sexta-feira, 21 de julho de 2023

CURTAS 38 - ANÁLISES (censura de Lira, economia x Campos Neto)

 

Lira vs Constituição

                No pós-Cunha, Arthur Lira se tornou o umbigo do Centrão no Congresso e na mídia – na qual as notícias vão além da política. O seu suposto envolvimento em crimes financeiros e de violência misógina ganharam espaço. E ele trabalhou em silêncio como mineiro, mas por sua conveniência.
                Surgiu uma ofensiva judicial contra mídias que mergulharam na anatomia dos crimes com o seu possível envolvimento em crimes financeiros e contra a mulher. Os alvos: Agência Pública e ICL Notícias. A AP faz reportagens investigativas e o ICL as analisa em ótica diversa da usada pela mídia hegemônica.
                A ação deliberada surpreendeu as equipes da A. Pública e do ICL: elas são independentes, têm público crescente atraído pela pauta diferenciada. Daí terem reagido à ação. A Agência Pública reitera o conteúdo baseado em evidências documentais e em entrevistas, e acusa o processo de censura prévia.
                Ação relâmpago – a ofensiva condenou os jornais sem que houvesse o direito ao contraditório e à ampla defesa. Lira contratou advogados com bom trânsito em tribunais superiores.
                No documento do processo eletrônico, o requerente é Lira e a indenização total é de R$ 300 mil, mas há segredo de justiça e a sua íntegra não está acessível, nem mesmo para os “réus”.
                Manifesto – a equipe da A. Pública disse que se disponibilizou para Lira dar sua versão dos fatos, inclusive sobre a denúncia de estupro pela ex-esposa, um crime grave que pode levar à cassação. Mas ele não se manifestou. Eduardo Moreira (ICL) repudiou o caráter inacessível e o valor da indenização.
                Possível acordo – aparentemente, o processo de Lira não alveja a grande mídia, mas as de caráter independente. Mas a mídia hegemônica ocasionalmente matérias investigativas de interesse público. A atual falta de referências sobre os fatos citados nos impede de ir além de mera conjectura.
                Ademais, o objetivo deste artigo é analisar a legalidade da ação judicial movida por Lira.
                Censura vs CF/1988 – a CF/1988 surgiu com mister de consolidar a democracia que, mais do que voto popular, reconhece a participação popular na condução política que inclui cobrar dos seus eleitos as medidas de desenvolvimento e bem-estar e... conduta ilibada.
                Para tanto, segundo a CF/1988, o povo precisa estar bem informado – mister atribuído pelo poder público e pelas mídias. Daí ser prevista como imprescindível pela carta magna a liberdade de imprensa, que havia sido banida durante os anos de chumbo.
                É nesse ponto que se verifica o abuso de poder do protocolante passado à ação judicial em tela, pois configura censura prévia à liberdade de imprensa e de informação.
                Responsabilidade – a imprensa deve informar o público sobre a conduta dos agentes políticos. E como esperado numa democracia, as mídias podem ter diferentes visões do mesmo fato. Todavia, deve-se ter responsabilidade suficiente para evitar divulgar falácias que denunciem um jornalismo antiético.
                Pois, como previsto pela Constituição, a liberdade de imprensa reflete a de pensamento, com suas limitações impostas pelo relativismo: todos merecem igual respeito na expressão de suas visões. Ou seja, toda liberdade de expressão é relativa, pois a absoluta pressupõe se sobrepor, calar o outro.
                Os três poderes constituídos também são mútua e igualmente responsáveis. Portanto, a indigitada ação judicial, ao propor uma censura prévia sem direito ao contraditório e ampla defesa aos processados, se opera irregularmente. Não por acaso, ela não foi adiante. O poderoso Lira perdeu ao menos essa.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=Ckmb9X3vh6E (Meteoro Brasil – O que Lira não quer que você saiba)
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O duelo Governo x Campos Neto

          Nesses últimos tempos, os ventos da economia têm soprado índices positivos, com aumento leve do potencial de consumo das famílias graças à política de queda da inflação e de assistência pró-social do governo, favorecendo o mercado interno. Isso, apesar da insistência do BC em manter juros altos.
            Mas no início dessa semana já sopraram ventos contrários. O PIB reduziu 2%, após crescimento de 4% em 6 meses. A grande mídia não detalhou o fator principal, mas o ministro Haddad sim: juros altos fazem o papel de emperrar a alavanca econômica.
                O responsável – o Brasil é o país com a maior taxa nominal de juros do mundo. Desde 2022, a cifra estava firme em 13,75% anuais fixada pelo Banco Central. Em 2022, um novo nome toma a posse à frente do BC: Roberto Campos Neto, um sujeito na equipe econômica do ex-ministro Paulo Guedes.
                Antes desconhecido em meio entre tantos, Campos Neto é neto do finado Roberto Campos, um economista, diplomata, escritor e político, que no parlamento foi um queridinho da mídia hegemônica e do mercado ao apelidar a Petrobras de Petrossauro durante a defesa pela privataria geral.
                Uma posse discreta – não surpreende, portanto, que Campos Neto tenha puxado o avô na defesa do neoliberalismo mais amplo e profundo, e que, por isso, Guedes o tenha escolhido com esmero para assumir a vaga deixada pelo também neoliberal Ilan Goldfajn, indicado por Temer.
                Só que, diferente de Goldfajn, a posse de Campos Neto foi pouco alardeada pela grande mídia: o viés anarconeoliberal de Guedes gerou a necessária tranquilidade para os seus holofotes iluminarem os momentos da tempestuosa campanha eleitoral de 2022 para o grande público.
                Objetivo escuso – essa discrição foi oportuna para o governo anterior e Campos Neto. Eles puderam colocar seus planos em prática – que agora sabemos: o novo chefe do BC autorizou a exportação de ouro e outros recursos ilegais para alguns países europeus e para a indústria digital asiática.
                Agora na era Lula, novas descobertas podem envolver Campos Neto, como a ordem de censura à entrevista da imprensa a Galípolo, indicado de Haddad a sucedê-lo no BC. Além disso, ele quer privatizar a gestão dos ativos da União, que são a reserva de US$ 380 bilhões legadas pela primeira era PT.
                Desafio – como claramente evidenciado, o objetivo de Campos Neto é continuar às claras o bolsonarismo econômico, desafiando o governo Lula com o fim de sabotá-lo. Seu primeiro ponto veio na citada redução do PIB, e agora quer aumentar o placar quanto aos ativos.
                Foi convocado pelo Legislativo para explicar tais atividades e os objetivos. Mas ele não tem mais deixado dúvidas quanto ao seu caráter, e por isso mesmo já sente esquentar a base de sua fritura. Não é por mau desempenho, apenas. 

Para saber mais
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