sábado, 12 de agosto de 2023

CURTAS 41 -ANÁLISES (vacilos de governo, Silvinei, chacinas policiais)

 

Oscilações governamentais

                Nos primeiros 4 meses, o governo federal tem feito um bom contra-ataque à destruição sistemática fixada pelo governo anterior, usando até o momento todos os meios possíveis de alcance. Revogou vários decretos da era 2019-22, mitigou o desmatamento das áreas florestais e, no possível lançou ofensiva contra a crise indígena.
                Mas algumas coisas aparentemente escaparam à atenção governamental, permitindo o contínuo descaso de alguns. Como a má vontade das FFAA em atender às aldeias indígenas dificultando o combate à crise, e o rolo na Câmara em votar importantes programas de governo. Seguem alguns casos enrolados.
                PL 2630/23 – a regulação da mídia, especialmente online, é uma proposta petista antiga tendo o objetivo de democratizar a informação jornalística por todas as mídias cadastradas. Como o lobby dos grandes grupos é poderoso, surgiu a alternativa PL 2630/2023, popularmente conhecida como PL das fake news.
                Embora não concordemos em alguns aspectos, a PL visa regular as empresas quanto à responsabilidade conjunta delas com usuários nas redes sociais. O governo recuou aos ataques da oposição e das big techs que  acusam uma falsa intenção de censura. Agora não sabemos quando a PL sairá da gaveta.
                Reforma tributária – recuou aos apelos de ruralistas e bíblicos. A primeira obteve isenção nos “veículos de trabalho¹”, e a segunda para entidades de suas igrejas, como emissoras de TV aberta, universidades e escolas confessionais, que salgam nas mensalidades. São isenções bem problemáticas.
                A vitória dos ruralistas pode levar a protestos de trabalhadores de aplicativos, que pagam tributos de seus veículos de trabalho para manterem seu precário ganha-pão. E, por baixo foram incluídos na isenção itens como agrotóxicos e borrifadores portáteis. E algumas igrejas se restringem à arrecadação em cultos, sem filantropia real.
                Para evitar sobretaxação na patuleia, Haddad elaborou PEC que propõe tributação dos super-ricos. É um desafio enorme, pois há vários parlamentares financiados por grandes corporações produtivas e financeiras.
                Manipulações da mídia hegemônica – a grande mídia tem usado mal a sua liberdade legal, prestando desinformação em temas relevantes. Como, por exemplo, acusar o presidente Jean-Paul Prates de dar prejuízo à BR com sua política de preços no mercado interno, e pregar a urgência à reforma administrativa (PEC 32/2019).
                Lançada por Temer, a dolarização encareceu os preços dos combustíveis ao consumidor gerando lucros exorbitantes com auge entre 2020-22. O único objetivo disso foi dar lucro aos acionistas estrangeiros tornando a BR a maior pagadora de dividendos do mundo com grana pública. O governo Lula só corrigiu o desperdício.
                Sobre a PEC 32/2019, houve divulgação em redes sociais de que uma portaria do governo teria findado mais de 4000 cargos de agente administrativo na esfera federal. A falta de fonte direta na pesquisa Google impede a sua comprovação, o que pode significar possível mudança para reestruturação em novos concursos.
                Área ambiental – o governo diminuiu em 60% o ritmo do desmatamento na Amazônia. Seu sucesso se reforça com medidas assinadas por oito países amazônicos visando bom manejo ecológico e mitigação da emissão de carbono na atmosfera. Mas outros biomas seguem em sério risco: a caatinga e o cerrado.
                No MT, o ritmo do agro no cerrado e na sua Amazônia ainda é bolsonarista. Na caatinga (norte de MG e sertão nordestino), somente 8% do total são APPs², enquanto o restante in natura está ameaçado de virar deserto pela investida do agro, da proliferação das poluentes usinas eólicas e até da extração de recursos do subsolo.
                Ozonioterapia – Lula sancionou uma lei que regulamenta a ozonioterapia, um procedimento já usado com finalidades restritas à odontologia e dermatologia. Apesar da polêmica em torno dessa lei, o problema está no risco de algumas clínicas privadas fazerem uso errôneo e antiético do ozônio para aumentar seus lucros.
                É sempre válido relembrar da ozonioterapia retal, um “teste experimental” nazista tornado obrigatório³ com o kit-C19 em clínicas e hospitais de duas operadoras de planos de saúde que participaram do setor paralelo do Min. Saúde, então liderado por Pazuello e outros samangos. O risco de esse método voltar pode ser grande.
                Apontamentos finais – embora as ações do governo sejam passíveis de crítica, vale ressaltar que quem governa não é o PT, e sim uma coalizão pluripartidária de frente ampla que une nomes da esquerda, da direita liberal e até do famigerado Centrão, que impõem certos limites aos programas econômicos do governo.
                Vale salientar, com isso, que o Congresso dominado pelo Centrão (herança de Sarney) diluiu em parte os poderes da presidência da República, apesar de o regime de governo ser presidencial. Isso já desencadeia maior demora nos efeitos de alguns programas de governo já aprovados. Ainda assim há vitórias.
                Entre as vitórias da ala petista se configuram o fim da dolarização dos preços dos combustíveis, mitigação do  desmatamento, política de empregos, acordo trabalhista com empresas de apps, retorno do bolsa-família e a volta dos concursos públicos, em meio ao turbilhão da direita pouco empática aos bônus sociais.
                E, ao contrário do que diz a mídia, Lula não está satisfeito com essas vitórias. Quer mais, mesmo remando contra a maré comandada pelos políticos da oposição e do Centrão, e do lobby mercadológico e da grande mídia.

Notas da autoria
¹ tratores diversos para lavoura e pastagens, aviões para aspergir agroquímicos (proibidos, mas ainda usados).
² áreas ambientais de preservação permanente ou perene, criadas por lei. (o termo é genérico a todo tipo).
³ já abordado no blog, sobre os experimentos em hospitais de empresas de planos de saúde como Prevent Senior e HapVida (CPI da C19)

Para saber mais
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Prisão de Silvinei e bolsonarismo

                Diferentemente da CPI do MST, que se notabiliza no desejo de criminalizar movimentos sociais rurais por intento ideológico, a CPMI do 8/1 está a todo vapor com objetivos mais concretos, desmascarando aos poucos a verdadeira cara do bolsonarismo nas mentiras ou no silêncio dos depoentes.
                Enquanto o interrogatório fervia sobre o ex-MJ e ex-secretário de segurança do DF Anderson Torres na CPMI, que mentia educadamente, a PF agiu como instituição do Estado ao prender Silvinei Vasques, ex-chefe da PRF. A pedido do MJ Flávio Dino, a prisão decorreu de provas materiais de sabotagem nas eleições/2022.
                Deboche preso – servidor da PRF, Silvinei Vasques foi alçado a diretor-geral por Bolsonaro, tornando-se de confiança deste e do ex-ministro da justiça Anderson Torres. Ele foi encarregado de coordenar as operações de blitzes nas estradas de acesso para as cidades em que Lula teve mais de 75% dos votos no primeiro turno.
                O detalhe é que tais provas foram achadas pela PF em duas fontes: documentos protocolares administrativos, e da troca de mensagens de celular entre o militar Mauro Cid (ex-ajudante de ordens de Bolsonaro) e o ex-MJ Anderson Torres – que negou tal comunicação na CPMI do 8/1.
                Na citada CPMI, Silvinei abusou do deboche entremeando seu depoimento com mentiras. Após a descoberta da PF, ele teve que levar seu deboche para atrás das grades – mesmo que a prisão seja provisória e com tornozeleira eletrônica após a determinação de prisão domiciliar, se esta acontecer.
                Do total de presos ligados a Bolsonaro, Silvinei já é o nono preso. Já estão presos Roberto Jefferson, Mauro Cid, Anderson Torres, Sérgio Cordeiro, Ailton Gonçalves, Max Guilherme, Élcio Queiroz – todos envolvidos com o ex-presidente por diferentes motivações.
                As prisões e o futuro do bolsonarismo – a semana de intenso movimento que terminou em várias prisões motiva positivamente uma parcela da patuleia ávida por uma justiça efetiva contra uma organização criminosa que aos poucos se revelou a partir de 2020 – justamente quando se iniciou a pandemia.
                Nada mais natural entre a coletividade do que essa sensação de alívio de que a justiça “age como tem que ser”, e com a qual Bolsonaro também prestará contas. Mesmo que as prisões sejam todas preventivas, inclusive a de Ronnie Lessa, devido à paralisia da investigação. Mas vale destacar ao menos duas ressalvas importantes.
                Primeira ressalva: mesmo preso, Jair Bolsonaro tem seus filhos e muitos próximos na política. E a segunda é que seus apoiadores entre a patuleia são fanáticos que preferem viver uma realidade paralela onde o ex-presidente é a referência do que consideram como caminhos de família, cristandade, moral e verdade.
                Mas por outro lado, assim como aconteceu com o nazismo original, o bolsonarismo não é onipotente e, por isso, sempre conviverá com fatores limitantes como a sociedade e as instituições zeladoras da lei, da República e da democracia. É como uma pessoa estranha se insere em um grupo, e com ele aprende a conviver. Se quiser sobreviver, assim tem que ser.

Sal Ross
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Atrás das chacinas, o governador

                
As chacinas mais recentes protagonizadas pela PM estadual, em São Paulo e no Rio de Janeiro, novamente tomam mais espaço nas mídias. A operação Escudo, que matou 16 pessoas em comunidade no Guarujá (SP), chamou a atenção pública após o governador Tarcísio de Freitas se dizer “extremamente satisfeito” com o “trabalho” da Rota.
                Ele elogia rasgadamente o grupo das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) da PM-SP, que patrulha rotineiramente as ruas das cidades paulistas e aborda situações suspeitas ou claras. Só que dessa vez foi mais longe, a fim de vingar o homicídio de um colega, escolhendo aleatoriamente outra comunidade.
                Repetição – no blog há artigos anteriores sobre o tema, um deles com breve histórico desde os anos 1990. Um flagelo que se repete, criminalizando a pobreza e seus problemas desde tempos idos, recrudescendo com a ditadura militar com a colaboração paralela dos esquadrões da morte, hoje milícias.
                As práticas invocam trauma ou morte seletivamente, com preferência a pobres não-brancos, entre os quais ironicamente muitos policiais nasceram e cresceram, o que demanda debate sobre as causas desse disparate, incluindo o fracasso dos governos sobre requalificação das polícias e, atualmente, com a bolsonarização.
                A bolsonarização fez com que os policiais, mesmo sendo servidores públicos, sejam treinados para desviarem da função de segurança pública para a proteção seletiva das classes mais abastadas, refletida no agravar da violência sobre as comunidades pobres, descambando na constante da letalidade das ditas operações.
                Ressurreição de um velho preconceito – pela lei, as PMs devem fazer ronda, abordagem, apreensão e coerção – teoricamente sem distinção no mosaico social. Sob o mote do combate ao crime, organizado ou não, a historicidade do elitismo se reflete na prática da segregação dos periféricos para a liberdade dos mais abastados.
                Foi assim que, no início da República até os anos 1930, batidas policiais nos morros eram comuns para prender participantes de rodas de samba, lundu, maxixe e choro por sinalizar “vadiagem”, termo penal então válido. Se antes a “vadiagem” era o problema, hoje é a pobreza e os flagelos dominantes – e a sua criminalização pelo elitismo.
                Por trás de tudo – na verdade, há tempo que as práticas exacerbadas das PMs em comunidades têm chamado atenção para o debate público, principalmente no apontamento do fracasso da famosa "guerra contra as drogas" que seria fomentada, segundo os governos, pelo crime organizado.
                A especialista em segurança pública Jaqueline Muniz esteve à frente da Secretaria de Segurança Pública no RJ na era Cabral. Em entrevista de 2019 ao The Intercept Brasil, ao tratar sobre a política do então governador Wilson Witzel de helicóptero, ela disse uma pérola: "quando a polícia atira, atira atrás dela o governador".
                As imagens de felicidade de Witzel, que viralizaram nas redes sociais e geraram debate público acalorado dão pleno sentido à afirmação de Muniz. Então apoiador de Bolsonaro, o ex-governador não conseguiu evitar, apesar da tentativa, a péssima imagem perante os seus críticos sobre a necropolítica em curso.
                Witzel já não está mais na classe política, mas deixou seus pupilos, mesmo sem querer. Cláudio Castro (RJ) e Tarcísio em SP são os dois destaques do momento, mas não são os únicos. O fracassado ideal estadunidense de "guerra às drogas"  continua no mote a disfarçar o comando elitista dos governos no morticínio daqueles que tanto os incomodam.

Para saber mais
- https://apublica.org/2023/08/chacina-no-guaruja-morador-denuncia-que-policiais-apagaram-imagens-em-local-de-morte/
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