sexta-feira, 18 de novembro de 2022

CURTAS - ANÁLISES RÁPIDAS 10

 
Fumaça na política ambiental de Lula

        Nesse período de transição, o presidente eleito Lula, através da articulação de Geraldo Alckmin, já lança de cartada alguns nomes ministráveis. Além de Boulos no das Cidades, foi escolhida a dedo Sônia Bone Guajajara para o Ministério dos Povos Originários.
        Vale salientar que o ministério a ser encabeçado por Sônia, eleita deputada federal pelo PSOL, tem estreita ligação com outro de enorme importância: o do Meio Ambiente. Neste estão cotadas Marina Silva e Izabella Teixeira, ex-ministras da área na era petista.
        Não por acaso, as duas ex-ministras e Guajajara capitanearam a pequena comitiva brasileira partícipe na COP27 no Egito, enquanto Lula ainda conversa com deputados e a equipe de transição. E vale apontar: essas mulheres não devem ser subestimadas.
        Marina é um nome conhecido e respeitado internacionalmente. Nas Olimpíadas de Londres de 2012, ela discursou na área ambiental; Teixeira também já participou de eventos internacionais sobre o clima, como o ECO-Rio20, em 2012, 20 anos após o ECO92.
        Sônia Guajajara também não fica atrás. Mesmo nunca tendo sido política profissional antes, ela já liderava as representações dos povos originários para as políticas públicas no Brasil e em eventos internacionais desses povos.
        A prioridade de Lula no meio ambiente não está só na situação vulnerável dos biomas originais, que agora enfrentam novos picos destrutivos. Objetiva também reconquistar lugar no mercado global, após ameaça de sanção internacional imposta pela era Bolsonaro.
        Lula anunciou os citados nomes pela interdisciplinaridade socioambiental-segurança alimentar-mercado. Competência não lhes falta, e por conhece-las ele as escolheu e as lançou para adiantar o Brasil no evento egípcio.
        Lula as vê como imprescindíveis para efetivar uma política ambiental mais agressiva contra os grandes desafios impostos por Bolsonaro, em especial a destruição por orcrims ligadas a latifundiários criminosos e traficantes de recursos biológicos e minerais.
        É com essa pedra no sapato que Marina, Izabella e Sônia foram ao Egito. A última tem seu primeiro grande teste como integrante do novo governo, mas conta com a experiência das duas primeiras para enfrentar os poderosos que comandam o crime na floresta.
        Esse teste é preciso, pois através dele que o novo lulismo poderá efetuar a chance definitiva de o Brasil retornar à sua posição estratégica no cenário global.

Para saber mais:
https://oeco.org.br/salada-verde/o-nome-do-ministro-do-meio-ambiente-do-brasil-e-a-escolha-entre-duas-ex/
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Nos interesses econômicos da COP27, o Brasil

        A COP27 começou. Inicialmente representado por Sônia Guajajara e Marina Silva, o Brasil finalmente se completa com a ida de Lula, já visto como chefe de Estado pelo presidente do Egito, sede do evento.
        Enquanto aqui há movimentos prévios contra Lula e o PT por motivos torpes, o evento no Egito mira a Amazônia, eterno tema de discussões nesses eventos enquanto os indígenas vivem cercados por clubes de tiros e pela violência de milícias armadas.
        Muitos se perguntam por que a Amazônia sempre é discutida se sempre dominam os interesses econômicos em vez das necessidades planetárias e de povos originários. Mas, antes de se precipitar em clichês vale pensar, pois faz sentido neste contexto econômico.
        Recursos biológicos e índice de diversidade são contados. Os biomas brasileiros originais somados alcançam os maiores valores globais. Sozinha, a Amazônia de pé vale mais de US$ 7 bilhões por ano; a Mata Atlântica US$ 3 bi, sem falar em Cerrado, Pantanal e Caatinga.
        Essa atenção aos nossos biomas está na distribuição das espécies, que é dispersa em área tropical. Quanto menos indivíduos por espécie, maior a biodiversidade numa amostra, e maior o valor de cada espécie no bioma. Nesse ponto o Brasil é líder inconteste.
        Nesses valores levantados por entidades europeias ligadas ao Fundo Amazônia, como a austríaca All Rise, se excluem povos originários. Mas suas culturas, inteiramente ligadas às florestas originais, também são contadas. Por incrível que pareça.
        Tais culturas podem valer cifras, mas não podem entrar pragmaticamente, pois são inteiramente humanas. Por serem construídas inteiramente nas florestas, alvos da destruição econômica, as culturas originárias são extremamente frágeis e muito, muito caras.
        Ainda assim, há quem, pelo menos na nossa grande mídia, queira vender as culturas originárias, através de algumas publicidades ou nas telenovelas e cinema. Uma venda que tem sido bem quista pelo público que muitas vezes confunde com inclusão desinteressada.
        Tudo isso mantém o Brasil no centro das discussões nesses eventos. A destrutiva era Bolsonaro reforçou a tese, muito mais pelo risco de decrepitude econômica global decorrente da queda da produção alimentar e derivados, que ironicamente alimenta o capitalismo.

Para saber mais
https://theintercept.com/2022/11/16/clubes-de-tiro-cercam-indigenas-e-municiam-agromilicias-na-amazonia/
- https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/lula-na-cop-27-leia-a-%C3%ADntegra-do-discurso-do-presidente-eleito/ar-AA14bwFF?ocid=mailsignout&pc=U591&cvid=a9e3d73a59714f91b57fc03a6d793fc6
- https://theintercept.com/2022/11/14/amazonia-desmatamento-pasto-terras-publicas/
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Lula aplaudido na COP27. Mas aqui...

        O presidente eleito Lula foi a figura mais esperada pelas autoridades reunidas na COP27 no Egito. Afinal, com sua experiência nos governos anteriores, ele é reconhecido na Europa como um desses raros estadistas em meio ao rolo compressor do capital.
        E não é só por isso. Seu carisma natural parece contagiar lá fora, em especial os chefes de Estado/governo europeus. No momento do seu primeiro discurso, Lula se viu sob as luzes dos holofotes e observado por centenas de olhares de expectativa à sua frente.
        Entusiasmados aplausos se intercalavam com os parágrafos do discurso de Lula, e às vezes interrompiam a leitura. Finalizado o discurso, Lula foi ovacionado pelos presentes. Expondo a íntegra do discurso, a mídia francesa o comparou a “uma estrela do rock”.
        Se a reação à presença e ao discurso de Lula foi unânime nesse evento de relevância internacional, não se observa a mesma aqui, apesar da exposição pela mídia. Entre a patuleia assalariada ele é maioria, mas já entre as camadas mais abastadas é minoria.
        Afinal, as classes burguesas mais abastadas estão representadas pelos golpistas de verde-amarelo que antes interditaram as principais rodovias e agora ocupam as ruas e portões dos quarteis das cidades, protagonizar as bizarrices tornadas memes.
        Pois para esses bolsominions, não é só aborto legal, famílias plurais e empoderamento feminino que são comunistas. A política ambiental agressiva ambicionada por Lula também é um “problema comunista”, e a presença dele na COP27 é “uma ameaça”.
        Por conta disso, cabe refletir se vale mesmo nos referenciar na nossa burguesia mais abastada que, possivelmente sustentada por orçamento secreto, dominam, ou ambicionam dominar, o contexto socioeconômico brasileiro.

Para saber mais
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Golpismos de um silêncio ensurdecedor

        Desde o fim das eleições que deram em vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro colocou o silêncio como meta. Não foi uma meta absoluta, pois algumas aparições ocorreram para poucos pronunciamentos.
        Em contraste com o dominante silêncio presidencial, muita movimentação é vista de longe no palácio da Alvorada. Ou seja, dentro deste há barulho. Só que o decreto de 100 anos de sigilo não permite que saibamos de que barulho se trata.
        Nesse ínterim, os justos sentem a impressão de que o TSE foi incompetente quanto à cessação dos protestos de bolsonaristas nas estradas, ruas e portas de quarteis onde gritam apelos pela investida misericordiosa “contra a instalação do comunismo de Lula”.
        Sem falar nos protestos estendidos no exterior, em especial nos EUA, onde ministros do STF foram xingados e até mesmo um simples morador brasileiro sofreu abordagem de violência verbal por parte do criminoso foragido Allan dos Santos.
        Passa-se, bem igualmente, a sensação de que o Ibama nada faz contra a devastação acelerada dos biomas desde o fim de outubro, apesar de algumas operações aqui e ali, como a que flagrou centenas de litros de agrotóxicos irregulares há 3 dias.
        Nesse contexto de Lula na COP27, há idêntica impressão de que o medo impera nas instituições em relação aos grileiros que loteiam mais de 100 km de terras públicas da Amazônia Legal para virarem pasto.
        Essa impressão segue também na proliferação de clubes de tiro irregulares ao redor de terras indígenas nos quais milícias locais treinam, e de que as investigações sobre os assassinatos de Bruno Pereira, Dom Phillips e demais guardiões da floresta foram paradas a mando.
        E, finalmente, outra impressão é a de que a monkeypox (varíola dos macacos) sumiu no país, enquanto vemos novas variantes do Corona Ômicron (BB.1, BE.9 e até BXX) causando a nova onda de C19, com 95% de crianças de até 5 anos sem vacinação adequada.
        Tudo isso tem uma relevância não falada na grande mídia: a de que o silêncio de todo o governo Bolsonaro evidencia serem golpismos todos os citados fatos. Todos incentivados pelo ensurdecedor silêncio presidencial. Silêncio real mesmo, só o do agora vazio cercadinho.

Para saber mais
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Além de (re)educar, criminalizar o bolsonarismo

        Em artigo publicado na etapa anterior da série de Análises curtas, foi feita uma reflexão sobre a saúde psíquica dos bolsominions radicais que permanecem em protestos nas ruas, não importam os humores do tempo.
        O governo Bolsonaro finda em 31/12, mas o presidente já se sente ex e se coloca em indignado e ensurdecedor silêncio que instiga indiretamente os protestos bizarros nos quais os seus apoiadores já se confundem entre continuar tal apoio ou pedir socorro às FAs.
        A única manifestação oficial do presidente foi autorizar o chanceler França a ir ao G-20 como representante, por ser alvo do desprezo internacional, e Lula estar na COP27, evento “menor”, mas globalmente importante, em especial para o Brasil.
        Sob descaso recorde nesses 4 anos, universidades e escolas se viram como podem, seriamente ameaçadas de paralisar os seus serviços. Algumas pesquisas demoraram mais, e outras tiveram que ser interrompidas. O investimento foi recorde em armas.
        Essa inversão recorde impactou a patuleia ao ponto de o governo ter apoio popular espontâneo de 25-30%, fora a coação por igrejas, organizações criminosas e prefeituras bolsonaristas. Tudo metodicamente montado para atender ao projeto de poder.
        Esse método é como o de Hitler, com fake news instantâneas na net de acréscimo. E dada a penetração profunda na mentalidade dos apoiadores, o bolsonarismo permanecerá como movimento ideológico a obstacularizar fortemente o governo Lula.
        Por isso, a educação deverá ser mais uma prioridade na nova era Lula. Mas ele verá, mais cedo ou mais tarde, que precisará ir mais fundo: criminalizar o bolsonarismo.
        Há quem critique, pois “sempre haverá defensores”. Mas o problema é maior. Como já frisado antes, o bolsonarismo é o nazismo à brasileira, e como tal deve-se criminaliza-lo sim. Defensores haverá sempre, mas com a retomada da educação, eles se autolimitarão se quiserem manter a sua liberdade incólume.

Nota da autoria:
A minha reflexão sobre a analogia bolsonarismo-nazismo se refere ao contido no livro Mito: a cronologia do caos, de Carlito Neto.

Para saber mais

https://theintercept.com/2022/11/09/sob-bolsonaro-clubes-de-tiro-explodem-em-areas-de-conflito-da-amazonia-legal/ 

https://theintercept.com/2022/11/02/vencer-bolsonarismo-dependera-de-estrategia-de-ocupacao-orlando-calheiros/ 

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Bolsonarismos estaduais

        A maior parte do povo brasileiro não temeu a violência política quando o resultado das eleições deu vitória a Lula: lotaram as ruas e bares para festejar, as camisas vermelhas com aroma de guardado nos corpos após muito tempo guardadas.
        Foi uma festa que contrastou com centenas de escolhas, seja nos parlamentos da esfera federal e das estaduais, e mesmo alguns governadores, que mantiveram apoio eleitoral a Jair, e com a derrota deste, já trabalham para manter o pesadelo bolsonarista.
        Nesse quesito se destacam três estados “bolsonaristas”: Minas Gerais com Zema; Rio de Janeiro com Claudio Castro, e São Paulo com Tarcísio de Freitas.
        MG- em 2018, o empresário Romeu Zema (Novo) surfou na onda bolsonarista e foi eleito em 2018. Após um tempo calado por causa das peripécias de Bolsonaro, manteve seu apoio ao extremista, sendo reeleito este ano, mesmo com Lula vencendo no Estado.
        Zema revelou seu mau caratismo. Na sua era, o estado foi deformado por minas e barragens de rejeitos por todo lado. Para ganhar no consignado do Auxílio Brasil, ele ofereceu sua financeira, com juros dantescos. E tem mais canalhice aí.
        No decurso eleitoral, pesquisas de opinião mostraram forte proximidade de Kalil (PSD, apoiado por Lula) de Zema. De repente, o novista disparou. Descobriu-se depois que ele contratou uma empresa para maldizer do adversário na internet.
        Reeleito, Zema assinou concessão de reservas florestais para a iniciativa privada. Mesmo dizendo ser “apenas gestão privada”, sabemos muito bem que na prática concessão é a mesma coisa que privatização.
        RJ- em 2018, o então ilustre desconhecido Wilson Witzel foi eleito governador após declarar apoio a Jair Bolsonaro. Com ele sobreveio a agudização de uma política de abate dos pobres periféricos, sobretudo não brancos.
        No primeiro pico da C19, rixas por baixo do tapete midiático levaram à deposição de Witzel. O então vice bolsonarista Claudio Castro o substituiu e aprofundou a mortandade por C19 e chacinas policiais. Depois vazaram denúncias de muitos cargos secretos.
        Mesmo com essas denúncias evidenciadas, Castro foi reeleito. Certamente com uma pressão dos currais eleitorais do crime organizado e das igrejas evangélicas.
        SP- no colapso do governo Doria, após mais de 20 anos de PSDB, vêm à tona o petista Haddad e o bolsonarista Tarcísio. Haddad liderou até ser ultrapassado no 2º turno, em coincidência com a passagem do carioca na comunidade de Paraisópolis.
        Em Paraisópolis houve o esquisito tiroteio que envolveu um segurança de Tarcísio no assassinato de um morador inocente desarmado. Depois veio a denúncia do desperdício de R$ 1 bilhão que seria para reparo (não efetuado) de estradas da pasta da Infraestrutura.
        Mesmo sem explicar essa grana e o tiroteio, o carioca Tarcísio foi eleito. Agora cogita Ricardo Salles e Mário Frias em suas secretarias. Não estranhem se, nessa chuvosa primavera, verem o céu escurecer e o ar cheirar a vegetação queimada. São os bolsonarismos estaduais.

Para saber mais
- https://theintercept.com/2022/10/27/testemunhas-afirmam-que-seguranca-de-tarcisio-de-freitas-matou-homem-desarmado-em-paraisopolis/
- https://valor.globo.com/politica/noticia/2022/11/17/tarcisio-de-freitas-diz-ser-necessario-aumentar-o-proprio-salario.ghtml
- https://congressoemfoco.uol.com.br/area/pais/em-entrevista-tarcisio-de-freitas-esquece-o-local-onde-vota/
- https://www.brasildefato.com.br/2022/05/25/rj-governo-claudio-castro-tem-39-chacinas-e-178-mortes-em-um-ano-de-gestao-revela-estudo
- https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2022/09/30/interna_politica,1400744/grupo-de-empresa-que-criou-site-contra-kalil-tem-contrato-com-governo-de-mg.shtml
- https://www.brasildefato.com.br/2022/10/19/menos-de-um-mes-apos-ser-reeleito-em-mg-zema-entrega-parques-a-vale-e-a-iniciativa-privada
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