sexta-feira, 14 de abril de 2023

Análise: um velho flagelo com novo perfil

 

           EUA: entre os anos 1990 e 2020, escolas dos EUA têm se tornado frequentes alvos de tiroteios cometidos por atiradores solitários ou em dupla, com várias vítimas fatais e feridas em cada vez. Alguns se notabilizaram, como o massacre de Columbine, com dezenas de mortes, em 1992.
                Há muito tempo o fenômeno tem ocasionado debates acalorados entre especialistas, políticos e a opinião pública estadunidense, o que engrossa com ocasionais tiroteios em massa em templos religiosos durante cultos – o último contra fieis negros, levantando suspeição de autoria de supremacista branco.
                Brasil: no país é conhecida a rotina escolar marcada por agressões verbais e físicas gerando riscos à integridade da comunidade escolar por ser diária. Tiroteios em larga escala ligados a PM e tráfico eram isolados, até em 2011, quando a violência escolar passaria passou a tomar rumo parecido com o dos EUA.
                Por falta de registros anteriores dessa natureza, considera-se a estreia o “massacre do Realengo”, em escola pública no bairro do mesmo nome na zona oeste carioca.
                O protagonista do fato foi Wellington Menezes, de 24 anos e ex-aluno da escola Tasso da Silveira, onde abordou 13 meninas, às quais perguntou se eram virgens. Como 12 delas afirmaram, ele disse que “devem morrer por Deus”, e atirou à queima-roupa matando-as, e se matou atirando na cabeça.
                 Wellington já estava morto quando os PMs chegaram. Investigação da PCERJ descobriu na casa dele anotações nas quais “precisava entregar virgens a Alah” e se suicidar, desejando ser “envolto em pano branco por ser também virgem”. Mas terminou em saco preto e enterrado como indigente.
                 O caso abriu porteiras para o que viria a seguir para engrossar aos poucos uma nefasta estatística: desde então foram 24 ataques, sendo os dois últimos no Norte. De 2022 a 23 foram 7 casos, e no Rio, a cada 10 escolas, sete já foram alvos de pelo menos um ataque de tiroteio.

Autoria

                A autoria é bastante variada. Em áreas tomadas por orcrim’s, pode ser um bandido para mostrar domínio, ou policiais corruptos. Em qualquer local, pode ser um desconhecido. Mas geralmente é aluno ou ex-aluno ou, em menor escala, quem trabalha ou já trabalhou na escola. Em maioria, a autoria tem sido solitária.
                O autor do ataque a machadadas que matou 4 crianças e feriu outras 4 em SC é Luiz Henrique Lima, desconhecido das famílias das vítimas e dos educadores. Mas é conhecido da PM-SC pela conduta pregressa agressiva e perigosa, já tendo esfaqueado o padrasto e um cão, engrossando a ficha corrida.
                O que difere de Wellington, cujos escritos revelaram possível surto psicótico ou delirante, o que depois foi arquivado como fato resolvido, cometido por um insano mental.

Ataque comum ou atentado?

                Essa pergunta nova nos suscita a refletir sobre as motivações ou gatilhos que detonam os ataques finais. As mídias têm chamado os últimos ataques de atentados. Mas vale frisar que todo atentado é um ataque, tentado ou consumado, mas nem todo ataque é atentado.
                Os motivos dos ataques são variados. Surto psicótico do autor drogadito ou não, operações da PM nas comunidades tomadas pelas orcrims, mostra de domínio pelo tráfico ou milícia, ou por lideranças religiosas corruptas a fim de tomar o espaço como templo, policiais corruptos, e até motivos ideológicos.
                O motivo da pergunta acima é o de que as mídias estão usando o termo “atentado”, aplicado aos casos em que houve conotação religiosa e/ou político-religiosa. E, coincidência ou não, nos últimos ataques a escolas, os autores tinham, em seus objetos e redes sociais, alguma relação com o nazismo.

Extrema-direita

                Como sabemos, o nazismo foi o extremo das ideologias de extrema-direita na história sociopolítica geral. E, tomado como crime em grande parte do globo, o nazismo encontrou no Brasil o território fértil para, ao menos, perpetuar e formar uma poderosa herança: o bolsonarismo.
                A evidência dessa relação de Bolsonaro com grupos neonazistas nas redes sociais tem sido notada. O The Intercept Brasil descobriu que os Bolsonaro frequentemente se comunicavam com descendentes de nazistas há 10 anos. No governo de Jair, frases de Joseph Goebbels e colegas eram slogans diários.~
               Vocês devem se perguntar o que tem a ver Bolsonaro, redes neonazistas e ataques nas escolas. Em parte, ela é razoável, pois nem todos têm motivação clara. Mas o atacante de 13 anos portava símbolos do nazismo, e o de Santa Catarina era apoiador de Bolsonaro. E suas convicções eram muito parecidas.
               Segundo várias mídias, o crescimento de núcleos neonazistas foi explosivo entre 2018-2022, acompanhando a entrada de Bolsonaro na corrida eleitoral para a presidência e já no governo, e chegou ao ápice em 2020-21, período coincidente com os maiores índices de popularidade do ex-presidente.
                
Há saída?

                Com o retorno de Lula, foi percebida a queda de novas adesões a esses núcleos, pelo menos desde o final de 2022. A divulgação de sucessivos escândalos de corrupção e outros crimes de Bolsonaro talvez tenha colaborado: foi justamente o “combate à corrupção” que os motivou a apoiá-lo.
                Parece abrir aí uma perspectiva de que o mal possa ser minado pelo investir em educação política. O que pode ser quase impossível: mesmo que os neonazistas sejam presos e os núcleos fechados, o estrago já está feito. E as vítimas mais vulneráveis dele são justamente os jovens.
                Desinformados e sem referência familiar politicamente positiva, eles descarregam sua frustração em amigos, colegas e professores indiferentes ou progressistas. E ainda contam com referências negativas na própria escola: alguns educadores se licenciaram devido à perseguição política de colegas de profissão.
                Mesmo que os núcleos neonazistas sejam fechados e seu pessoal preso, pois mesmo fora do poder e desgastado, Bolsonaro continua influenciando as convicções desse povo. E o problema atinge as escolas: há notícias de perseguição a educadores progressistas, que se licenciam das atividades para se protegerem.
                Governo federal e parlamento pensam em medidas de combate. O ministro Silvio Almeida (DH) defende reconciliar escolas e famílias ferradas no governo anterior, e parlamentares extremistas propõem policiamento ou professores armados, ou seja, a imediata violência como resposta à violência.
                Os políticos se divergem, mas talvez a melhor medida seja a educação política. É difícil e resulta em longo prazo, mas a relação Bolsonaro -nazismo deve ser abordada sem medo, tratando o propósito de espalhar C19, violência e fome entre 2019-22 como análoga à “solução final” de Hitler. Agora, o problema será como aplica-la.

Para saber mais
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tiroteio_em_escolas 
----
                
                
                






                





                

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...