Nazifascismo
resiste ao inelegível
Nesse
presente junho, o ex-presidente Bolsonaro já jogou a toalha reconhecendo-se no
hall da inelegibilidade. Ou seja, ele perderá os direitos políticos. Para
alguns, a inelegibilidade pode ser o caminho tão esperado para que, pelo menos
em longo prazo, não haja mais um novo Bolsonaro para terminar de destruir o que
resta.
Em
outras palavras, o mais esperado é que, com esse ostracismo tão esperado, o
bolsonarismo, essa versão brazuca e cheia de peculiaridades do nazifascismo
tradicional, possa entrar finalmente em dormência. Ou seja, ele não resistiria
ao impacto desse afastamento político decidido juridicamente.
Acontece
que o termo dormência não significa a morte do nazifascismo bolsonarista. Nem cabe
hipótese plausível aí. Jair Bolsonaro está inevitavelmente fora, pois o TSE
está muito bem articulado para que o desejo popular de 8 anos de ostracismo
político seja finalmente realizado. Mas devemos nos lembrar de que, mesmo fora
de cena, Bolsonaro deixa rastros.
Esses
rastros muito vivos são capitaneados pelos três filhos mais velhos do
ex-presidente. Cada um ao seu modo particular, eles manterão vivo na memória popular
o legado do personagem político que foi o seu pai. Fora os aliados que, na
atual legislatura, desde a sua posse em 1/2/23 vão cumprindo a sua prometida guerra
contra Lula 3.
Graças
aos bolsonaristas, em parte – a outra parte tão importante quanto é Arthur Lira,
o capitão do centrão e monstro da República – que Lula 3 já enfrenta as
primeiras derrotas, mesmo tendo realizado 1/3 das promessas de campanha com a coragem
e determinação que lhe são peculiares e sustentam sua popularidade.
Como
já publicado no blog desde o ano passado, Lula 3 se determinou no risco de derrotar
Bolsonaro para reconstruir o que foi destruído. Mas o maior de todos os seus
desafios será o braço de ferro com o bolsonarismo. Lula certamente governará
até o fim, muita coisa realizará, mas terá o bolsonarismo de nefasta companhia
até o apagar das luzes.
Sal Ross
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Comunicação
mede popularidade
Durante
a corrida eleitoral, Lula enfrentou embate ferrenho. Não com os demais
candidatos que, ainda no 1º turno, o “socavam” com a requentadíssima tese da “corrupção
petista” que sustentou a Lava Jato, mas sim com um Jair Bolsonaro ainda muito
popular apesar de tantos escândalos sobre si.
Inicialmente,
os escândalos de corrupção e outros crimes de Bolsonaro na presidência deram a
Lula a disparada liderança na pré-campanha e no início da corrida eleitoral. Mas
a distância diminuiu aos poucos entre eles, até chegar a menos de 10 pontos.
Havia algo errado aí, mas o que era?
A
equipe de jornalismo do PT notou um problema comunicacional, se empenhou, mas não
foi bem. Os youtubers de esquerda apontaram que se deve investir em comunicação
popular em redes sociais. Lula correu atrás da Frente Ampla para derrotar
Bolsonaro, e se aproximou de André Janones.
Em
entrevistas a telejornais, Lula foi bem e ainda ajudou a melhorar a imagem do
MST entre a grande mídia. Diferente de Bolsonaro, que sustentou mentiras e distorções
e, para segurança própria, os jornalistas evitaram perguntas referentes aos escândalos
de corrupção e crimes durante o governo.
Chamado
para integrar a frente de apoio, André Janones lançou a sua proposta de comunicação
popular em redes sociais (avisadas pelos influenciadores) que o PT acatou. A
solução: Janones popularizou mais a campanha petista em rede desmentindo fakes
dos bolsonaristas, facilitando a eleição de Lula.
Janones
foi essencial à eleição de Lula e contribuiu para desmascarar Bolsonaro para a
Justiça. Mas infelizmente ele não foi aproveitado, pois Lula cedeu à exigência do
União Brasil pelo ministério das Comunicações, daí a nomeação do pífio
Juscelino Filho como ministro.
É possível
que Juscelino Filho não tenha sido o dileto de Lula, mas o UB justificou “idoneidade”.
Enquanto isso, Janones segue como comunicador extraoficial do governo anunciando
os feitos do governo com a eficiência que falta ao ministro, e com ajuda de
Paulo Pimenta da Secom.
Um
dos feitos foi a conclusão da Ferrovia Norte-Sul, que promete reduzir em
40% o valor do frete no país. E apenas a mídia alternativa explica que o
petismo foi quem mais investiu na obra que foi iniciada há 36 anos, na era Sarney.
A ineficiência
comunicacional oficial talvez esteja por trás da ligeira redução da
popularidade do governo. Como, segundo o Ipec, a base mais pobre tenha
apresentado maior contundência nessa queda, o baixo nível de acesso às redes do
governo por esse grupo social pode explicar o fenômeno.
Isso
indica que a ação extraoficial de Janones não substitui a capilaridade da
grande mídia e dos órgãos oficiais de comunicação do governo. Não é ineficiência
da atuação do deputado, mas a falta de investimento no seu potencial para
integrar a equipe do governo no setor.
Vale lembrar, a comunicação e a
popularidade andam de mãos dadas.
Sal Ross
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Traição à vista?
Apesar de ter cumprido
algumas de suas promessas de campanha, o governo Lula tem tido muita dificuldade
na sua relação com o Congresso, em especial a Câmara de Deputados de Arthur
Lira.
Como temos visto, o mais
poderoso nome do PP no Congresso tem influenciado negativamente no destino de algumas
pautas do governo. A vitória inicial do Marco Temporal e o protelamento de
votações importantes pioram a tensão, que para alguns, pode destravar
apreciação de pedidos de impeachment.
E é justamente em pedidos
de impeachment, parece surpreender que um governo de apenas 5 meses completos
de idade já seja alvo de alguns pedidos para a deposição. Especialistas veem
nisso uma nova forma de golpe parlamentar, mas o pior disso é saber que há
governistas entre os assinantes.
Sim. Segundo as mídias,
pelo menos 4 governistas assinaram a favor da deposição do presidente. Para as
mídias mais à esquerda, esses nomes, de partidos de ministros de Lula,
representam uma atitude desleal, de traição ao governo após a frente ampla
formada para uma vitória eleitoral difícil em 2022.
Há quem antes pergunte por
que eles assinaram esse atestado de deslealdade, se certamente até em campanha
eleitoral devem ter se manifestado favoráveis a Lula, dentro da pauta central
da reconstrução nacional.
Embora saibamos que todo
julgamento primário seja uma precipitação, não há como não avaliar a atitude
desses nomes. Eles devem ser cobrados por sua inesperada atitude num momento
tão crucial para a viabilidade governamental.
Mas a possibilidade real de
impeachment fica remota se compararmos aspectos econômicos do período
2015-16, de inflação alta e aumento do desemprego, e o atual momento de
inflação e dólar em queda que facilita o mercado interno. Mas vale apontar
outras possibilidades de incômodo.
Lula disse que não pretende
privatizar nada. Já tirou quatro estatais da lista da privataria, e outras
podem sair também. Lira ambiciona tomar a pasta da Saúde e parlamentares do UB
e PSDB querem a privatização do SUS e dirigir a ANS. É nesse setor tão nevrálgico
que Lula mantém resistência.
Ainda assim, a questão da
privataria ainda é motivo sem peso relevante para movimentar processo de impeachment.
Os interesses de maior relevância se ligam à grana mais gorda de emendas, e a
fúria de Lira tem a ver com o remexer de seus vários processos na Justiça em
mãos do STF.
Resta mesmo a cobrança aos
parlamentares – os governistas que já assinaram e outros que porventura assinem
depois – a explicar seu favorecimento à deposição forçada de Lula. Ou seja, por
que eles traíram a confiança do velho petista. A nossa cultura política tem
seus meandros, mas estes devem ser explicados.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=MgCWy9QNkg8 (O Historiador – partidos de ministros de Lula
têm traído o governo e até assinado pedidos de impeachment).
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A ditadura por trás das
narrativas
Ao receber a visita do
líder venezuelano Nicolás Maduro, Lula fez discurso hospitaleiro no qual disse
que as acusações de ditadura eram “narrativas depreciativas” (de
adversários e da mídia). A grande mídia se rendeu em detalhismo crítico ao
discurso.
O chamado de Lula era para
conversar sobre a extensão do Mercosul para todos os países da América Latina
ou da América do Sul, integrando a Venezuela. A conversa ainda está em curso,
pois parece haver restrição por parte de alguns governos sul-americanos e europeus.
Líder polêmico – Vice-presidente por vários anos, Nicolás Maduro só
aparecia na mídia quando o titular Hugo Chávez se ausentava por problemas de
saúde ou em viagem internacional.
Hugo Chávez fundou uma
versão singular e personalista de socialismo, o chavismo, e mudou o nome
oficial do país para República Bolivariana da Venezuela, em referência
ao bolivarianismo, um ideal simbólico de liberdade relacionado às amarras
diplomáticas dos EUA por motivos econômicos.
Chávez foi tão carismático
entre os venezuelanos quanto Lula é para os brasileiros pobres, pelo potencial
político e governamental. Chávez imortalizou a paráfrase “Socialismo o
muerte”, em referência à “Independência ou morte!” atribuída ao
nosso D. Pedro I.
Em seus dois mandatos
(1999-2013), Chávez melhorou a vida socioeconômica do seu povo e a qualidade
dos serviços públicos essenciais, a despeito das denúncias de corrupção e
antidemocracia. Morreu de câncer em 2013, dando lugar a Nicolás Maduro, que
prometeu continuar o seu legado.
Mas Maduro logo imprimiu
estilo próprio. Foi acusado pelos EUA e outros governos liberais de
aparelhamento institucional, prisão de opositores e censura à imprensa.
Principal sustentáculo dessas acusações, os EUA impuseram sanção econômica à
Venezuela, e daí, severas carências internas.
Carências essas que continuam mesmo que os EUA comprem o petróleo, segundo discursou recentemente o duvidoso Donald Trump, em cuja pessoa já deveríamos aprender a não confiar.
Sanção– A sanção econômica é uma tática da política externa
dos EUA, seguida por vários países alinhados, para enfraquecer
politicamente o governo “inimigo da hegemonia econômica” liderada, claro, pelo dólar estadunidense.
Ao abordar o tema, a grande
mídia brazuca não fala do estado de carência generalizada interna que explode
em fome e conflitos sociopolíticos – os “culpados” pelas carências e a emigração
em massa dos venezuelanos para os países vizinhos.
Agora, o Brasil pode ser o
próximo alvo. Pois propõe expandir o Mercosul a todos os países sul-americanos
para livre transação com moeda uníssona própria e fazer algo análogo com os
BRICS. Um senador republicano dos EUA alardeou a proposta de sanção ao Brasil pela independência ao dólar.
O governo Maduro merece
críticas ao obscurecer sua realidade ao mundo, alimentando a tese de ditadura –
a qual sempre associamos ao sovietismo e seus derivados, ou a governos
militares de extrema-direita como os da América Latina nos anos 1960-80. Uma
noção reduzida e enganosa.
Um governo civil eleito
autoproclamado democrático pode ser, sim, autoritário e autocrático. Ao aplicar
sanção econômica a algum país, o governo dos EUA interfere na multipolaridade da democracia econômica em escala global, interferindo na autodeterminação e equilíbrio
social dos povos.
Os iludidos pelos EUA podem
achar sandice nossa observar o governo estadunidense como ditatorial. Mas isso
é uma realidade inapagável, pois gerou consequências nefastas a outros povos
pelas sanções e pelas deposições de governos à força pela guerra direta. Os EUA
têm postura ditatorial.
A fala de Trump sobre a
compra do petróleo da Venezuela intentou culpar a corrupção de Maduro para explicar
a carência interna do povo venezuelano, ou seja, mente ao excluir a sanção de
que todos sabem devido ao seu caráter global.
Só que o mundo responde a
essa postura: as citadas propostas do Brasil sobre BRICS e Mercosul mais
amplos e sem dólar são recados de que no mundo multipolar não há mais lugar
para um país mandar nos demais. E isso é bom – só que os EUA não vão deixar isso barato. É a ditadura do capital, a pior de todas.
Para saber mais
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Hugo_Ch%C3%A1vez (Hugo Chávez)
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