Bastou o Ministério da
Saúde lançar mais novidades na sua Política Nacional de Saúde (PNS) no PAC para
enxuricar as bancadas da bíblia e do bolsonarismo puro, que convidaram a
ministra da saúde Nísia Trindade para dar explicações sobre os novos dados
dessa política.
A ministra aceitou sem
pestanejar, de boas. Mas ao adentrar no salão, sua expressão grave deixava bem
claro que não se intimidaria com ameaças e chiliques de todo tipo das bancadas
da oposição. Ela já os manjava de cara, e não seria a primeira vez que iria
faze-las passar vergonha.
Polêmicas e rebates
A ministra foi convidada pela
audiência conjunta das Comissões de Previdência e Saúde da Câmara dos Deputados
solicitada por vários parlamentares da oposição. Já manjando as figuras, Nísia
expressou na face e no olhar não temer qualquer intimidação pelos bolsonaristas,
que partiram ao ataque.
Vitimismo – Osmar Terra (MDB-RS) criticou a criação de GT
interministerial que rastreia supostas desinformações por profissionais de
saúde: “eu nunca tinha visto ameaças a profissionais que discordam da
opinião do Ministério. Botar o Ministério da Justiça e Segurança Pública e AGU
em cima é para intimidar os profissionais”, disse.
Nísia rebateu com educação, mas firme: “trata-se
sistemática e deliberadamente de divulgar mentiras que têm efeitos negativos
sobre a saúde e a vida das pessoas. Infelizmente as mentiras são propaladas por
pessoas diversas, inclusive profissionais de saúde”. E emendou que isso é
um desafio ao setor de comunicação do MS.
Nísia completou que o combate
à desinformação é um desafio necessário à proteção da saúde coletiva, e ainda
alfinetou que não será permitida a repetição do problema que caracterizou a
política de saúde do governo anterior. Uma alfinetada no bolsonarista.
Chiliques e rebates – bolsonaristas puros criticaram resoluções da 17ª
Conferência Nacional de Saúde, se referindo à “revisão de cartilha de
pessoas trans”, “redução do limite de idade para harmonização para 14
anos” e também a “legalização das drogas, do aborto, separa as religiões
privilegiando apenas uma religião”.
Se tais afirmativas foram
para atirar, erraram o alvo. Além de explicar as resoluções como legais, a
ministra reforçou que apenas aumentou a diversidade da fé popular no mesmo
apoio psicológico já realizado por cristãos aos hospitalizados, bem como a
maior atuação popular em assuntos pertinentes ao SUS, com recorde
participativo das representações da sociedade civil.
Eles ainda tentaram atirar
mais, em emendas parlamentares. A ministra disse que 76% delas passaram por
empenho, com pagamento de 46%, em ritmo superior ao do governo passado.
Acresceu ainda que no PAC estão previstos R$ 7,4 bi para atenção primária, e aporte
de R$ 30,5 bi para todos os setores de atenção do MS.
A ministra reforçou ainda
que há R$ 540 milhões da PNS para pessoas com deficiência para os centros de
atendimento e reabilitação, o apoio ao RS sobre os flagelos do ciclone, e
reabertura de 321 leitos na saúde federal do RJ. E elogiou os mais de 13 mil profissionais
do Programa Mais Médicos em locais distantes.
Entre elogios e uma resposta dura – nem só de tentativas depreciativas a ministra viveu
na audiência. Alguns parlamentares elogiaram a sua atuação à frente do MS,
entre eles Sâmia Bonfim, Ana Paula Lima, Lula da Ponte, Rubem Júnior, Guilherme
Boulos e outros.
Foi nessa hora que o
bolsonarista Hélio Lopes fez uma pergunta relativa ao aborto e emendou: “deixe
nossas crianças em paz”. Mais uma vez a ministra respondeu que a PNS segue
diretrizes já observadas no Código Penal, na CF-1988 e na resolução do STF sobre a questão da sexualidade.
Sâmia se destacou ao
responder aos bolsonaristas após a fala de Hélio Lopes. Ela expôs contradições que criminalizam a mulher
que aborta sem considerar a complexidade do problema, e condenam a criança
nascida que mais tarde comete uma infração qualquer ao defenderem a diminuição
da idade penal. Uma fala dura e franca sem permitir argumento dessa oposição.
Reflexões finais
Em verdade, as polêmicas levantadas pelos bolsonaristas não passam de nova tentativa de desestabilizar o governo federal através da convocação dos ministros que mais seguram as petecas dos temas que lhes são caros, como o espaço a minorias religiosas não cristãs em espaços de saúde e a sexualidade humana.
Chamadas de mimimi pelos grupos de esquerda, essas polêmicas requentadas se centram também no classismo que desconsidera a dura realidade das classes populares, e no cristofascismo que criminaliza a mulher que se decide sobre o que fazer com seu corpo, tal como a passagem bíblica que figurativamente condena a personagem Lilith, hoje compreendida como símbolo de insubmissão e independência feminina.
Há de se considerar as
contradições do moralismo extremista sobre infância: impedida de ver alguma
cena amorosa simples, a criança sem acesso aos eletrônicos e à internet é
obrigada a viver um cotidiano de violência na comunidade e na TV, muito embora
as com acesso também não tenham hoje cotidiano dos melhores.
O ambiente familiar e
comunitário, bem como a qualidade do acesso às mídias, são também questões de
saúde – e com importância muito maior do que os “problemas sexuais” que a
guerra cultural da extrema-direita pretende levar às últimas consequências.
Certíssimas estão Nísia
Trindade e parlamentares progressistas – estes últimos campeões de prêmios
Congresso em Foco neste setembro, com Sâmia Bonfim e Fabiano Contarato à frente na Câmara e no Senado – que
têm pinicado constantemente a moral bolsonarista.
Para saber mais
- https://www.camara.leg.br/noticias/997189-nisia-trindade-rebate-polemicas-e-detalha-investimentos-do-novo-pac-na-saude/
(Agência Câmara de Notícias)
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