sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

#Curiosidade: Qual foi mais vasto, o Krakatoa ou Honga-Tonga?

 

        Dos fenômenos naturais, um dos que mais fascinam alguns, apavoram outros e preocupam as autoridades é a atividade vulcânica. Todos os continentes têm vulcões ativos, mas muitos países não os têm. O Brasil tem vulcões extintos há milhares de anos, e abriga os mais antigos do mundo.
        Na escola aprendemos que vulcão é aquela montanha cônica que expele lava por uma cratera no topo. Mas geólogos apontam haver vários tipos e formas de vulcões e suas erupções. Agora, vale levar em conta o “escolar”, chamado tecnicamente de estratovulcão.
        Há estratovulcões em proximidades costeiras continentais e insulares e no fundo dos oceanos, em locais de subducção¹ e de rifte² em todo o globo. O Círculo de Fogo em torno do Pacífico concentra a maior parcela de vulcões ativos (e inativos) e de vários tipos no mundo.
        Os estratovulcões são os mais perigosos: suas erupções podem ser muito explosivas e destrutivas em termos naturais e humanos. A frequência e violência das erupções podem variar, considerando-se a composição e o comportamento do magma nas câmaras³ preenchidas por ele.
        Exemplos- são muitos (vide link abaixo). Os mais famosos estão no Sudeste asiático (Indonésia, Filipinas), Ásia oriental (Rússia, Japão), Oceania (Nova Zelândia, Tonga), Américas (sobretudo em países andinos), Caribe, e nas cordilheiras mesoceânicas como a do Atlântico.
        Os recordistas em tragédias e danos se localizam no sudeste asiático, nos Andes e no Caribe, mas em outras áreas há casos espetaculares, registradas até por satélites. Neste artigo, vale comparar os potenciais explosivos de dois estratovulcões: o Krakatoa (Indonésia) e o Honga-Tonga Há-apai, ou Honga-Tonga (Tonga).

Krakatoa (ou Krakatau)

        Foi um grande estratovulcão no estreito de Sunda, entre as ilhas indonésias de Sumatra e Java. Os arquipélagos indonésio e filipino surgiram de complexo encontro de placas em subducção. Por isso o estreito é um dos locais geologicamente mais instáveis do mundo – se não for o mais instável.
        Os melhores registros sobre o Krakatoa datam de quando a Indonésia era Nova Batávia, colônia holandesa (sécs XIX). De antes há apenas um registro vago a descrever uma erupção violenta originada de uma ilha desabitada, datada de 535 ou 536 d.C. (séc. VI – segue um breve spoiler).
        Registros do “inferno do ano 536” apontam o culpado: um vulcão insular na região indonésia. No séc. XX, pesquisa em camadas datadas do séc. VI reforça essa culpa sobre o Krakatoa. Segundo o estudo, a erupção pode ter sido tão violenta quanto a de 1883. Mas ainda não é uma tese unânime.
        A ilha- geólogos apontam que o Krakatoa tenha tido três crateras, pelas descrições da época. Eles indagam se era um vulcão triplo ou único com três crateras. Revelando uma ilha de base larga, os restos possibilitam induzir sobre três vulcões geminados ou um grande vulcão com três crateras.
        Erupção- ocorreu em 27/8/1883, após descrições, desde maio, enxames de terremotos de média magnitude e vapores ocasionais nas crateras, seguidos de um leve período calmo. O que se seguiu foi uma catástrofe nunca antes imaginada e tão rica em descrições e narrativas. As 3 crateras explodiram ao mesmo tempo.
        Da explosão se ergueu uma nuvem a 100 km de altura. Bombas (lava quase sólida) voavam longe e caía densa chuva de cinzas. Das encostas, a 300 km/h, grande fluxo piroclástico desceu e atravessou o mar atingindo povoados principalmente em Java, a dezenas de quilômetros da fonte. Tudo muito rápido e trágico.
        As mortes foram quase instantâneas, por asfixia e por queimadura da tefra (material quente da nuvem e do fluxo). Do fluxo rolavam piroclastos do tamanho de geladeiras e carros. E no mar agitado se formaram tsunamis de até 60 m, segundo descrições, e engoliram povoados até 5 km adentro.
        Os tsunamis arrancaram e espalharam corais em ampla extensão de terra firme. Um farol de 36 m de altura sofreu igual dano. Povoados inteiros desapareceram do mapa. A ilha Krakatoa desabou, só restando três fragmentos íngremes. Em seu lugar emergiram poderosas e quentes nuvens de vapor.
        Atribui-se a essa erupção o som mais alto registrado pelo homem. Tão alto que moradores num raio de 10 km tiveram os tímpanos rompidos, e os sobreviventes, além de surdos, podem ter passado por um trauma sonoro psíquico (não há descrições sobre). O saldo de mortes foi entre 36 e 40 mil.
        Geologia- do desabamento do Krakatoa restou uma enorme caldeira, cujo tampo selou a câmara abaixo. Mas esta se encheu de magma, até que, em 1927 nasceu explosivamente o Anak Krakatau ou Anak Krakatoa, o “filho do Krakatoa”. O Anak é bem ativo, com erupções eventuais; em 2018 causou tsunamis e vítimas. e parte da montanha colapsou, mas aos poucos se recupera.
        A lava viscosa e cheia de gases do pai Krakatoa derivou em rochas como o andesito (rico em cálcio), pedra-pomes e dacito (rico em sílica) com vesículas, revelando o magma primordial quimicamente complexo e de grande contribuição na vastidão e violência extrema da erupção de 1883.
        Com quase 100 anos de idade, a ilha de Anak ainda é menos extensa do que a do Krakatoa. Mas, encaixando-se perfeitamente na crença dos locais, ele nasceu da caldeira que restou, rodeado pelos restos de seu pai. E como o evento mostra que tamanho não é documento, a repetição de 1883 pode ser questão de tempo.

Honga-Tonga

        As ilhas do Pacífico Sul são famosas como paraísos tropicais cinematográficos. Mas, por trás das sedutoras há uma história geológica catastrófica. Como o vulcânico arquipélago de Tonga, que agrega mais de 300 ilhas habitadas. Algumas delas são vulcões ainda ativos.
        Situado ao norte da Nova Zelândia, o arquipélago emergiu por subducção da placa do Pacífico. As fronteiras insulares orientais coincidem com a profunda e ativa fossa de Tonga, cheia de vulcões ativos. No final de 2021 já saíam vapores discretos no mar, e em 15/1/2122 nasce uma nova ilha, Honga-Tonga.
        A ilha- pelo formato, ela se revelou um estratovulcão. Por ser ainda um “bebê” geológico, a ilha é ainda baixa e de encostas pouco íngremes. Mas cresce num ritmo rápido, tal como o Anak Krakatau, de 3 a 4 metros por ano, segundo dados preliminares. Os estudos geológicos sobre a ilha seguem para monitorar a evolução.
        Erupção- Honga-Tonga emergiu a partir de uma erupção violenta, que foi captada por satélites e imediatamente reportada por mídias no mundo inteiro. A erupção explosiva gerou uma densa nuvem que atingiu, segundo medições de satélites, mais de 55 km de altura.
        As sequências das fotos por satélite mostram como a nuvem rapidamente se espalhou, por efeito expansivo do calor. Ela saiu inicialmente clara, revelando grande quantidade de vapor, mas rapidamente se escureceu decorrente da grande quantidade de cinzas e púmice (pedra-pomes).
        Como mostraram as transmissões em vídeos e fotos por satélite, a nuvem se espalhou bastante rápido atingindo uma altura que, segundo estudos posteriores de partículas, chegou a 56 km de altura. O ar expandido pela nuvem junto com a nuvem pode ser percebido nas sequências de satélite.
        A erupção se revelou em seguidas explosões ouvidas em raio de 170 km. Filmada da superfície, se revelou explosiva, com ejeção de fluxo piroclástico abundante o suficiente para causar tsunamis, que por sua vez atingiram Tonga e adjacências a grandes distâncias.
        Efeitos- os efeitos da erupção foram globais. Nos oceanos, os tsunamis se espalharam por ampla parte do Pacífico. Além de Tonga, a Nova Zelândia, a Austrália, as Fiji, Vanuatu e adjacências polinésias foram atingidas pelas ondas. Mas foi em Tonga que houve estragos que ceifaram dezenas de vidas.
        Acalmada a sua erupção, Honga-Tonga teve ligeira queda de sua altura, dado o esvaziamento do magma. Embora ilhas dessa natureza desapareçam após um ou mais novos eventos, é pouco provável esse destino para a ilha em tela devido à atividade tectônica na fossa, com possível realimentação da sua câmara magmática.

        A comparação entre Krakatoa e Honga-Tonga pode parecer ridícula. Mas cabe salientar que o objetivo do artigo foi trazer à luz as variações fenomenológicas sobre os estratovulcões, visto que a mídia tem pautado a erupção tonganesa como “a maior da história”. É um erro, porém, explicável.
        Exemplos ativos recentes, como Merapi, Sinabung e Anak (Indonésia), o filipino Pinatubo, Vulcan del Fuego (Guatemala) e outros ficaram conhecidos por nós graças aos satélites e à internet. As mídias divulgam tendências momentâneas e não se preocupam em explorar os casos pretéritos.
        Por isso, pouco ou nada se sabe aqui sobre erupções mais pretéritas. O Krakatoa já foi explorado no cinema, mas como aí costumam entrar elementos fictícios, muitos de nós passamos a ver o ocorrido como ficção. Isso faz sentido.
        De fato, se nos baseamos nas erupções recentes, a dimensão do caso Krakatoa em 1883 parece mesmo ficção. Mas os estudos geológicos corroboram os registros daquele ano sobre a dimensão daquele fenômeno, indo mais além ao identificar e datar camadas de lava mais distantes, nas ilhas vizinhas.
        O poderoso - e desastroso - terremoto de 26/12/2004 na Indonésia, então bem explorado, nos deu ideia do quão instável é a região e que poderia ter potencializado as atividades vulcânicas posteriores. E, também, nos faz inferir a respeito do poder alcançado pela erupção de 1883.
        Embora as explanações constadas neste artigo apontem a erupção do Honga-Tonga menor do que a do Krakatoa, não devemos subestimar de forma alguma o poder desse vulcão. Ele tem um potencial para erupções mais fortes e gerar, com isso, consequências e danos humanos e ambientais maiores.
        Assim como o Honga-Tonga, o mesmo pode ser aplicado ao “filho do Krakatoa”, que segundo os pesquisadores atuais, tem todo o potencial para repetir a história do seu pai. Mas como já apontado, só o tempo e o comportamento do magma nas profundezas dirão.

Notas da autoria
¹ Mergulho de uma placa mais densa no manto, em encontro com outra mais leve que sobe e dobra.
² Afastamento de duas placas que permitirá, ou não, a formação de um novo oceano e seu leito ao fundo.
³ Espaços na zona intermédia entre crosta e manto, formados por pontos quentes no manto ou falhas de subducção.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=yDRKKXve0Ao (Como nasceu nosso planeta, Krakatoa, o inferno na Terra)
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