Dos fenômenos
naturais, um dos que mais fascinam alguns, apavoram outros e preocupam as
autoridades é a atividade vulcânica. Todos os continentes têm vulcões
ativos, mas muitos países não os têm. O Brasil tem vulcões extintos há milhares
de anos, e abriga os mais antigos do mundo.
Na escola aprendemos
que vulcão é aquela montanha cônica que expele lava por uma cratera no topo.
Mas geólogos apontam haver vários tipos e formas de vulcões e suas erupções.
Agora, vale levar em conta o “escolar”, chamado tecnicamente de estratovulcão.
Há estratovulcões em
proximidades costeiras continentais e insulares e no fundo dos oceanos, em
locais de subducção¹ e de rifte² em todo o globo. O Círculo de Fogo em
torno do Pacífico concentra a maior parcela de vulcões ativos (e inativos) e de
vários tipos no mundo.
Os estratovulcões são
os mais perigosos: suas erupções podem ser muito explosivas e destrutivas em
termos naturais e humanos. A frequência e violência das erupções podem variar,
considerando-se a composição e o comportamento do magma nas câmaras³
preenchidas por ele.
Exemplos- são muitos (vide link abaixo). Os mais famosos estão
no Sudeste asiático (Indonésia, Filipinas), Ásia oriental (Rússia, Japão),
Oceania (Nova Zelândia, Tonga), Américas (sobretudo em países andinos), Caribe,
e nas cordilheiras mesoceânicas como a do Atlântico.
Os recordistas em
tragédias e danos se localizam no sudeste asiático, nos Andes e no Caribe, mas
em outras áreas há casos espetaculares, registradas até por satélites. Neste
artigo, vale comparar os potenciais explosivos de dois estratovulcões: o
Krakatoa (Indonésia) e o Honga-Tonga Há-apai, ou Honga-Tonga (Tonga).
Krakatoa (ou Krakatau)
Foi um grande
estratovulcão no estreito de Sunda, entre as ilhas indonésias de Sumatra e
Java. Os arquipélagos indonésio e filipino surgiram de complexo encontro de
placas em subducção. Por isso o estreito é um dos locais geologicamente mais
instáveis do mundo – se não for o mais instável.
Os melhores registros
sobre o Krakatoa datam de quando a Indonésia era Nova Batávia, colônia holandesa
(sécs XIX). De antes há apenas um registro vago a descrever uma erupção
violenta originada de uma ilha desabitada, datada de 535 ou 536 d.C. (séc. VI –
segue um breve spoiler).
Registros do “inferno
do ano 536” apontam o culpado: um vulcão insular na região indonésia. No séc.
XX, pesquisa em camadas datadas do séc. VI reforça essa culpa sobre o Krakatoa.
Segundo o estudo, a erupção pode ter sido tão violenta quanto a de 1883. Mas
ainda não é uma tese unânime.
A ilha- geólogos apontam que o Krakatoa tenha tido três
crateras, pelas descrições da época. Eles indagam se era um vulcão triplo ou
único com três crateras. Revelando uma ilha de base larga, os restos
possibilitam induzir sobre três vulcões geminados ou um grande vulcão com três
crateras.
Erupção- ocorreu em 27/8/1883, após descrições, desde maio,
enxames de terremotos de média magnitude e vapores ocasionais nas crateras,
seguidos de um leve período calmo. O que se seguiu foi uma catástrofe nunca
antes imaginada e tão rica em descrições e narrativas. As 3 crateras
explodiram ao mesmo tempo.
Da explosão se ergueu
uma nuvem a 100 km de altura. Bombas (lava quase sólida) voavam longe e caía
densa chuva de cinzas. Das encostas, a 300 km/h, grande fluxo piroclástico
desceu e atravessou o mar atingindo povoados principalmente em Java, a dezenas
de quilômetros da fonte. Tudo muito rápido e trágico.
As mortes foram quase
instantâneas, por asfixia e por queimadura da tefra (material quente da nuvem e
do fluxo). Do fluxo rolavam piroclastos do tamanho de geladeiras e carros. E no
mar agitado se formaram tsunamis de até 60 m, segundo descrições, e engoliram
povoados até 5 km adentro.
Os tsunamis arrancaram
e espalharam corais em ampla extensão de terra firme. Um farol de 36 m de
altura sofreu igual dano. Povoados inteiros desapareceram do mapa. A ilha
Krakatoa desabou, só restando três fragmentos íngremes. Em seu lugar emergiram
poderosas e quentes nuvens de vapor.
Atribui-se a essa
erupção o som mais alto registrado pelo homem. Tão alto que moradores num raio
de 10 km tiveram os tímpanos rompidos, e os sobreviventes, além de surdos, podem
ter passado por um trauma sonoro psíquico (não há descrições sobre). O saldo de
mortes foi entre 36 e 40 mil.
Geologia- do desabamento do Krakatoa restou uma enorme
caldeira, cujo tampo selou a câmara abaixo. Mas esta se encheu de magma, até
que, em 1927 nasceu explosivamente o Anak Krakatau ou Anak Krakatoa, o “filho do
Krakatoa”. O Anak é bem ativo, com erupções eventuais; em 2018 causou tsunamis e
vítimas. e parte da montanha colapsou, mas aos poucos se recupera.
A lava viscosa e
cheia de gases do pai Krakatoa derivou em rochas como o andesito (rico em cálcio), pedra-pomes
e dacito (rico em sílica) com vesículas, revelando o magma primordial
quimicamente complexo e de grande contribuição na vastidão e violência extrema da erupção de 1883.
Com quase 100 anos de
idade, a ilha de Anak ainda é menos extensa do que a do Krakatoa. Mas,
encaixando-se perfeitamente na crença dos locais, ele nasceu da caldeira que restou,
rodeado pelos restos de seu pai. E como o evento mostra que tamanho não é
documento, a repetição de 1883 pode ser questão de tempo.
Honga-Tonga
As ilhas do Pacífico
Sul são famosas como paraísos tropicais cinematográficos. Mas, por trás das
sedutoras há uma história geológica catastrófica. Como o vulcânico arquipélago
de Tonga, que agrega mais de 300 ilhas habitadas. Algumas delas são vulcões
ainda ativos.
Situado
ao norte da Nova Zelândia, o arquipélago emergiu por subducção da placa do
Pacífico. As fronteiras insulares orientais coincidem com a profunda e ativa
fossa de Tonga, cheia de vulcões ativos. No final de 2021 já saíam vapores discretos no mar, e em
15/1/2122 nasce uma nova ilha, Honga-Tonga.
A ilha- pelo formato, ela se revelou um estratovulcão. Por
ser ainda um “bebê” geológico, a ilha é ainda baixa e de encostas pouco
íngremes. Mas cresce num ritmo rápido, tal como o Anak Krakatau, de 3 a 4 metros
por ano, segundo dados preliminares. Os estudos geológicos sobre a ilha seguem para monitorar a evolução.
Erupção- Honga-Tonga emergiu a partir de uma erupção
violenta, que foi captada por satélites e imediatamente reportada por mídias no
mundo inteiro. A erupção explosiva gerou uma densa nuvem que atingiu, segundo
medições de satélites, mais de 55 km de altura.
As sequências das fotos por satélite mostram como a nuvem rapidamente se espalhou, por efeito
expansivo do calor. Ela saiu inicialmente clara, revelando grande quantidade de
vapor, mas rapidamente se escureceu decorrente da grande quantidade de cinzas e
púmice (pedra-pomes).
Como mostraram as
transmissões em vídeos e fotos por satélite, a nuvem se espalhou bastante
rápido atingindo uma altura que, segundo estudos posteriores de partículas,
chegou a 56 km de altura. O ar expandido pela nuvem junto com a nuvem pode ser percebido nas
sequências de satélite.
A erupção se revelou
em seguidas explosões ouvidas em raio de 170 km. Filmada da superfície, se
revelou explosiva, com ejeção de fluxo piroclástico abundante o suficiente para
causar tsunamis, que por sua vez atingiram Tonga e adjacências a grandes
distâncias.
Efeitos- os efeitos da erupção foram globais. Nos oceanos, os
tsunamis se espalharam por ampla parte do Pacífico. Além de Tonga, a Nova
Zelândia, a Austrália, as Fiji, Vanuatu e adjacências polinésias foram
atingidas pelas ondas. Mas foi em Tonga que houve estragos que ceifaram dezenas
de vidas.
Acalmada a sua
erupção, Honga-Tonga teve ligeira queda de sua altura, dado o esvaziamento do
magma. Embora ilhas dessa natureza desapareçam após um ou mais novos eventos, é
pouco provável esse destino para a ilha em tela devido à atividade tectônica na
fossa, com possível realimentação da sua câmara magmática.
A comparação entre Krakatoa
e Honga-Tonga pode parecer ridícula. Mas cabe salientar que o objetivo do
artigo foi trazer à luz as variações fenomenológicas sobre os estratovulcões,
visto que a mídia tem pautado a erupção tonganesa como “a maior da história”. É
um erro, porém, explicável.
Exemplos ativos
recentes, como Merapi, Sinabung e Anak (Indonésia), o filipino Pinatubo, Vulcan
del Fuego (Guatemala) e outros ficaram conhecidos por nós graças aos satélites
e à internet. As mídias divulgam tendências momentâneas e não se preocupam em
explorar os casos pretéritos.
Por isso, pouco ou
nada se sabe aqui sobre erupções mais pretéritas. O Krakatoa já foi explorado
no cinema, mas como aí costumam entrar elementos fictícios, muitos de nós
passamos a ver o ocorrido como ficção. Isso faz sentido.
De fato, se nos
baseamos nas erupções recentes, a dimensão do caso Krakatoa em 1883 parece
mesmo ficção. Mas os estudos geológicos corroboram os registros daquele ano
sobre a dimensão daquele fenômeno, indo mais além ao identificar e datar
camadas de lava mais distantes, nas ilhas vizinhas.
O poderoso - e desastroso - terremoto
de 26/12/2004 na Indonésia, então bem explorado, nos deu ideia do quão instável
é a região e que poderia ter potencializado as atividades vulcânicas
posteriores. E, também, nos faz inferir a respeito do poder alcançado pela
erupção de 1883.
Embora as explanações
constadas neste artigo apontem a erupção do Honga-Tonga menor do que a do
Krakatoa, não devemos subestimar de forma alguma o poder desse vulcão. Ele tem um
potencial para erupções mais fortes e gerar, com isso, consequências e danos humanos
e ambientais maiores.
Assim como o
Honga-Tonga, o mesmo pode ser aplicado ao “filho do Krakatoa”, que segundo os
pesquisadores atuais, tem todo o potencial para repetir a história do seu pai. Mas
como já apontado, só o tempo e o comportamento do magma nas profundezas dirão.
Notas da autoria
¹ Mergulho de uma
placa mais densa no manto, em encontro com outra mais leve que sobe e dobra.
² Afastamento de duas
placas que permitirá, ou não, a formação de um novo oceano e seu leito ao fundo.
³ Espaços na zona
intermédia entre crosta e manto, formados por pontos quentes no manto ou falhas
de subducção.
Para saber mais
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_estratovulc%C3%B5es (estratovulcões no mundo)
- https://www.terra.com.br/noticias/krakatoa-o-inferno-de-java-a-erupcao-ha-137-anos-que-foi-sentida-no-planeta-inteiro,c17cdb24aa52bad2c15584dd8667683e4rk78xnn.html (Krakatoa, 1883)
- https://www.youtube.com/watch?v=yDRKKXve0Ao
(Como nasceu nosso planeta, Krakatoa, o inferno na Terra)
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