sexta-feira, 22 de setembro de 2023

ANÁLISE: Nísia pinica a moral bolsonarista

 
          Bastou o Ministério da Saúde lançar mais novidades na sua Política Nacional de Saúde (PNS) no PAC para enxuricar as bancadas da bíblia e do bolsonarismo puro, que convidaram a ministra da saúde Nísia Trindade para dar explicações sobre os novos dados dessa política.
                A ministra aceitou sem pestanejar, de boas. Mas ao adentrar no salão, sua expressão grave deixava bem claro que não se intimidaria com ameaças e chiliques de todo tipo das bancadas da oposição. Ela já os manjava de cara, e não seria a primeira vez que iria faze-las passar vergonha.
                
Polêmicas e rebates

                A ministra foi convidada pela audiência conjunta das Comissões de Previdência e Saúde da Câmara dos Deputados solicitada por vários parlamentares da oposição. Já manjando as figuras, Nísia expressou na face e no olhar não temer qualquer intimidação pelos bolsonaristas, que partiram ao ataque.
                Vitimismo – Osmar Terra (MDB-RS) criticou a criação de GT interministerial que rastreia supostas desinformações por profissionais de saúde: “eu nunca tinha visto ameaças a profissionais que discordam da opinião do Ministério. Botar o Ministério da Justiça e Segurança Pública e AGU em cima é para intimidar os profissionais”, disse.
                Nísia rebateu com educação, mas firme: “trata-se sistemática e deliberadamente de divulgar mentiras que têm efeitos negativos sobre a saúde e a vida das pessoas. Infelizmente as mentiras são propaladas por pessoas diversas, inclusive profissionais de saúde”. E emendou que isso é um desafio ao setor de comunicação do MS.
                Nísia completou que o combate à desinformação é um desafio necessário à proteção da saúde coletiva, e ainda alfinetou que não será permitida a repetição do problema que caracterizou a política de saúde do governo anterior. Uma alfinetada no bolsonarista.
                Chiliques e rebates – bolsonaristas puros criticaram resoluções da 17ª Conferência Nacional de Saúde, se referindo à “revisão de cartilha de pessoas trans”, “redução do limite de idade para harmonização para 14 anos” e também a “legalização das drogas, do aborto, separa as religiões privilegiando apenas uma religião”.
                Se tais afirmativas foram para atirar, erraram o alvo. Além de explicar as resoluções como legais, a ministra reforçou que apenas aumentou a diversidade da fé popular no mesmo apoio psicológico já realizado por cristãos aos hospitalizados, bem como a maior atuação popular em assuntos pertinentes ao SUS, com recorde participativo das representações da sociedade civil.
                Eles ainda tentaram atirar mais, em emendas parlamentares. A ministra disse que 76% delas passaram por empenho, com pagamento de 46%, em ritmo superior ao do governo passado. Acresceu ainda que no PAC estão previstos R$ 7,4 bi para atenção primária, e aporte de R$ 30,5 bi para todos os setores de atenção do MS.
                A ministra reforçou ainda que há R$ 540 milhões da PNS para pessoas com deficiência para os centros de atendimento e reabilitação, o apoio ao RS sobre os flagelos do ciclone, e reabertura de 321 leitos na saúde federal do RJ. E elogiou os mais de 13 mil profissionais do Programa Mais Médicos em locais distantes.
                Entre elogios e uma resposta dura – nem só de tentativas depreciativas a ministra viveu na audiência. Alguns parlamentares elogiaram a sua atuação à frente do MS, entre eles Sâmia Bonfim, Ana Paula Lima, Lula da Ponte, Rubem Júnior, Guilherme Boulos e outros.
                Foi nessa hora que o bolsonarista Hélio Lopes fez uma pergunta relativa ao aborto e emendou: “deixe nossas crianças em paz”. Mais uma vez a ministra respondeu que a PNS segue diretrizes já observadas no Código Penal, na CF-1988 e na resolução do STF sobre a questão da sexualidade.
                Sâmia se destacou ao responder aos bolsonaristas após a fala de Hélio Lopes. Ela expôs contradições que criminalizam a mulher que aborta sem considerar a complexidade do problema, e condenam a criança nascida que mais tarde comete uma infração qualquer ao defenderem a diminuição da idade penal. Uma fala dura e franca sem permitir argumento dessa oposição.

Reflexões finais

                Em verdade, as polêmicas levantadas pelos bolsonaristas não passam de nova tentativa de desestabilizar o governo federal através da convocação dos ministros que mais seguram as petecas dos temas que lhes são caros, como o espaço a minorias religiosas não cristãs em espaços de saúde e a sexualidade humana.
                Chamadas de mimimi pelos grupos de esquerda, essas polêmicas requentadas se centram também no classismo que desconsidera a dura realidade das classes populares, e no cristofascismo que criminaliza a mulher que se decide sobre o que fazer com seu corpo, tal como a passagem bíblica que figurativamente condena a personagem Lilith, hoje compreendida como símbolo de insubmissão e independência feminina.
                Há de se considerar as contradições do moralismo extremista sobre infância: impedida de ver alguma cena amorosa simples, a criança sem acesso aos eletrônicos e à internet é obrigada a viver um cotidiano de violência na comunidade e na TV, muito embora as com acesso também não tenham hoje cotidiano dos melhores.
                O ambiente familiar e comunitário, bem como a qualidade do acesso às mídias, são também questões de saúde – e com importância muito maior do que os “problemas sexuais” que a guerra cultural da extrema-direita pretende levar às últimas consequências.
                Certíssimas estão Nísia Trindade e parlamentares progressistas – estes últimos campeões de prêmios Congresso em Foco neste setembro, com Sâmia Bonfim e Fabiano Contarato à frente na Câmara e no Senado – que têm pinicado constantemente a moral bolsonarista.

Para saber mais

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