quinta-feira, 6 de julho de 2023

CURTAS 37 - ANÁLISES (Zanin e o inelegível)

 

Zanin: um garantista conservador

                Indicado pelo presidente Lula, a quem defendeu nos processos judiciais da Lava-Jato, o advogado Cristiano Zanin Martins foi sabatinado pelo Senado e teve um aprove superior a 70%. O que já era esperado, a partir do seu notório saber jurídico e de sua conduta ilibada.
                Mas, por trás desses dois requisitos imprescindíveis para entrar nos tribunais superiores há outro fator: o indício de conduta de um jurista de olhar conservador – como o é a maioria eleita na atual legislatura federal.
                Um dos sinais desse fator se deu pela aproximação de Zanin com lideranças evangélicas, com as quais disse ter concordância em vários pontos. E também durante a sabatina, em temas considerados nevrálgicos para a sociedade.
                Drogas – Zanin disse aos senadores que a questão da droga “é um problema grave que precisa ser combatido”, ainda que não tenha demonstrado abertamente que seja contrário ao uso recreativo de drogas, por exemplo. E aparentemente não deu ideia desse combate.
                Aborto – o tema é sobejamente conhecido por acirrar uma guerra de debate entre grupos opostos em visões morais: entre os que veem a mulher como útero a serviço da sociedade e os que a veem como indivíduo com pleno poder decisório sobre seu corpo e sobre a gravidez.
                Na sabatina, Zanin repetiu o que conversou previamente com lideranças gospels: se disse pessoalmente contra o aborto, mas que não o desconsidera um problema de saúde pública. Nesse tema, ele procurou moderar o tom.
                Marco Temporal – na sabatina, Zanin relembrou que a Constituição reconhece o direito à propriedade, mas também o direito dos povos originários, e que nas discussões vale “sopesar as duas partes para se chegar a um ponto comum em que todos ganham”.
                Apesar do aprove pela Câmara, o Marco Temporal voltará a ser julgado pelo STF sobre o mérito de constitucionalidade. O sopesamento dos temas tratado por Zanin deve considerar o primeiro direito considerando-se o uso social, e o segundo pela intemporalidade originária.
                Garantismo - Outros temas foram explorados, mas não foram tão midiatizados quanto os três acima citados. Se a relevância foi mostrar um jurista conservador em essência, pelo menos ele tem o que Lula tanto preza: o garantismo.
                Vamos ver como se configurará o garantismo. De toda forma, que a Constituição, o povo, o meio ambiente e o Estado sejam os principais contemplados para o ganho.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=I1t8X7LN__Y (Meteoro, com Vladimir Safatle – Zanin se revela na sabatina).
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Inelegível sim, morto não

                Em toda a sua carreira política, Jair Bolsonaro fez o que bem quis, plenamente crente da eficácia do manto da imunidade auferida pelo foro privilegiado dos cargos ocupados. Mas o povo deu seu recado derrotando-o em 30/10, apesar de todas as tentativas de fraude e de golpe.
                Agora sem o foro, Bolsonaro vê a batata judicial esquentar. São processos de mais de 600 crimes em 32 anos de política nos tribunais superiores. Destes, só na presidência são 16 crimes eleitorais, julgados pelo TSE nessa semana. O restante está no STF.
                Os crimes eleitorais são diversos: ameaças reiteradas aos ministros do STF e TSE, mentiras sobre urnas eletrônicas aos embaixadores, povão e empresários, incitação a protestos em quarteis e tentativas de fraude eleitoral e de abolição violenta de Estado democrático de direito (golpe).
                Todos são graves, considerando-se o envolvimento da coletividade contra as eleições estendendo-se ao fomento dos manifestos golpistas, bem como o detrimento da imagem do país na reunião com embaixadores. E, em uma semana, levaram o ex-presidente à condenação.
                Julgamento – o processo no TSE foi uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije), que foi dividida em sessões, uma por dia da semana. Como foram vários crimes, cada destaque foi votado num dia da semana, havendo suspensão da sessão após término da leitura e voto dos votantes.
                Foi um julgamento nervoso, pois em ao menos dois nomes havia a expectativa de solicitar vista, na verdade uma protelação, como já ocorreu com o Marco Temporal que deixa povos originários e tradicionais de cabelo em pé. 
                Mas a partir do voto do relator Benedito Gonçalves, a coisa mudaria de figura. Ele votou pela inelegibilidade de Bolsonaro com discurso memorável. Seguiram nesse voto Carmen Lúcia, André Tavares e Alexandre de Moraes, este último arrasador. Placar: 5x2 Bolsonaro inelegível.
                Agora, o STF – o veredicto desse julgamento abre portas para o julgamento de outros crimes políticos do ex-presidente no STF, desde apologia à violência e ao ódio até os atentados contra a saúde pública e ao meio ambiente, corrupções, abuso de poder político e econômico, etc.
                Como os processos são muitos, o julgamento será mais demorado, e incluirá a tese genocida que será amplamente julgada no Tribunal de Haia, que só aguarda o desfecho aqui. Enquanto isso, a patuleia antibolsonarista comemora.
                Mas não relaxemos – o voto pela inelegibilidade de Bolsonaro já era de certa forma previsto. Mesmo sem aparentar, o TSE atendeu ao clamor popular, estendido ao STF para não anistiar o ex-presidente revelando cansaço com a impunidade aos militares.
                Mas, atenção: Bolsonaro está só inelegível e a cadeia se torna mais provável como destino. Mas ele não está morto. Não por acaso ele meteu os filhos na política e deu cargos a muitos parentes, alguns ainda de pé. E há uma legião de ideólogos seus entre parlamentares, polícias e milicos.
                Como já abordado no blog, o bolsonarismo permanece, tal como os simpáticos nazistas dentro e fora da Alemanha. Parlamentares bolsonaristas tentarão desestabilizar o governo Lula, bem como atacar as instituições democráticas com mentiras ou qualquer outra forma.
                Não por acaso, André Janones propõe a criminalização do bolsonarismo, o que já não combate, mas pode ter efeito inibidor de polícia. Pode parecer medida antidemocrática, mas ela serve justamente para manter o mais difícil e delicado dos regimes: a democracia.

Para saber mais
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