quinta-feira, 6 de abril de 2023

ANÁLISE: As muitas ligações entre Brasil e Cuba

 

                Por muito tempo a falácia dos EUA sobre o suposto comunismo ateu intolerante invocou o terror sobre a maioria dos países ocidentais. Esse terror foi o elemento principal da Guerra Fria (1950-90) imposta pelos EUA para impedir uma suposta onda socialista nas Américas que os estadunidenses julgavam sob seu domínio.
                    Mas tanto terror não impediu que a pequena e paradisíaca ilha de Cuba fosse palco da revolução popular de Fidel Castro que em 1959 tirou do poder o sanguinário Fulgêncio Batista. Os EUA tentaram derrubar o castrismo invadindo a ilha em 1962, mas a intervenção soviética os fustigou e até impediu uma guerra nuclear.
                Durante a fase mais proeminente do regime castrista, o estabelecimento oficial de um Estado ateu, com o fechamento de templos e proibição de manifestações religiosas em público. Foi então que os EUA construíram a famosa paranoia da ameaça comunista que fecharia igrejas na América Latina.
                A partir dos anos 1992, a queda do sovietismo ocasionou um alívio entre os temerosos do comunismo, na suposta libertação das populações antes dominadas. Grupos de extrema-direita então se recuaram na confortável onda democrática capitalista, mas não morreram, observando o crescimento de não cristãos e de ateus sem considerar os fatores não políticos.

Cuba
                Nesta paradisíaca ilha caribenha, por influência direta do sovietismo então pleno, o regime castrista impôs o fechamento de templos e as manifestações religiosas públicas, o que consolidou a crença coletiva ocidental na falácia de Estado ateu totalitário, bem como o ideológico embargo econômico imposto pelos EUA sobre Cuba.
                O embargo apenas reforçou o laço entre os cubanos e Fidel, que estabeleceu uma importante política de saúde, saneamento, educação, segurança e ambiente natural. A ideologia do medo no resto das Américas invocou desinformações sobre a ilha. E uma delas foi a de que os cubanos seriam proibidos de acreditar em Deus.
                Mas, ao contrário do que até hoje os grupos de extrema-direita divulgam, há muito em comum entre nós brasileiros, e os cubanos.

Pontos em comum
                Como o Brasil, Cuba é fruto da colonização ibérica latina católica dominante, com forte miscigenação cultural proporcionada pela presença africana, que como aqui, tem parcela significativa da população cubana. Só que, diferente de nós, em Cuba a herança indígena aruak parece ser quase nula.
                Politicamente, os dois países compartilham a herança mesclada de governos democráticos e ditatoriais, em termos republicanos – mas com diferenças. Se em Cuba a revolução castrista de 1959 depôs o ditador Fulgencio Batista (1952-59), aqui uma ditadura militar golpeou um governo social-democrático.
                Cuba religiosa-  devido à colonização ibérica, que dizimou os nativos aruaks e trouxe importantes levas africanas ocidentais escravizadas, se formou uma herança cultural católica popular, em sincretismo semelhante ao nosso, como Santeria, espiritismo, palo e outros – um sincretismo análogo ao brasileiro.
                Atualmente, em torno de 60% dos cubanos se declaram católicos de fato, enquanto outros são sincréticos populares, ou seja, se manifestam em outras fés, sobretudo africanas. Para completar essa multirreligiosidade, surgem igrejas evangélicas de diferentes denominações, em crescimento gradual de sua população.

Reflexões
                Mesmo não sendo socialista como o castrismo cubano, o retorno de Lula ao poder pode ser visto como quase revolucionário, após o autoritário e desastroso governo Bolsonaro – que também tentou censurar, ilegalmente, numerosas informações ferindo o princípio constitucional da publicidade, e ainda anistiou as ricas denominações evangélicas sob a desculpa de entidades filantrópicas.
                Já na religiosidade, em Cuba se vislumbra um rolo compressor evangélico em ascensão, embora bem mais discreto, e por uma razão bastante forte. Diferentemente daqui, lá o Estado tem mão de ferro para controlá-lo, impedindo segmentos religiosos mais ricos de terem vida política – o que ainda sustenta aquela antiga falácia do Estado ateu proibitivo.
                Com templos fechados, os cubanos manifestavam sua fé privadamente, sem impedimento do governo. O que apenas revelou tal fechamento como uma ordem expressa com objetivo de impedir infiltração de opositores políticos em meio ao coletivo - algo que seria bem difícil nas velhas habitações. E, apesar do autoritarismo nesse ponto, o castrismo revelou uma singular qualidade.
                O suposto ateísmo castrista foi, na prática, plenamente laico. Ao contrário da brasileira, a laicidade cubana é totalmente impermeável aos desejos de possíveis representantes bíblicos. Uma verdadeira lição a ser aprendida pelo Brasil, cuja laicidade porosa quase foi destruída pelos interesses dos políticos pastores.
                Uma lição que se mostra muito válida para nós, que erradamente evitamos melindrar os líderes evangélicos. E que, ao contrário de impedir, reforçaria ainda mais as já profundas ligações entre Brasil e Cuba.

Para saber mais
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