Lula
vence no Senado
Este
dia 1 de fevereiro se tornou marcante por dois acontecimentos importantes na política: a
posse de senadores eleitos e reeleitos, e a eleição para a presidência da Casa.
Desde o final de janeiro, todas as mídias focaram nesse tema eleitoral, até
mais do que nas posses dos que entram e repetem a sua passagem.
Inicialmente
eram três candidatos em disputa: Rodrigo Pacheco (PSD), Rogério Marinho (PL) e
Edu Girão (Podemos). Este último desistiu em última hora para dar seu apoio a
Marinho.
Presidente
da Casa nos últimos dois anos, Pacheco concorreu à reeleição. Ex-ministro de
Bolsonaro e de Temer, Marinho se candidatou pela primeira vez. Ambos disputavam
acirradamente a tomada.
O
esforço das mídias nessa eleição fez sentido: o Planalto esteve em atenção
máxima. Lula sabia que o destino de seu governo estava nas mãos do Congresso. Dada
a sua torcida pelo mineiro, o Planalto liberou seus ministros senadores para reforçar
o apoio ao pessedista e votar.
Apesar
do apoio do Planalto, Pacheco não é o nome mais caro aos sentimentos de Lula. Ele
é centrão, e não um progressista. Mas nesse momento o jogo político passa por
cima das afinidades. Nestas se sobressai o aliado Randolfe (Rede), indicado por
Lula para líder do Governo e o petista Rogério Correia líder do PT na casa.
Diante
da falta de outras alternativas, Lula resolveu então apoiar o Centrão contra o
bolsonarismo. Pelo menos Pacheco mantém o rumo político na casa e chancela a
aprovação de medidas prioritárias do Governo. O que, muito provavelmente, seria
praticamente obstruído se a vitória eleitoral fosse para Marinho.
Embora
Pacheco já estivesse em vantagem em número de eleitores, houve guerra nos
bastidores dos partidos. Foi nesse clima que o mineiro venceu o bolsonarismo de
Marinho e gerou alívio ao Planalto. Não era mesmo por menos. E seguem outros
motivos para essa vitória.
Vitória
para além de Lula- como
mencionado acima, a vitória de Rodrigo Pacheco fez com que Lula vencesse
Bolsonaro pela 2ª vez, pois aquietaria os ânimos exaltados típicos dos
seguidores do antecessor. Mas também representou uma vitória para além do
Planalto.
STF- a solidariedade dos parlamentares bolsonaristas
ao agora ex-presidente, reverberando sobre as urnas eletrônicas e impeachment
de ministros do STF, insuflou os bolsominions em protestos e terrorismo, e
também o próprio STF contra eles. Assim, a reeleição significa também o sossego
dos magistrados.
Nação- a derrota do bolsonarismo no senado pode
indicar o aprove de medidas de proteção de grupos culturais vulneráveis, como indígenas,
ribeirinhos, quilombolas e pequenos posseiros rurais; a recuperação do Conab¹, bem
como políticas de educação, saúde e habitação, reforma tributária e outras medidas.
A sanção
dos reajustes salariais de servidores do judiciário e do legislativo favorece o
aprove do degelo salarial e do plano de carreira dos do Executivo, que atendem
as áreas socialmente nevrálgicas, tão necessárias ao desenvolvimento social –
um requisito essencial para a consolidação da democracia.
Notas da autoria
¹ Conselho Nacional de Abastecimento, política responsável pela distribuição de alimentos no país.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=O99rzucNSfM (Eduardo Moreira – Alessandro Vieira
entrevistado pelo ICL)
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Na Câmara,
o oportunismo reeleito
Assim
que entrou, fevereiro nasceu quente: além da posse de deputados estreantes e
reeleitos, e idem entre senadores, houve a eleição para a presidência do Senado
e, de quebra, para a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Como
a eleição para a cúpula das casas teve maior relevância para o governo – e para
a mídia –, tendo hora definida de encerramento, a posse dos entrantes foi
rápida, e mais ainda na Câmara devido ao número maior de parlamentares. E, no
final, tudo se saiu conforme planejado.
Na
Câmara estavam em disputa três candidatos: Arthur Lira (PP-AL) na corrida pela
reeleição, Chico Alencar (PSOL-RJ), personagem da velha guarda da esquerda; e
Marcel van Hatten (Novo-RS), jovem que foi reeleito na esteira do bolsonarismo, e partícipe nas reuniões de financiadores dos protestos bolsominions no ano passado.
Os
números mostraram que o pleito na Câmara já era previsível: Lira não conseguia
disfarçar o sorriso em vários momentos. Van Hatten entrou mais para dar mais
visibilidade ao partido devido ao menor número de cadeiras na nova legislatura.
Já Alencar fez ampla campanha para angariar mais votos da esquerda.
Mas
não teve resultado: Lira foi esmagador ao ser reeleito com um recorde absoluto
de 464 votos. Alencar ficou em segundo, com 21 votos, a maioria destes
naturalmente de seu partido. E Van Hatten teve, por sua vez, 19 votos, entre os
colegas de seu partido e alguns alinhados ao bolsonarismo.
Dubiedade- na era anterior, Lira ganhou uma péssima fama,
à qual seus atos fizeram certo jus. Com ampla barganha do execrável orçamento
secreto, ele sentou sobre os mais de 130 pedidos de impeachment contra
Bolsonaro e favoreceu algumas propostas do então governo.
Pela
barganha, Lira declarou apoio à reeleição de Bolsonaro. Mas a vitória de Lula o
fez guinar para este, condicionando seu apoio ao orçamento secreto. Após o STF
torna-lo inconstitucional, Lira foi chantagear Lula e recebeu resposta: teria
apoio à sua reeleição à presidência da Câmara, desde que haja reciprocidade.
Tal
como Pacheco, Lira é centro-direita. Ex-braço direito de Eduardo Cunha, foi
aluno exemplar nesse mister de barganhar poderes, oscilando conforme o momento
oportuno. E Lula sabe bem disso.
Ainda
que a reeleição de Lira possa de alguma forma ter sido boa para o seu governo,
Lula sabe que não deve confiar nele. Tanto por ter ficado ao lado de Bolsonaro
antes quanto no oportunismo. Mas, também sabe que precisa de Lira, como de
Pacheco, para que haja a governabilidade.
Bem
que Chico Alencar havia avisado, mesmo em outras palavras, sobre quem é Lira.
Mas, pela nossa cultura elitista, política é, antes de tudo, um jogo de
interesses. Mas, em doce sabor da ironia, é sempre um mal necessário.
Para saber mais
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