sábado, 21 de outubro de 2023

REFLEXÃO: velho conflito, nova politização

 

                Com o Brasil assumindo brevemente a presidência do Conselho da ONU, a guerra Israel-Palestina explode novamente, em meio à guerra russo-ucraniana, à crise humanitária síria e a golpes de Estado africanos.
                Com o cruzamento inédito de informações das mídias online, pormenores antes desconhecidos da guerra vêm à tona e balançam a política brasileira. Prato cheio para uma reflexão analítica sobre politização e terror.
                Das origens à guerra – os brigões descendem de semitas arábicos¹ que migraram para as terras ao redor do Jordão, formando povos diversos em língua, fé e cultura. Com o tempo vieram duas heranças judaicas divisoras da história: o cristianismo e o islamismo, que brigaram muito por Jerusalém, e só pararam após a tornarem sagrada para todos.
                Palestina é o nome dos romanos de parte da antiga Judeia incluindo Jerusalém. Em 1947, a ONU a tornou cidade internacional na criação dos Estados de Israel e da Palestina. Como ninguém ali gostou, surgiu uma guerra que dura até hoje, que nem o falecido Nobel da Paz Yasser Arafat conseguiu dar jeito.
                Momento atual – após uma trégua, Israel deu resposta feroz a um ataque letal da milícia política Hamas a uma rave em Gaza, e o bicho pegou. O Hamas depois assumiu o atentado a um kibutz, e agora a explosão² num hospital batista reverberou em troca de acusações. Agora vazam na rede denúncias de graves violações contra palestinos em Gaza.
                No Brasil das falácias – como a esquerda historicamente defende a causa palestina mesmo sem grande alarde, a oposição se mune de falácias, como a viral “aliança PT-Hamas” para “tocar o terror em Israel”. Resgatados ingratos negam descaradamente a iniciativa pioneira de repatriamento de brasileiros na zona de guerra.
                A explosão no hospital aguça o clima hostil no parlamento. Nessa cortina de fumaça que tenta encobrir ao público o indiciamento de Bolsonaro e caterva no relatório da CPMI do 8/1 e expõe a ideologização religiosa, surge um destaque: o terrorismo – cujo significado é pejorado com distorções.
                Terrorismo – a nossa lei antiterror designa todo atentado contra pessoas ou grupos com única intenção de impor um status quo e eliminar a diferença, tendo o ódio como combustível. Nesse sentido, muita coisa entra aqui.
                Os crimes de Bolsonaro que levaram a mais de 700 mil mortes e as medidas antissociais de Guedes que levaram a desemprego, miséria, fome, deseducação e retorno de doenças mitigadas, bem como lesões a pessoas e patrimônio antes e após as eleições, podem ser todos considerados crimes terroristas.
                O subestimado terror de Israel – a grande imprensa do Ocidente pró-EUA isenta Israel em só considerar o Hamas terrorista. Mas Israel é também terrorista ainda ao usar seu maior poder de fogo sobre os civis palestinos, sem critério algum. E, não importa o responsável, a explosão no hospital é um terror de extrema gravidade.
                Para completar o que os palestinos chamam de Nakba, 2,2 milhões deles estão forçosamente confinados no sul de Gaza, com só 6% do mínimo de água, sem comida e eletricidade. Eles vivem a agonia da morte lenta no maior campo de concentração ao ar livre do planeta, não denunciado de forma alguma pela grande mídia ocidental.
                Outras fontes apontam uma suposta parceria entre Netanyahu e Hamas para manter a guerra visando interesses imperialistas. Por enquanto isso não passa de especulação, mas nada é descartável nesse contexto de guerra híbrida, na qual as redes sociais funcionam como arma de guerra.
                Essas são faces recentes do terror de Israel. A mais antiga e persistente é a invasão crescente de terras da Palestina para construção de condomínios e kibutzes – à custa de vidas perdidas a bala e fogo.
                Antissemitismo – em meio a distorções acusativas sobre a conduta do governo na política externa, se insurge a acusação de antissemitismo, que recai sobre ativistas pró-palestinos que acusam Israel de genocídio. Com exceção dos grupos neonazistas, rotular os pró-palestinos de antissemitas é um erro.
                Eles defendem um povo tão semita quanto o israelense – são povos irmãos, o que dissolve a tese racista do julgamento. Em toda essa guerra de narrativas estão em jogo vidas humanas dos dois lados.
                Vidas principalmente de mulheres e de crianças, que a grande mídia faz questão de destacar as israelenses, como se as vidas palestinas não tivessem o mesmo valor – uma irresponsabilidade jornalística que merecia ser eliminada sobre um assunto tão complexo que foi complicado escrever este texto de forma mais imparcial possível.
                Quanto à ONU, em meio à rejeição de propostas de paz no Conselho de Segurança, ainda falta resolver um velho problema: desde a resolução de 1947, só se reconheceu na prática um Estado, o de Israel. A Palestina tem sido desprezada no cenário geopolítico ocidental, que é hegemônico, apesar da proposta de multipolaridade global.
                É possível que a sonhada paz tenha jeito na região. Talvez o caminho seja reconhecer, finalmente, a Palestina como um Estado, um país-membro, uma pátria de um povo secular. Talvez. Mas é o que ainda falta. Quiçá, dê certo.

Nota da autoria
¹ referente a Sem, descendente de Noé (vide AT bíblico e o Talmud judaico)
² se atribui a um foguete que, na altura, deu ruim e parte caiu e explodiu em hospital, com número incerto de mortes.

Fontes para a reflexão
https://www.intercept.com.br/2023/10/11/sim-este-e-o-11-de-setembro-de-israel/.
https://www.intercept.com.br/2023/10/13/israel-estes-sao-os-maiores-massacres-contra-a-palestina/
https://www.intercept.com.br/2023/10/14/e-o-pt-hein-midia-brasileira-consegue-atacar-lula-ate-quando-fala-de-israel/
Agência Pública – O Hamas como parceiro (newsletter via e-mail)
https://www.intercept.com.br/2023/10/08/israel-palestina-jornalismo-comete-erros-gaza-hamas/
https://www.brasildefato.com.br/2023/10/19/sob-ataque-de-israel-palestinos-na-faixa-de-gaza-vivem-com-6-do-minimo-diario-de-agua-recomendado-pela-onu
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Nota extra: esse texto se centrou basicamente no objetivo proposto de reflexão sobre a politização da guerra pelos brasileiros, e sintetizar o que falam as mídias hegemônica e independente. Quanto à abordagem histórica rasa para fins de resumo de um tema tão complexo, os leitores entendidos no tema podem fazer suas colocações como correção, no que serei grata. Quanto às opiniões, cada um responde pelas suas.
Sal Ross











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