Lula
vs BC: o mercado financeiro
Nesse
primeiro mês de governo, Lula mostrou que não estava blefando sobre as suas promessas
de gestão. Segundo analistas, em 30 dias ele fez o equivalente a mais da metade
de todo o governo anterior e, por isso, dá sinais positivos de popularidade.
Desafios
impostos pelo governo anterior parecem estimulá-lo a trabalhar mais pesado, na
fase inicial. Como a guerra contra o terror e o garimpo ilegal em terras
indígenas. Já ofertou ajuda de engenharia para o gás de xisto argentino e a
ajuda humanitária à Turquia e Síria, atingidas pelo violento terremoto de 6/2.
Para
tanto, às vezes Lula se impacientou. Com os fatos de 8/1; com a insubordinação
do general Cid sobre os fatos dos bolsominions; com a substituição de nomes
bolsonaristas pelos de confiança na Comissão de Ética do governo; e em discurso
duro durante a posse de Aloizio Mercadante da presidência do BNDES.
Durante
a posse de Mercadante, Lula se pronunciou contra as fake news sobre as ajudas
do BNDES a alguns países e deixou clara sua suspeita de traição do presidente
do BC, Roberto Campos Neto. O presidente da República pensa em substitui-lo por
um nome de confiança que já tem na manga, mas ainda não divulgado.
Só
que a exoneração de Campos Neto esbarra em dupla reação. Uma delas é a
autonomia¹ do BC, que vigora desde 25/2/2021, quando Bolsonaro sancionou PL
pelo qual o próprio PT votou; e a chance de chilique do digníssimo mercado
financeiro, que tem no país um dos seus reféns diletos.
A
crítica de Lula a Campos Neto se deve mais pelas possibilidades atitudinais em
si, que podem indicar tentativa de sabotagem das operações financeiras do
governo. Já o mercado financeiro apoia o presidente do BC, um conhecido
bolsonarista seguidor da doutrina ultraneoliberal de Paulo Guedes.
Ainda
que a grande mídia debata em defesa de Campos Neto, não se vê sentido em manter
a taxa dos juros em 13,5%, a mais alta do mundo, o que impede um padrão ideal
de empregabilidade e de consumo para mover a economia. E Lula quer créditos
para microempresários para gerar empregos.
E
há um detalhe: Campos Neto não tem a visão técnica necessária para dirigir o
BC. Ele é bolsonarista e privatista, e quer manter a citada taxa de juros para
responder aos interesses do mercado financeiro que lucra mais com títulos da
dívida pública. E essa gana em manter tais juros denunciam a possível
sabotagem.
Os
interesses do mercado também são ideológicos – vale lembrar de que o
capitalismo é também um movimento político. Daí a briga entre Lula e o BC de
Campos Neto. Mas o BC continua público e o presidente da República pode
substituir o nome atual pelo de sua confiança na presidência da instituição.
O
que se sabe, finalmente, é que em todos os sentidos, enquanto estiver à frente
do BC, Campos Neto está subordinado ao presidente Lula, e nessa briga toda, o
mercado financeiro dá chilique. Afinal, é o pivô de toda essa querela.
Nota da autoria
¹ autonomia operacional; o BC ainda é uma unidade estatal cuja presidência é indicada pelo presidente da República.
Para saber mais
-
https://revistaforum.com.br/economia/2023/2/7/campos-neto-bolsonarista-presidente-do-banco-central-pode-ser-exonerado-do-cargo-131105.html
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Neoliberalismo:
Guedes x FHC
Vídeo
do canal crítico Desmascarando (Youtube) trouxe à luz fatos relacionados a algo
delicado entre os analistas financeiros brazucas: o neoliberalismo. Segundo o
canal, Fernando Henrique Cardoso foi bem mais neoliberal do que Paulo Guedes. Mas,
em que sentido? Vale análise a seguir.
O
neoliberalismo já foi tratado no blog em suas características funcionais e
influências nos Estados, nas sociedades e no meio ambiente. Quando os grupos
sociais mais abastados sentiram os seus efeitos deletérios já sofridos pela
patuleia, esse sistema seria “substituído” (atenção às aspas) pelo mercado
financeiro.
No
Brasil desigual e elitista, a patuleia soube do neoliberalismo nos anos 1990,
quando Collor e FHC alegraram a grande mídia com a máxima de “substituir a
inoperância do Estado pela eficiência privada”: é a desestatização ou
privatização – o cerne característico funcional do sistema em tela.
Houve
privatização de Collor a Bolsonaro. Só a era FHC vendeu mais de 160 estatais. A
era PT o fez em algumas estradas, portos e aeroportos. Temer privatizou a
logística do Min. Saúde. Na era Bolsonaro, se foi a Eletrobras; por pouco não
foram embora os Correios, BB, Caixa, a Ceasa, a Petrobrás, etc.
Efeitos
deletérios- vários:
maior desemprego, precarização dos serviços; encarecimento de tarifas de
serviços públicos¹; cobranças abusivas ou por serviços não solicitados; agressão
ambiental maior (siderurgia, mineração, obras, especulação imobiliária, etc.),
remoções arbitrárias de áreas públicas cedidas.
Onde
a privatização não chegou houve congelamento salarial dos servidores: em 8 anos
de FHC, mais 2 anos de Temer, mais 4 anos de Bolsonaro, não compensados a
contento nos 13 anos de era petista devido à pressão perversa do mercado
financeiro ávido pelos títulos da dívida pública.
Neoliberalismo
e mercado financeiro- hoje se diz que o mercado financeiro substitui o neoliberalismo por conta dos efeitos já mencionados. Mas, será que são assim tão diferentes?
Se o primeiro se marca na privataria, o segundo está nos investimentos em ações
por pessoas físicas e/ou jurídicas. Mas ambos compartilham da ideologia do
Estado mínimo, da redução de direitos e benefícios sociais e da hipocrisia
ambiental.
FHC
x Guedes- na
verdade, ambos são neoliberais na mesma medida. A diferença é que FHC teve
uma série de vantagens: foi governante por 8 anos após 4 anos como ministro da
Fazenda, foi mais eficiente em esconder seus escândalos de corrupção e teve forte
apoio midiático para privatizar tantas estatais.
Embora
tenha sido menos efetivo, Guedes usou a mesma falta de transparência de FHC na
privataria. Ninguém sabe aonde foram
parar os R$ 30 bi da venda da Eletrobrás e outros tantos obtidos com a entrega
de 22 aeroportos e da maioria das refinarias da Petrobras. E, com esta última, inovou.
Ele
passou grande parcela das ações públicas para acionistas privados estrangeiros,
informando para a grande mídia noticiar, em letras garrafais, lucros
(artificiais) de R$ dezenas de bilhões. Além disso, a Petrobrás havia deixado
de patrocinar eventos culturais, porque estes quase não ocorreram.
Isso
são apenas exemplos do quanto o país perdeu para o capital, sem o devido
retorno. Em todos os governos, mas ninguém se igualou a FHC e Bolsonaro-Guedes,
que têm o mesmo peso na balança.
Notas da autoria
¹
em alguns Estados o fornecimento de água e esgoto e o de eletricidade são feitos
por empresas privadas.
O canal é este:
- https://www.youtube.com/watch?v=UjeWap7xlcg&t=3s (Desmascarando, Bozo tira o sábado para
disparar sequência de mentiras sobre economia)
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A
fome e as prioridades
Conforme
o vice Geraldo Alckmin, ao se deparar com o desmonte das políticas públicas
essenciais pelo governo anterior, “o governo terá que recomeçar do zero”.
Ele declarou isso durante a transição.
Tudo
se traduziu crise social com fome, miséria, desemprego e insegurança alimentar
e habitacional, a afetar mais da metade da população geral, e grave
desassistência aos sertanejos, originários e tradicionais.
O
governo Lula restaurou o Programa de Aquisição de Alimentos de pequenos
produtores familiares; e o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea), extintos pelo governo anterior como parte de uma clara
política de extermínio quase ao molde nazista.
Lula
nunca escondeu que o combate à fome e outros flagelos é prioridade de governo.
Ainda na posse, assinou vários decretos que restauram as várias políticas
públicas, incluindo a do meio ambiente.
Com
a fome e as doenças expressando a crise humanitária nos Yanomami, Lula
recuperou as políticas públicas citadas e assinou decreto da emergência de
saúde indígena do SUS, com reforço de equipe assistencial na Amazônia. Retorna
também o Programa Mais Médicos com os cubanos para atenderem ao vasto sertão.
Essa
linha construída comprova a prioridade do governo em reconstruir o Estado como
o provedor do social, após a política de desmonte do governo anterior. Quem
reage negativamente a tudo isso é o mercado, que vê no presidente bolsonarista
do BC Campos Neto e na grande mídia suas muletas de apoio.
Altos
juros e efeitos deletérios- o Brasil tem juros de 13,5%, os mais altos do mundo.
Já não cola mais a desculpa de estancar a inflação, pois esta continua subindo
– herança da era anterior. Para o mercado financeiro, isso é uma poderosa fonte
de lucros. Mas por outro lado, impede investimentos... do mercado.
Não, não é o mercado financeiro o impedido. Sigamos.
Sustenta-se
a falácia de que o setor produtivo foi substituído pelo financeiro, para justificar
a soma das altas de inflação, juros e dólar, que prejudica o mercado interno. A
verdade: a financeirização econômica no Brasil é um vício alimentado desde a
ditadura, explicando os lucros exorbitantes dos bancos desde então.
Contra-ataque- o plano de Lula para reverter os flagelos acima
citados é fomentar o setor produtivo para gerar empregos e, em consequência,
aquecer o mercado como um todo. É aí que reside a metáfora da picanha com cerveja,
que pode se tornar real se o governo conseguir implantar. E, para atrair o
setor produtivo, é preciso baixar os juros.
Após
repercussão midiática de suas críticas aos juros altos durante a cerimônia de
posse de Mercadante à presidência do BNDES, Lula explicou que a crítica foi aos
juros e não a Campos Neto. Mas sabe que o embate será duro: há outro velho
vício, a submissão dos economistas e da grande mídia ao mimimi mercadológico.
E é
esse vício o pior desafio da política econômica de Lula. E, indiferente ao
mimimi do rentismo, ele está disposto a ir para cima. Ele sabe que o mercado é
sobretudo político, e é aí que pode estar a arma lulista.
Para saber mais
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Paulo
Guedes, o sumido
A nossa
mídia tem chamado larga atenção da patuleia sobre os mais diversos assuntos do
momento desde que Bolsonaro fugiu para os EUA antes de terminar seu cargo. E continua
assim porque realmente há muitos fatos, que agora se voltam às ações do governo
Lula III.
Mas
este artigo se volta para quando a PEC da transição de Lula foi aprovada para
compensar a mal feita LOA 2023 de Bolsonaro. Pois foi nessa ocasião que, estranhamente,
a mídia hegemônica subitamente parou de publicar um nome decantado nas páginas
de economia: o ex-ministro Paulo Guedes.
Até
então, Guedes ocupava as páginas desses jornalões como uma espécie de mentor do
liberalismo rentista que era traduzido pela imprensa como indicativo de investimento
e desenvolvimento através dos lucros bilionários dos bancos e também da Petrobras,
através de sua política desestatizante.
Desde
então, as antigas menções elogiosas ao ex-ministro foram substituídas pela
operação abafa, tal como a ocorrida poucos dias após a divulgação do escândalo Panama
Papers, relativo ao aporte de um grande volume de dólares não declarados para offshores
em paraíso fiscal sendo ainda agente público ativo.
No fim
de janeiro 2023, o ex-ministro da Economia reapareceu na mídia. Segundo a R7 da
Record, ele foi indicado pelo governador de São Paulo Tarcísio de Freitas para
a presidência de um Conselho ligado ao setor de economia no estado de SP.
Mais
do que ser sua área de formação, Guedes aceitou o convite por este ser alinhado
ao sociopático ex-presidente. Guedes se apraz de atuar em governos autoritários,
por saber que estes em geral são neoliberais e, daí, ele se vê à vontade para
impor sua política sem pressão e no mais completo sigilo.
Apesar
de, como ministro, ter fracassado na maior parte das tentativas. O seu “avião” enguiçava
quase sempre que tentava decolar. Bastava ele falar que o motor econômico pifava. (proposital: pifava no lado social em benefício do rentismo).
Mas,
o que mais importou mesmo é saber onde Guedes esteve escondido nesse intervalo.
Pode ter sido no seu investimento nas Ilhas Virgens Britânicas. Ou em outro
paraíso. Se bem que isso é só um detalhe que lhe é de direito – até prova em
contrário – de manter sigilo.
Como
demonstra a mídia online Relatório Reservado, o mais importante para Guedes é que
agora está ainda mais bilionário, fora a acusação de fraude bilionária em
fundos de pensão. E, em tempo, na transição o TCU notou que R$ 1 trilhão “sumiu”
do caixa do Tesouro público sem explicação.
Quem
sabe, Paulo Guedes possa explicar isso aí...
Para saber mais
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