domingo, 15 de janeiro de 2023

ANÁLISE: Capitólio Brasileiro, mácula na Nova República

 

           Brasília, 8/1/2023. Dezenas de ônibus chegaram na capital federal. Passageiros de verde-amarelo esperaram amanhecer e se juntar ao acampamento à frente do QG do Exército. À tarde, uma horda de 4000 pessoas atravessou a praça dos Três Poderes e invadiu o Congresso, o STF e o Palácio do Planalto.
        O que se viu foi uma barbárie jamais vista, que repercutiu no mundo. Não só pelo teor político, dada a insistência bolsonarista em tomar o poder. Mas também pela destruição patrimonial que foi às últimas consequências e fez muitos se lembrarem do triste fim do acervo físico do Museu Nacional em 2018.
        As fortes vidraças dos prédios foram quebradas e numerosos objetos históricos e de arte, alguns da época imperial foram destruídos pelos bárbaros verde-amarelos. De todos os prédios, o mais destruído foi o STF. Tudo isso em pouco mais de 1 hora, e com aval de militares.
        As centenas de vídeos virais retrataram o triste caos, que passou a ser apelidado pela mídia de Capitólio Brasileiro, em referência à invasão ao Capitólio, o Congresso estadunidense, há 2 anos atrás. A alcunha caiu no debate público. Afinal, é comparável? Como aconteceu? Vamos a partir do início.

         EUA- em 2020 Donald Trump foi vencido eleitoralmente por Joe Biden. Inconformou-se, alegou ser fraude, continuou a morar na Casa Branca e, no dia 6/1/2021 recebeu visitas de Eduardo Bolsonaro e outros aliados. Eduardo saiu, indo viajar para a Virgínia, onde morava Olavo de Carvalho.
        Poucas horas após saída de Eduardo, o Capitólio foi invadido por uma horda de fanáticos de Trump. O mundo percebeu que os EUA, “a mais sólida democracia do mundo” segundo a grande mídia, não é tão imune a golpes de Estado como se pensava. A invasão pegou os parlamentares presentes de surpresa.
        A barbárie rendeu pequenos danos, alguns feridos e uma mulher morta. No fim foram presos uns 290 bárbaros. Tudo acalmado, o FBI abriu investigação sobre os articuladores da invasão. Entre eles estão Trump, Steve Bannon, o líder do movimento QAnon (fantasiado com pele e chifres de bisão). Eduardo segue suspeito.
        Brasil- em meados de 2021, Jair Bolsonaro idealizou um golpe no molde do Capitólio se não vencer as eleições de 2022. Alegou fraude nas eleições de 2018 sem apresentar prova ao então presidente do TSE, min Barroso. Em 2022, Bolsonaro engrossou o caldo, até Alexandre de Moraes assumir a presidência do TSE.
        Após a eleição vencida por Lula, os protestos bolsonaristas vieram, materializando o discurso do então derrotado, tornando emblemático o depoimento do terrorista George, preso no Natal. A tentativa de explosão já era o caldo engrossado, em franco processo de endurecimento.
        Erroneamente subestimado pelas autoridades, o discurso de Bolsonaro insistiu religiosamente, fertilizando o campo para o que viria. Para os fanáticos, tal discurso é ordem divina e as fakes sucessivas, o fermento para o ímpeto de resgatar, pela guerra civil, o poder “legitimado por Deus” de Bolsonaro.
        A reconhecida posse de Lula foi o ingrediente final para o ápice da fertilidade do campo de guerra bolsonarista. A data, de recesso nos poderes, foi oportuna para a liberdade plena do ataque, na intenção de mostrar “do que o bolsonarismo é capaz”.

        Azedou o caldo- a barbárie durou mais de 1 hora, sob olhar complacente da PMDF e do Exército, a quem hoje cabe a maior parcela de culpa por ter se recusado a desmontar o acampamento, segundo o governador afastado Ibaneis Rocha, sujeito a impeachment e cassação dos direitos políticos.
        A complacência dos fardados terminou azedando fatalmente o caldo. Em pleno ataque sumiu o então secretário de segurança do DF Anderson Torres, e a Força Nacional foi acionada para combater a caterva. O comandante das Forças Armadas acabou sendo demitido pelo governo federal.
        Enquanto quase 2000 bárbaros foram presos, Torres estava nos EUA ao ter a prisão decretada. Voltou, mas com um álibi: deixou o celular, que deve estar agora nas mãos de Bolsonaro, que declarou ter “trocado o número”. Mas, já era: o ex-presidente já é internacionalmente considerado terrorista.
        Mais envolvidos- deputados e senadores bolsonaristas estão na mira do STF. Silentes em relação ao tema, se tornaram suspeitos de envolvimento ou apoio ao vandalismo. Há uma PL que propõe anistia aos vândalos e aos mandantes – contrariando o clamor popular de punição exemplar dos culpados.
        Só a leniência da PMDF e do Exército não explica a invasão das dependências internas dos prédios. Se suspeita de duas partes: do GSI que desautorizou a segurança dos prédios na véspera, e do segurança terceirizado do STF que, partícipe da invasão, abriu as portas aos vândalos.
        Este último se ferrou: ainda que o RH da terceirizada tenha se omitido sobre a conduta de um funcionário em dia de folga, as imagens expuseram a sua conduta antiprofissional que poderá custar muito o seu emprego, e sujar sua imagem para as próximas oportunidades de emprego.
        Quanto ao GSI, órgão militarizado ao qual Bolsonaro havia fundido a Abin, pode estar por trás da desconfiança atual de Lula com os militares, que se tornará nova responsa do ministro Jospe Múcio para aparar as arestas entre o governo e os milicos.

Significados- a barbárie de 8/1/2023 foi uma réplica muito piorada do caso Capitólio. A comparação não está na barbárie em si, mas na articulação à distância, pelos presidentes derrotados e importantes aliados, políticos profissionais ou não, escancarando o caráter golpista.
        Para o iniciante governo Lula, a barbárie se revelou um desafio adicional aos tantos já pautados. Foi um duro teste à segurança, que enfrentou a perigosa leniência do Exército e da PMDF, nessa ordem. Sim, perigosa, pois significa aval dado à barbárie, e por muito pouco não acontece um golpe de Estado.
        Lula estava no interior de SP avaliando os danos pelas chuvas, quando tudo aconteceu. Como a citada data é de recesso nos poderes, os bárbaros tiveram plena liberdade para destruir. Se não era para atingir ninguém, ao menos a barbárie serviu para mostrar que o bolsonarismo tem ambição firme.
        A ausência do presidente no momento não retira o significado da intenção golpista do ataque. Vale rememorar na História da ditadura militar, surgida de um golpe de Estado enquanto Jango estava ausente por motivo de viagem ao sul do país, sendo substituído pelo Gal. Ranieri Mazzili em 1964. O resto é história, e não é nada boa.
        Felizmente, a barbárie foi fadada ao fracasso, apesar de seus riscos de golpe. Foi condenada em todo o mundo e seus articuladores conspiradores fizeram a caterva de bois de piranha. Por outro lado, conseguiu meter uma nova mácula tão indelével quanto o foi a ditadura militar. Em plena democracia.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=x5HQXwx2RPs&pp=wgIGCgQQAhgB (O Historiador- invasão orquestrada)
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