sofreram a devida cobrança dos demais durante o debate. Acredito ser possível falta de percepção entre as mídias mais críticas, e certo propósito entre as grandes.
        Não foi somente Lula que falhou em não responder ou cobrar Bolsonaro sobre tantos fatos além do nível inaudito de corrupção e gravidade dos fatos. Os demais também falharam. Nem Tebet foi cobrada a explicar sobre a PEC que indeniza latifundiários criminosos. É estranho, mas não misterioso.
        Essas faltas, tanto das mídias quanto dos candidatos, foram cruciais para uma avaliação popular superficial no estúdio da Band. Sabemos que a grande mídia acaricia Ciro e Tebet, nomes da querida terceira via, possíveis de continuar com Guedes ou ter um similar, em caso de um deles eleito. Isso deve ser considerado como fator importante nas análises que já sabemos.
        Avaliação popular- como avisado pela emissora, a avaliação do desempenho dos partícipes pelos populares não em implicação eleitoral. Mas foi interessante, pois revela uma possível maneira usada pelos eleitores para a futura escolha, e também gerou subsídio para as pesquisas pós-debate.
        As primeiras pesquisas pós-debate revelaram dados que dificultam a chance de Lula vencer no 1º turno, e queda ligeira para Bolsonaro. O fator foi o salto de 3 pontos de Tebet e 2 de Ciro. A queda do presidente se deveu ao aumento da rejeição feminina devido ao insulto à jornalista.
        Mas, reforçando o aviso da emissora, a avaliação popular no estúdio não tem implicação eleitoral. Ciro e Tebet no máximo tiveram aquela sensação agradável de que vale a pena continuar tentando as futuras oportunidades eleitorais. Mas, valeu. Agora, que venha o próximo e mais esperado debate, na Globo.
        Onde esperamos que, pelo menos, Bolsonaro não seja mais blindado pelos próprios adversários.

Imagens: Google

Fontes: várias; a análise acima foi por observação da própria autoria.
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CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

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