segunda-feira, 8 de maio de 2023

CURTAS 27 - análises (Brennand, PL das fake news, ...)

 

PL das fake News: factoide?

                A Câmara elegeu a urgência da votação de uma proposta de lei (PL) que tem sido muito esperada pelo governo federal e pelo ministro do STF Alexandre de Moraes: a PL 2630 ou das fake news. Tendo sugestões do jurista do STF, o texto original soava como esperança do governo para restringir a circulação de mentiras.
                Mas sopraram os primeiros ciclones após aprove da urgência de votação: Lira permitiu novas apreciações no texto para modificações de última hora, alegrando parte da turma presente. A primeira a se manifestar foi a parte evangélica da bancada da bíblia, composta basicamente de radicais pentecostais e neopentecostais.
                Os pastores e seus discípulos querem a imunidade plena aos debates de enquetes de atualidades durante os cultos. Entendemos que a liberdade religiosa realmente merece proteção, mas como eles mesmos dizem, “o diabo é o pai da mentira” – o que deveria ser seguido nos cultos, dado o seu forte potencial doutrinário.
                O que poderia ser só um detalhe se não houvesse, na corrida eleitoral do ano passado, o absurdo de cultos ao então candidato à reeleição Jair Bolsonaro no lugar da providência divina para contribuir na virada após derrota para Lula no primeiro turno – tudo muito bem pago. Ou seja, eles querem seguir a doutrinação de fiéis com mentiras.
                Mas há outra ventilação desfavorável: a sugestão de retirar da PL a fiscalização das plataformas de redes sociais as agências de checagem na replicação e compartilhamento de notícias. Há outros pontos importantes em matéria da Folha, mas portais especializados em TICs (link abaixo) apontam ser essa PL um tanto problemática.
                A explicação dos portais especializados em TICs se reflete no fato de que, mesmo com as atuais agências de checagem, como UOL Confere, Lupa, Aos Fatos, E-farsas e outros, a velocidade e a extensão do bombardeio de mentiras feitas em tom convicto  são muito maiores e dinâmicas do que a de rastreio das agências disponíveis.
                Para esses portais, a responsabilização das plataformas de redes sociais só se tornará plenamente efetiva se responsabilizar também os usuários com seriedade e firmeza, valendo-se até de intimação policial ou do oficial de justiça na residência dos mesmos.  
                E a autoria deste artigo defende a extensão da intimação sobre religiosos de plantão que porventura lancem mão de matérias e propaganda de caráter político ou político-eleitoral em cultos religiosos, devido ao princípio da laicidade estatal constitucional desde 1891 e hoje efetuado em leis complementares dos Estados e União.
                A julgar pelo andar da carruagem a partir das portas abertas por Lira, o PL das fake News já surge com possibilidade ampla de ser um factoide, que simplesmente pode contribuir para uma circulação mais liberada de falácias, considerada por radicais religiosos e bolsonaristas como “liberdade de expressão”.
                Mas vale saber: as big techs querem difundir o PL 2630 como um perigo, para que seus próprios perigos sejam executados em silêncio até serem donas de todas as pessoas do mundo. E para isso, elas querem uma terra sem lei que as regule. Daí a PL 2630 ser um perigo real. Não para nós, mas para elas e a espetacularização do ódio.

Para saber mais
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/04/relator-cede-e-retira-do-pl-das-fake-news-agencia-para-fiscalizar-plataformas.shtml
https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/politica/audio/2023-04/camara-pode-votar-pl-que-trata-de-fake-news-e-regula-redes-sociais
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/04/pl-das-fake-news-entenda-em-7-pontos-o-que-esta-em-jogo-com-a-regulacao-das-redes-sociais.shtml
https://tecnoblog.net/especiais/por-que-o-pl-das-fake-news-segue-problematico-mesmo-apos-mudancas/
- https://www.tre-pr.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Setembro/e-vedada-a-propaganda-eleitoral-em-bens-de-uso-comum (em templos religiosos)
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Entre os ricaços, um maníaco sexual

                Segundo o canal do Disque Denúncia (180), o número de denúncias de crimes sexuais cometidos principalmente por familiares e companheiros aumentou drasticamente entre 2018 e o início deste ano. Nos relatos denunciosos constam até casos de crianças com deficiência vitimadas.
                Se os familiares e vizinhos são a quase totalidade de autores criminosos sexuais, apontamentos de crimes sexuais brutais cometidos por desconhecidos também têm pontuado e a gravidade ofensiva dos delitos chama a atenção.
                E, assim como os crimes cometidos por familiares e próximos, as denúncias envolvendo desconhecidos – incluindo celebridades de vários ramos do entretenimento – também foram mais frequentes no mesmo período.
                Entre os desconhecidos famosos se encaixam nomes do esporte como o jogador de futebol Daniel Alves e, agora, o técnico Cuca (ambos com riscos em seus contratos), e nomes da teledramaturgia como o talentoso Ricardo Dumont (uma pena), que acabou descreditado em seu meio e banido de atuar. E, na alta roda, se destaca Thiago Brennand.
                O criminoso – Empresário bem-sucedido, de aparência moldada por academia e treino constante de artes marciais e tatuagens se destacando na pele branca (algumas delas de armas de fogo), Thiago Brennand ficou mais famoso por seu histórico criminal e pela arrogante agressividade do que pelo seu sucesso no mundo corporativo.
                Neste artigo não há pretensão alguma de ser preconceituoso, apenas apontar que os desenhos tatuados revelam muito de sua personalidade criminosa. Em sua ficha corrida extensa estão constadas várias denúncias de assédio sexual, estupro, ameaça e cárcere privado.  Uma jovem com deficiência foi xingada.
                Ele ameaçou as vítimas antes de fugir para os Emirados Árabes, país sem acordo de extradição com o Brasil e onde ele se viu à vontade para viver um vidão. Há suspeita de favorecimento por delegada que recebeu as denúncias, mas até o momento não há prova material disso. Segue investigação em sigilo, devido à seriedade do fato.
                Agressivo lutador de jiu-jitsu - A mando da atual delegada escalada para acompanhar o caso, comitiva da PF foi ao país árabe após acordo de extradição. Foi sugerido um policial faixa preta em jiu-jitsu na equipe para contenção física em resistência à prisão. Thiago pratica essa arte marcial.
                A delegada ainda ressalta que a resistência à prisão não é certa, mas provável devido ao caráter do criminoso: "Ele é uma pessoa muito agressiva, muito arrogante, por isso cogitamos irmos bem preparados para reagir, se necessário", disse.
                Desembarque – Como a viagem de volta estava prevista para o dia 28/4, é possível que a esta altura o criminoso e a escolta da PF já tenham desembarcado ou estejam já para chegar e desembarcar. O assédio da imprensa é certo, já que se trata de um empresário bem-sucedido no ramo de entretenimento.
                Dada a têmpera bastante agressiva e arrogante, segundo afirma a delegada escalada pela PF,
Como ele é muito agressivo segundo a delegada responsável, ele virá algemado tanto nos pés quanto nos punhos, visando evitar reação violenta, por conta de sua força física.
                Alívio possível – após tanto tempo enfrentando os traumas impostos pelos crimes sofridos, as vítimas finalmente assistem a esse espetáculo midiático da prisão. Mas este é apenas um primeiro passo.
                Pois cabe salientar que Thiago Brennand volta a um país no qual homens poderosos e célebres tendem a ter seus crimes sexuais praticamente imunes à punição merecida, em decorrência do elitismo cultural comum no meio judicial e do machismo ainda presente nas crônicas policiais.
                Se for efetiva, a condenação do empresário Thiago Brennand será um ponto positivo no conceito da coletividade sobre a justiça brasileira. E para as suas vítimas, um novo passo para superar, dentro do possível, os traumas e conquistar o direito de viver.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=uV6146RlW-M (Investigação Criminal, Os crimes de Thiago Brennand)
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CPI do MST pelo agrobusiness

                Mal se iniciou o governo Lula 3 e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) deu início ao Abril Vermelho, série de atos em ocupações de novas terras consideradas improdutivas ou criadas graças à expansão irregular e silenciosa de novas terras mediante invasões pela “indústria do agro”.
                O Abril Vermelho foi iniciado pelo maior grupo rural organizado um marco de lutas, mas também uma homenagem às vítimas da chacina policial campal no Piauí em abril de 1996, e também ao início da produção de alimentos orgânicos em larga escala graças às cooperativas de agroecologia por assentados.
                A sucessão de ocupações de terras pelo Brasil se deu também em função do surgimento de novas terras de latifúndios, muitas delas surgidas por invasões irregulares de áreas públicas de preservação permanente, algumas delas terras indígenas, o que tem ocorrido sistematicamente a partir de 2016.
                Já foi descrito em artigos anteriores que a grande mídia prefere tratar as ocupações do MST como invasões do que explicar a origem certamente irregular ou uso não social das novas terras latifundiárias, e expor tais invasões do agro como resultado de ações de empresas estrangeiras e brasileiras do setor.
                O crescimento paulatino do MST com sua produção de orgânicos – a maior da América Latina – na verdade incomoda o agrobusiness que tem nos nomes da extrema-direita e do anarcocapitalismo os principais aliados, e com maioria teórica no Congresso.
                Já foi protocolado ao STF o texto da CPI das Invasões de Terras, ou CPI do MST. Os ruralistas a veem como oportunidade para criminalizar o movimento nascido nas terras do Paranaguá no inicio dos anos 1980 – estratégia malograda na ditadura, que no máximo o jogou na clandestinidade.
                Desafios da CPI – Apesar de a grande mídia e o mercado do agrobusiness afirmarem que as incursões do MST sejam na prática invasões de terras particulares, parece haver certa resistência entre boa parte do Congresso, talvez até entre os dois presidentes. Há razões suficientes
                Não se deve subestimar a força da base governista no Congresso, não importando ser menos numerosa do que a junção oposição com independentes. Os governistas podem formar valiosa trincheira a favor do MST, por conta das evidências de que este não tem nada de criminoso. Pelo contrário.
                A oposição tem conhecimento do quão desafiadora será essa CPI do MST: é fato que o MST não só mais produz e comercializa orgânicos, como também doa parte da produção às Cozinhas Solidárias do MTST, movimento urbano liderado pelo psolista Guilherme Boulos que atende aos mais vulneráveis.
                Essa ação social foi relevante durante o auge da pandemia de C19 (2020-21), em contribuição para minimizar os espantosos números da fome no país. Ainda que no fim de 2022 houvesse 33 milhões de famintos, o número extraoficial pode ter sido maior, só não piorando graças à junção MST-MTST.
                O perigo – Entretanto, a vitória ruralista ao fim dessa CPI pode ser uma realidade, graças ao forte lobby do agrobusiness, que ainda tem apoio da bancada evangélica, integrante da feroz base bolsonarista. Mas nessa ótica a possibilidade de vitória é previsível. O buraco é mais embaixo.
                O perigo maior dessa CPI em caso de vitória é a porta aberta para a possível criminalização dos muitos movimentos sociais, em sua maioria ainda pequenos e com alguma divisão interna que os fragiliza de alguma forma.
                Diante dessa possibilidade, vale mais movimento pró-MST quando iniciar essa CPI, que visa atender aos interesses da elite em investir em mais terras – independentemente de serem públicas ou não. A maior revolução será salvaguardar a maior riqueza: a soberania, pela vida do próximo.

Para saber mais
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Contra a PL das fake news, fake news
               
                Enfim, chega o tão esperado trâmite da PL 2630/2023. Sua liberação para a votação ocorreu após a apreciação e revisão de vários pontos e algumas lacunas então existentes pelo governo e pelo Congresso a pedido de youtubers, e em seguida pelo aprove do governo, que antes relutante, agora torce pela sua vitória.
                De autoria do senador Alessandro Vieira (PSDB) e relatoria do deputado Orlando Silva (PCdoB), o PL tem como objetivo central a regulação das big techs de redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram, etc.), buscadores (Google, Bing, etc.) e jornalísticas. Como foi derrotado no marco do saneamento incluindo estatais, o governo torce pela 2630/2023
                Mas, durante a votação do marco do saneamento do governo federal, os parlamentares bolsonaristas na Câmara se aproveitaram do momento após o aprove da PL 2630/2023 pelo Senado, há alguns dias.
                Fakenews – A PL tfoi inspirada pelo inquérito das fake news em mãos do ministro do STF Alexandre de Moraes, o Xandão, mediante denúncias dos partidos de esquerda, alvos de disparos em massa de fakenews nas eleições 2018 e nos atos antidemocráticos de 2020 e 2021 inflados por Bolsonaro e aliados no parlamento.
                Antes das revisões finais do texto, houve nas redes notificações confusas de que a PL em tela implicaria suposta censura que pode prejudicar a divulgação de conteúdos relevantes. O Google postou que “o PL 2630/2023 pode aumentar a confusão sobre o que é verdade ou mentira no Brasil”, sendo “uma ameaça à internet”.
                A ideia causou apreensão entre divulgadores de conteúdos críticos de esquerda e alguns em ciência, mas estes se rapidamente se recompuseram. A entrevista coletiva de Flávio Dino esclarecendo sobre o PL fez o Google recuar e acalmou os influencers críticos: não terá censura.
                Isso contou com a ajuda de noticiosos como o The Intercept Brasil, Leandro Demori (AGrandeGuerra) e outros da linha que denunciaram o abraço das big techs ao bolsonarismo em ofensiva contra o PL. Foram os bolsonaristas os grandes mentores da mentira para desestabilizar o governo e apoiadores influencers.
                Busca de compensação – O apoio público e franco do governo ao PL foi oportuno, com os golpistas desmascarados e os acertos finais. Agora investe pesado pela vitória do texto na Câmara, após a derrota de seu marco do saneamento só porque houve simples adição que propõe a participação não licitada de estatais.
                A derrota foi ruim, mas esperada por um Lula contrário à privataria à qual se sujeitarão as estatais restantes do setor, e após tantas irregularidades e prejuízos decorrentes do entreguismo desenfreado de refinarias, pré-sal e outros escândalos. Ele sabe que nesse ponto a maior parte do congresso é entreguista.
                Como será a regulação? – A apreensão dos influencers críticos foi sobre a lacuna referente ao que será de fato regulado. Foi aí que houve proveito de bolsonaristas e big techs para fakenews. A revisão final do texto foi sugestão dos influencers para esclarecimento do mecanismo e do alvo da regulação.
                A regulação será operada como no exterior, pela responsabilização das plataformas mediante aviso prévio aos usuários sobre a veracidade e o teor das postagens, e não ao sabor ideológico como percebido no Twitter, no qual posts progressistas eram bloqueados e os de apologia à violência, aprovados.
                A falta de regulação das plataformas digitais não só alimenta o viés ideológico antidemocrático como impede a divulgação de informes e conhecimentos socialmente necessários e úteis, afastando usuários contrários à violência e ao caos extremista.
                É essa alimentação do ódio através de fake news e desinformação ideológica que o governo deseja cortar, e a regularização é vista como a solução pertinente e legal, conforme previsto pela CF de 1988., além de já correr em outros países onde as big techs rolam normalmente. Mesmo mal vista por alguns, a regulação é um mal necessário num momento tão crucial de nossas vidas.
 
Para saber mais
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